Finalmente voltaria para o meu apartamento, me sinto muito mais a vontade ao mesmo tempo em que sinto medo. Com certeza é melhor do que lidar com o mau humor da minha mãe, dou sorriso levando minha mala para o meu quarto, estava tudo como havia deixado. Não era um apartamento enorme, Lui ia se mudar para cá após o casamento, tinha uma sala americana, uma suíte e um quarto de hóspedes que ele poderia usar como escritório, um banheiro social, uma varanda e uma área de serviço. Era perfeito para nós, aquele apartamento foi um presente do meu falecido irmão, ele deixou praticamente tudo pra mim após a sua morte.
Pego o vinho que havia comprado no caminho e uma taça, me sento na varanda sentindo a leve brisa de outono. Um brinde a depressão de outono, com muita sorte não serei atacada novamente. Eu devia ter voltado antes para o meu apartamento, o cheiro ainda me lembra o Lui. Suspiro enchendo a taça novamente, preciso me recuperar, a partir de segunda, eu começo.
Encerro sábado com a garrafa de vinho vazia, é bem mais fácil pegar no sono embriagada.
...
Guardo as porções de comida na geladeira, daria para passar a semana sem preparar comida. Ouço um barulho no quarto e a leve sensação de estar sendo observada, sinto um tremor nas pernas, estava paralisada. Merda! Respiro fundo, faço todos os passos que a Dra. Hill me ensinou, isso é só a minha mente tentando me enganar.
— Está tudo bem, Daisy!
Digo a mim mesma, fecho os olhos e foco na respiração. Estava melhorando, até sentir alguém atrás de mim, consigo ouvir sua respiração também. Antes que pudesse me virar, ele me toca começando pelo ombro indo até minha garganta. Sua mão é gélida, meu corpo todo se arrepia, sinto sua mão novamente, mas dessa vez começa pela minha barriga até meus seios. Eu estou em pânico, minha respiração está descompensada, coração acelerado, boca seca...
— M-me solta... — sussurro chorando enquanto ele inclina meu pescoço.
Ele vai me morder, ele vai me morder! Finalmente consigo gritar com todas as forças. Saio correndo até a porta, não penso mais em nada a não ser correr e gritar. No corredor, consigo ver algumas portas se abrindo, pessoas preocupadas e horrorizadas. Desço pela escada de incêndio em desespero, não conseguia parar...
— Precisamos que nos conte o que aconteceu, iremos ajudar no possível. — a voz do tenente é dura, ele põem as mãos na cintura e me encara com um olhar de julgamento.
Molho os lábios antes de falar, tento explicar toda a situação e que havia sim um vampiro na minha casa. Todos sabem da sua existência, mas fingem que eles não existem.
— Srta. Rosewall, soube que passou por uma situação parecida há quase um ano. Não é um trauma fácil de superar, mas pelos nossos registros e investigação da DCS o principal suspeito faleceu a quase 6 meses.
— O que? — pergunto incrédula.
— O DCS deve ter entrado em contato com a Srta. ou com um de seus familiares. Iremos investigar o que houve hoje por desencargo de consciência, espero que se recupere logo de seu trauma. — ele diz dando um sorriso gentil e se retira.
Podem existir babacas gentis, escondo meu rosto entre as mãos. Por que eu não soube de nada? Acho que estou ficando louca, pesadelos e agora aparições. A Dra. Hill vai ficar preocupada, talvez até aumente a dose do meu remédio. Droga! Após verificarem o apartamento, os policiais vão embora. Me jogo na cama pensando em toda essa situação, não posso deixar isso tomar conta de mim. Tenho que sair dessa, não consigo parar de pensar nisso.
Depois de recuperar minhas forças, tomei um banho e tentei focar no trabalho. Sou jornalista do jornal da cidade e tenho uma loja de perfumes em sociedade com a minha melhor amiga, meu emprego no jornal estava por um fio devido ao meu afastamento. Embora tenha controlado muito bem a minha situação até agora, sinto que estou pisando em ovos. Obviamente, não é algo escancarado, mas pequenas palavras e gestos dizem tudo.
Focar no trabalho talvez me ajude a esquecer o que aconteceu hoje, pego um dos vinhos na dispensa, isso vai ser de grande ajuda!
dia seguinte
Acordei com uma ressaca filha da mãe, mas com um artigo pronto. De manhã só revisei e concluí, ainda estava me sentindo mal sobre ontem e não queria sair de casa, porém, infelizmente não quero perder meu emprego. Depois de cumprir as horas de trabalho na sede, teria consulta com a Dra. Hills. Ela me acompanha desde a morte do Lui, ela é compreensiva e prática. Nunca enrola na hora de "mandar a real", ela tinha 1,68 de altura, corpo bem definido (de dar inveja), cabelo ruivo e cheia de sardas, um rosto severo de início, mas ela conseguia ser muito amável.
Já ouvi boatos de que a família dela é extremamente rica e que ela só trabalha para não ficar entediada, nunca consegui ver ela dessa forma. Antes de ir a consulta dou uma passada no apartamento para trocar de roupa e comer alguma coisa, ainda tinha um bom intervalo de tempo, poderia organizar minhas idéias.
O corredor estava uma bagunça, novo vizinho pelo visto. Tento não me preocupar muito quando mudam pessoas novas, mesmo sendo impossível, sempre fico apreensiva, geralmente vão embora em 3 meses, no máximo. Aquele apartamento sempre deu problemas, seja o inquilino ou em sua estrutura própria. A última pessoa que se mudou foi presa depois de 3 semanas, era uma foragida da justiça, o porteiro disse que ela era envolvida com tráfico de sangue.
Tem muita burocracia envolvida quando se tratam de vampiros e humanos, até hoje não sabemos como lidar com isso aparentemente. Espero que não tenhamos problemas dessa vez com o novo vizinho, todo cuidado é pouco.
Ao fechar a porta, olho pelo olho mágico, a porta do vizinho está escancarada. Dá pra ver as caixas e alguns móveis, nada suspeito. Esperei um pouco para ver se conseguia ver alguém, até perceber que estou apenas perdendo meu tempo aqui.
— Tenho que parar com isso. — sussurro para mim mesma.
Me afasto da porta, no mesmo instante uma pancada forte na mesma me assusta. Dou pulo pra trás, sentindo o coração acelerado.
— Desculpa! Foi sem querer!
Alguém diz do outro lado, acho que devo ter gritado. Que inferno! Respiro fundo, tentando recuperar a calma. Odeio sustos. Só preciso me acalmar e começar a me preparar para encontrar a Dra. Hills, só isso.
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dial
VampireUma jornalista depressiva quase perde a vida ao ser atacada por um vampiro na volta para casa, reacendendo diversos traumas e a dor de ter perdido seu noivo. Com a ajuda da sua terapeuta ela faz grandes avanços, porém um novo vizinho de porta tira s...