Meu ouvido estava zumbindo e meus olhos estavam pesados. Ao fundo ouvi duas vozes: uma delas era da minha tia Zélia e a outra não cheguei a reconhecer, era a de um homem com a voz firme e grave.
— Pobre coitada! Perdeu o noivo e agora se encontra nessa situação! Este mundo está perdido mesmo.
A voz de minha tia soa com um breve tom de drama e pena. Sentimentos que eu abominava.
— De fato, Sra. Zélia! É admirável que ainda esteja viva, poucos são aqueles que sobrevivem após perder tanto sangue. - o homem diz de maneira calma e controlada. — Mas uma moça como ela não deveria andar por aí, tão tarde da noite.
— É o que sempre digo, Dr. Mas Tonya criou ela como qualquer uma. Minha querida filha jamais sairia assim, ela é tão linda e educada! O Sr. deveria conhecê-la, por que não janta conosco amanhã?
— Agradeço muito o convite, Sra. Zélia! Mas terei de recusar, ainda há muitos detalhes da minha viagem que precisam de minha atenção. Garanto que assim que voltar realizamos este jantar!
Quanta futilidade, nunca tinha confiado muito na tia Zélia. No fim, estava certa em me manter longe. A conversa deles continuava, deveria ter acordado em outra hora.
Minha cabeça queria explodir, eu não reclamaria. Ouço a porta se abrir e um breve silêncio, o som de passos e novamente ela se fecha.
Abro os olhos devagar, o choque da luz em meus olhos é imediato. Estava tudo muito claro e intenso, minha cabeça doía ainda mais.
— Oh, meu deus! A Srta. acordou! — procuro a dona da voz com os olhos, não era necessário falar tão alto. — Como se sente?
— Sede. — era tudo que eu conseguia dizer.
Me sentia fraca e confusa, aparentemente em um hospital. Céus, que confusão!
Me foi explicado que eu fui encontrada a beira da morte em um beco escuro, haviam mais duas pessoas no local. Uma delas havia morrido na hora e a outra chegou ao hospital com vida, porém faleceu após 3 dias. Eu fiquei quase 2 mês em coma, não me lembrava de nada devido ao trauma e a pancadas recebidas na cabeça.
Era tudo muito estranho, minha mente parecia estar em outro mundo. Não tinha reação para isso, restava apenas o medo e o gosto de sangue na boca que parecem nunca sumir.
Não conseguia me lembrar de nada, só me vinham arrepios ao lembrar daquela noite. Já havia se passado um bom tempo, minha recuperação ainda acontecia de maneira lenta, tanto física como psicológica. Passava noites em claro evitando pesadelos ou paralisia do sono. Meu corpo ainda estava fraco e minha perna quebrada, mas segundo o médico era questão de tempo até ficar 100% bem ou algo próximo disso.
Os dias se passavam lentamente, eu passava horas deitada perdida em meus próprios pensamentos. Às vezes ajudava minha mãe no que podia, porém, estava claro que aquilo havia afetado a família por completo. Meus pais passaram a me ignorar, aquilo era um sinal de que havia me tornado um fardo. Solto um breve suspiro deixando o livro que estava lendo em cima da escrivaninha. O longo toque da companhia chamava minha atenção, com a ajuda da muleta consigo sair do quarto e ir até a sala.
Havia um homem e uma moça muito bem vestidos e com o semblante sério, eles foram rápidos em notar minha presença.
— Boa tarde, Srta. Rosewall!
Um deles me cumprimentou. Continuo a me aproximar ficando ao lado de minha mãe, vendo seu sorriso falso..
— Por favor, fiquem a vontade! — ela aponta para o sofá. — Daisy, os dois vieram conversar com você. Por favor, seja educada e os ajude!
Traduzindo: "Tire-os o mais rápido possível da minha casa!".
— Os senhores desejam um café ou água? — ela pergunta antes de se retirar.
— Não será necessário! Muito obrigada, Sra. Rosewall.
A mulher responde de forma educada e serena. Me sento no outro sofá ficando de frente para os dois, minha mãe se retira e então deixo que eles comecem.
— Srta. Rosewall, sou o investigador especial Roman Dellars e esta é a investigadora sênior Felicia Williams. Somos do Departamento de Controle Sobrenatural (DCS). Estamos aqui devido ao incidente ocorrido a 3 meses atrás, nos relatórios está descrito que a Srta. não se recorda de nada...
— DCS? — minha sobrancelha se levanta em questionamento.
A princípio haviam chegado à conclusão de que fora um acerto de contas e para eliminar testemunhas oculares, como nenhuma das vítimas no incidente, inclusive eu, não tínhamos envolvimento com o crime a polícia seguiu essa linha de raciocínio. Porém, bandidos de gangue não matam pessoas sugando sangue, estava claro que estavam encobrindo os vampiros.
— Bem, se tem os relatórios, porque me incomodar? - digo com uma certa frieza. — Não são os primeiros a baterem à nossa porta pedindo por mais informações, já disse tudo o que tinha a dizer.
— Acho que não compreende a situação, há uma pequena possibilidade de que o assassino esteja atrás da Srta. — a Srta. Williams abre sua pasta e tira algumas fotos. — Recebemos essas fotos recentemente, não havia qualquer identificação. A Srta. reconhece esta figura?
As fotos eram minhas e da casa dos meus pais, em todas havia um homem a uma certa distância. Uma mistura de desconforto e medo surgiu pura em meu peito. Droga, engulo em seco enquanto analiso as imagens, não posso ter um minuto de paz?
— Antes que pergunte, deixamos a Srta. sob vigilância caso o autor do crime viesse até a Srta. Qualquer informação que a Srta. tenha pode ser de grande ajuda, tanto para sua segurança como para justiça com a família dos que se foram.
As palavras da Sra. Williams traz à tona a morte injustificada de Lui, faz 1 ano que ele se foi e nada foi feito. Ele foi atacado quando voltava para casa, ele sumiu por longos meses até encontrarem seu corpo no rio Saint River. Enxugo uma lágrima que escapuliu, respiro fundo engolindo o nó na garganta.
— Tudo bem, direi o que me lembro. Espero que realmente possam fazer algo em relação a isso.
— Obrigada, Srta. Rosewall! Sabemos que pode ser difícil reviver os últimos momentos. - o Sr. Dellars sorri gentilmente. — Espero que não tenha problemas, iremos gravar este momento, ok?
Apenas aceno positivamente com a cabeça, ele tirou um gravador de seu terno enquanto a Sra. Williams pegou uma caneta e um bloco de notas. Ambos se preparam, minha mãe traz uma bandeja com café e biscoitos, mas logo se retira.
— Pode começar, a Srta. se lembra do que aconteceu naquele dia? Algo suspeito? — Dellars faz uma pergunta inicial.
Respiro fundo voltando aquele dia.
— Me lembro de poucas coisas sobre aquele dia, a maioria são relances que aparecem em momentos aleatórios. Dias antes me lembro da sensação de estar sendo observada, principalmente a noite quando voltava para casa, algumas noites pedia para que meu pai me buscasse e me recordo de ter ligado para ele naquele dia. Porém, ele teve que visitar minha avó e disse que voltaria mais tarde. — faço uma pausa, levantando o olhar. — Como Ed. e Sally moravam perto pedir para irmos juntos após o trabalho. Conhecia eles a pouco tempo, mas pareciam pessoas boas. Lembro de sentir a mesma sensação de antes, de estar sendo seguida e vigiada.
Sinto um tremor passar pelo meu corpo, aperto minhas mãos contra a perna.
— A Srta. ainda tem essa sensação? — ouço a voz da Sra. Williams.
— Sim, sinto que a qualquer momento ele pode voltar.
Lágrimas caem, sinto meu rosto vermelho e o gosto salgado das lágrimas. Essa insegurança nunca acaba, e não sei se um dia terá um fim.
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dial
VampireUma jornalista depressiva quase perde a vida ao ser atacada por um vampiro na volta para casa, reacendendo diversos traumas e a dor de ter perdido seu noivo. Com a ajuda da sua terapeuta ela faz grandes avanços, porém um novo vizinho de porta tira s...