Entre o Olho e a Lua

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As suaves brisas viajavam ao norte do país de Äpax, o sol iluminava mais um dia de primavera. Shiro Langstaff Balthasar, aos 9 anos, brincava pelas ruas e se deixava cegar pelos cabelos loiros e longos que tapavam sua visão. Novamente se machucava ao correr sobre a calçada de paralelepípedos numa brincadeira com as outras crianças de sua rua. Desacostumado com a nova implementação de pedras e asfalto, ele se queixava para os colegas:

- Que saco! Mais uma vez eu digo pra vocês: eu odeio essa maldita calçada!! Parece que minha sandália foi feita pra se prender entre esses tijolos!

- Pare de retrucar! – provocou Teodor, seu amigo mais próximo – você acha que um soldado tem tempo para reclamar da dor? Volte para a batalha!

Instigado pela provocação do amigo, Shiro se recompôs e pegou na sua espada de madeira e voltou para a batalha. Dentre os gritos de guerra e risadas, sentia-se o cheiro da comida sendo preparada nos movimentados restaurantes da cidade, a hora do almoço trazia os trabalhadores para os mais diversos tipos de pratos oferecidos. Tudo era muito novo com a vinda de novos povos de culturas diferentes que se estabeleceram na grande cidade de Symphas, trazendo uma mistura de raças e idiomas que, por sua vez, davam um novo ar de personalidade para a cidade.

- Pare de ir com tanta força – reclamou Shiro para uma das crianças que o acertava diversos golpes com as pequenas espadas.

- Do jeito que você é, nunca vai entrar para a Academia! – provocou seu oponente, que mais uma vez lhe entregava um "letal" golpe no estômago. Shiro caiu para trás mais uma vez ralando as costas. Era mais um machucado para sua coleção. Por um breve momento Shiro não se levantou, ficou deitado para cima olhando a figura de seu oponente contra a luz que se formava numa intimidadora silhueta, ao ver que a espada de seu inimigo jazia para o ataque final ele só conseguia imaginar que mais uma vez perdia outra luta. Antes que pudesse sentir a madeira raspando sua pele, seu amigo Teodor saltou sobre o outro garoto, salvando a vida de Shiro:

- Ei, isso não vale! – reclamou a criança que se debatia no chão tentando escapar das mãos de Teodor.

- Diga isso para a tirania de seu rei! – Retrucou Teodor, que lançou um forte soco no nariz da criança, deixando escorrer sangue, provavelmente quebrado? Não, Teodor levava essas brincadeiras a sério, mas não tinha força suficiente para partir ossos, ainda.

- Seu maluco! Eu vou contar tudo pro meu pai, você vai ver! – Reclamou o garoto, que saiu correndo da brincadeira enquanto tapava o nariz ensanguentado. Num ato de companheirismo, ele estendeu a mão para Shiro se levantar, que aceitou para mais uma vez voltar para a luta e recebendo do amigo sua espada:

- Vamos, ainda não terminamos!

A vergonha tomava conta, mais uma vez era salvo nessa brincadeira que ele sempre tentara vencer. Inspirado pelo amigo, ele se recompôs para voltar à brincadeira, ou apenas é o que tentaria.

Entre um golpe e outro das espadas de madeira, se ouviu um rapaz chamar por Shiro:

- Baltha! Hora do almoço!

"Baltha". Talvez um apelido dado pelo irmão mais velho ou apenas um vício de linguagem... De qualquer maneira, era assim que por este era chamado.

- Ah! Só mais um pouco, por favor!

- Se vier, eu te levo pra ver o Olho de Zucko se abrindo!

O Olho de Zucko era uma atração vista pela cidade toda que acontecia poucas vezes no ano e que durava alguns segundos. Seduzido pela proposta, Shiro largou a espada de madeira e foi correndo para casa.

- Shiro, seu verme! Como ousa desertar? – retrucou uma das crianças.

- Desculpa, gente. Depois do almoço eu volto!

A Crônica do OdiadoOnde histórias criam vida. Descubra agora