III

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 Então ele parou de ir. Os dias se passavam e o sininho nunca mais avisou a chegada de Iwaizumi, o macchiato nunca teve o destino a ele, e o banquinho esquecido da janela nunca mais foi ocupado, ele tinha parado totalmente de ir. Provavelmente eu havia o assustado, bom, eu também me assustaria, não havia como culpá-lo por aquilo, seria estranho se ele não tivesse achado estranho. Mesmo entendendo, era difícil não ter mais o cliente emburrado, ele era equilíbrio para todas aquelas pessoas sorridente, e por mais que eu o tivesse achado um babaca no começo, só podia perceber agora como ele poderia fazer falta. Algumas das outras pessoas que trabalhavam ali também haviam notado a falta do nosso cliente mais recorrente, por todos esses dias que passavam até formar um mês completo, e então fizeram-se dois meses sem Iwaizume, e então todos começaram a se esquecer: Ele não voltaria mais. Era o que todos pensávamos. 

 Até um dia seu amigo aparecer, com outro amigo de cabelos rosados, e minha língua coçava para não perguntar a eles, mas então eles pediram dois macchiatos e um café preto, talvez eu devesse parar de me intrometer na vida dos outros, mas as palavras saíram mais rápido da minha boca do que as notei.

- Me desculpem perguntar, mas vocês são amigos de Iwaizume, não são? Poderiam me responder se ele está bem? Há um tempo ele não volta... - Falei lhes entregando os copos com as bebidas quentes.

- Ele está bem sim, só muito ocupado com as fisioterapias! - O moreno falou calmamente com um sorriso no rosto.

- Fisioterapias? Aconteceu algo com ele? - Não que eu tivesse muito direito de ficar preocupado sem o conhecer, mas ainda assim não  pude evitar.

- Não, só consultas de rotina e tudo mais, ele já tá acostumado com tudo isso! - O de cabelos rosas falou - Desculpe, moço, temos que ir! Até qualquer dia! - Ele se despediu começando a andar para fora.

 Então Iwaizume não tinha se assustado, só estava ocupado demais... Gostaria muito de saber o que ele tinha, tanto por curiosidade, tanto por preocupação, talvez fosse por isso que ele tivesse as olheiras recorrentes e a cara de cansado, há quanto tempo ele passava por aquilo? Ele sentia dor? O que exatamente ele tinha? Mil perguntas se passavam pela minha cabeça, fazendo-me me esquecer que o outro ainda estava parado ali.

- Caso você queria saber um pouco mais, você pode ir ver ele! - Ele disse debruçado sobre o balcão escrevendo algo em um papel - Ele tá internado no momento, esse é o endereço e o quarto! As vezes ele vai gostar de ver alguém diferente, sei lá... - Deu de ombros me entregando o papel com um sorriso no rosto, antes de escutarmos um "ISSEI" bem alto do lado de fora e ele correr acenando para mim. 

 Fiquei pensando naquilo por longos minutos, até me concentrar demais no trabalho para pensar em outra coisa sem ser moer grãos de café. Quando deu o horário, todos os pensamentos voltaram a minha cabeça, e as duas novas informações: Iwaizume estava doente e também estava internado.  Havia me lembrado o que seu amigo tinha me dito, sobre ir visitá-lo, mas talvez isso não desse certo... Imagine um estranho chegando em seu quarto de hospital? Com certeza era uma péssima ideia... 

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 Eu deveria ter continuado a pensar que era uma péssima ideia, seguido em frente, esquecido dele, mas eu não consegui, algo me puxava de uma forma tão forte que no dia seguinte eu simplesmente não consegui evitar aparecer naquele hospital que tinha fortes cheiros de produto de limpeza, não pude evitar caminhar lentamente até o quarto de Iwaizume com um café em minhas mãos,  aquilo provavelmente era uma péssima ideia e eu sabia disso, mas mesmo assim continuava a me arrastar por aqueles corredores até chegar a porta de seu quarto. Fiquei um tempo apenas o observando, a luz que entrava pela janela batia diretamente em seu rosto e ele permanecia dormindo, mesmo com a luz ali. 

 Quando dei indícios de ir embora, de me arrepender e dar meia volta, ele abriu os olhos e me viu. 

 Me desculpe Iwa, mas eu preferia que você nunca tivesse aberto os olhos nesse dia. 

- Issei disse que você viria... - Fiquei quieto, ainda o observando em total silêncio - eu tinha apostado que não, e agora você me deve vinte reais... - Ele se sentou com certa dificuldade na cama, me encarando. Seus olhos tão escuros que eu tinha certeza de que poderia ser sugado por eles como em um buraco negro, essa foi também a primeira vez que eu notei como Iwaizume parecia estar doente, a pele morena perdendo o tem e as olheiras que só cresciam - Você é surdo? Se senta! Eu perguntei o seu nome! - Sua voz me desconectou de todos os meus pensamentos e eu me aproximei devagar da cadeira ao lado de sua cama.

- Meu nome é Oikawa, Oikawa Tooru... Muito prazer! Hm... Isso é pra você! Macchiato com pouca espuma. - Minha voz saiu em um fio, e eu lhe estendi o café.

- É um prazer! - Ele se estendeu para pegar o café, com um pequeno sorriso no rosto, foi a primeira vez que eu o vi sorrir e foi também a primeira vez que eu vi aquela expressão de dor, que ele logo disfarçou ao se encostar novamente na maca - Macchiato com pouca espuma... é o meu favorito... 

 Eu nunca soube porque você gostava desse café, e quando fui tomar, tanto tempo depois... tinha um gosto amargo, que só você conseguia gostar...

Be mine today, my sunOnde histórias criam vida. Descubra agora