"Eu não sei, mas precisa descobrir."
"Espero que ao menos esse esforço dê resultado, já que os outros não tem dado."
"Deveria ter começado os experimentos, poderia fazer mais pedras centrais com todas as magias." — Muda a direção de nosso assunto.
"E para quê? se somente Estella e eu poderíamos usá-las, não necessitamos de mais que duas."
"Khione, como pode ser tão ingênua ao ponto de pensar que somente nós que emanamos poder?"
"Você própria disse Áster, nunca havia visto ninguém como você e Lilith, ninguém como nós."
"Na época em que descobrimos, de fato não havíamos visto ninguém do nosso jeito, todavia tinha uma razão para isso."
"E qual era?"
"Como sabe, todos os reinos tinham e ainda tem medo de algo que mostra ser mais poderoso do que eles, achei um verdadeiro milagre não terem arrumado algum jeito de eliminar Lilith e eu quando descobriram o que podíamos fazer." — O vento gelado sopra contra minha pele, está cada vez mais frio, então decido que não é inteligente ficar aqui por mais tempo. Me levanto seguindo até às portas do palácio, adentrando rapidamente. Por algum motivo meu corpo está fraco, minha visão embaçada e minha respiração ofegante.
"Então acredita que possa haver mais de nós? Espalhados por aí?" — Digo tentando disfarçar meu estado para que Áster não perceba. Subo lentamente os lances de escadas até meu quarto, nunca desejei tanto que em Elphia existisse um elevador. Nem cogito usar minhas asas pois me custaria ainda mais energia, então sigo lentamente até o último degrau.
"Acredito."
"Acho que Psyche também sabe disso."
"Por que achas?"
"Qual seria o motivo de ela querer tanto esses fragmentos sendo que não seria capaz de usar? Aquele demônio é muito mais esperto e sabe de muito mais coisas do que imaginamos."
"Faz sentido. Mas ela poderia querê-los somente por achar que se tratam somente das pedras centrais angelical e demoníaca. Se fossem isso já a ajudariam imensamente. Os demônios são seres poderosos, ninguém pode negar esse fato, suas magias são complexas e as vezes incompreensíveis."
"Espero que ela acredite que sejam fragmentos comuns, por que caso contrário virá com toda força que tem para tomá-los de nossa posse." — Deito em minha cama exausta pelo percurso que normalmente faço em questão de segundos.
"Não há como ela saber, somente Lilith e eu sabíamos disso, agora você e seus amigos também sabem, somente vocês."
"Houve uma traidora em nosso meio uma vez, e não a notamos, pode haver outra novamente."
"Khione, pare de tentar se convencer de que a Mykal não é uma boa mística somente pelo fato isolado e errôneo de ter matado Uriel. Todos cometemos erros, o dela foi terrível, sabemos, mas a vampira foi obrigada a fazer aquilo."
"Não estou tentando me convencer, só estou dizendo que pode ser ela, assim como pode ser qualquer um dos outros."
"Claro, em nenhuma hipótese você estaria tentando colocar tudo de ruim que exista e esteja acontecendo em cima dos ombros de Mykal para tentar odiá-la por que não quer amá-la depois do que fez. Você não consegue deixar de querê-la." — Antes que eu possa retrucar o argumento de Áster, Estella aprece esmurrando a porta, quase a jogando ao chão.
— Khione? — Me procura no quarto mesmo que eu esteja em sua frente.
— Estou bem aqui. Por que toda essa agitação?
— Temos que sair do castelo, rápido! — Exclama começando a correr, e quando não ouve meus passos atrás dela para. — O que está esperando? É urgente, saia do castelo, agora!
— Tudo bem. — Mesmo não entendendo o motivo, vejo que a situação é realmente urgente, pois caso contrário Estella não estaria tão alterada. Sigo atrás dela, em passos lentos, tento bater minhas asas para conseguir chegar mais depressa ao lado de fora. Quando enfim chegamos, todos hospedados no castelo já estão ali. — O que está acontecendo?
— Veneno. — Kastian responde tossindo.
— Veneno?
— Algo está liberando um gás totalmente tóxico no castelo inteiro. — Olho em meio os místicos a procura de Mykal, ela está recostada em um dos bancos com uma grande dificuldade para respirar, assim como Alexander, que está sentado no chão ao seu lado. Corro o olhar a procura de Lyssa e ela aparenta ser a única a estar bem.
— Sabe de onde está vindo? — Indago recuperando o fôlego pelo esforço de chegar até aqui.
— Sem dúvidas da ventilação do palácio.
— A única que está bem é sua querida irmã Kastian, por que será? — Mykal se esforça para falar, sinto que está com dor pela dificuldade de respirar.
— Se conhecesse mais de outras espécies além da sua, vampira deserdada, saberia que fadas são imunes a qualquer tipo de veneno. — Lyssa cerra os dentes ao dar a informação.
— Muito conveniente. — Mykal retruca e se cala.
— O que me torna capaz de ir onde quer que seja que esse veneno esteja sendo liberado, e desativá-lo.
— Tem certeza que pode fazer isso Lyssa? Não te prejudicará em nada? — Pergunto um tanto preocupada.
— Tenho certeza, não se preocupe. — Ela diz e ouço Mykal dar uma pequena risada. Lyssa a olha com desdém e entra novamente no castelo enquanto esperamos ao lado de fora.
Sigo até Mykal para ver como ela está.— Está melhor? — Sento ao seu lado.
— Sim raio de sol, o veneno deve ter se dissipado de minhas veias.
— Isso é um bom sinal, significa que não haverão sequelas.
— Devo desculpas a Lyssa. — Diz envergonhada. — Deixei que meus sentimentos interferissem em meu julgamento, mesmo sabendo que fadas são imunes a veneno.
— Sentimentos não, seus ciúmes. — Alexander fala rindo e a vampira lhe dirige um olhar fulminante.
— Está gelado demais para as crianças, acredito ter casas ainda vazias em nossa floresta, podemos ocupá-las por uma noite. As crianças demônios estão tremendo por estarem sem agasalhos, se agarram aos braços dos pais tentando se aquecer, mas está frio demais para isso.
— Lyssa deve desativar o gás em breve, poderemos voltar para o palacete ainda hoje. — Demir diz. Ele está abraçado a Meliorne, finalmente devem ter se resolvido, e fico feliz por isso, foi mais rápido do que imaginei.
— Mesmo assim não será seguro voltar para o espaço contaminado. O gás ainda não deve ter se dispersado, pode nos envenenar novamente. — A rainha nos guia até uma fileira de casebres, iluminados por pequenas lâmpadas de vagalumes, não há muitos então teremos que dividi-los. O grupo de demônios que trouxemos da floresta de Faleias ocupa três deles, Demir e Meliorne outro, Kastian e Estella mais um, Mykal e Alexander o penúltimo, até que sobre somente o meu, que aparentemente dividirei com Lyssa. Todos entram em suas casas temporárias, e eu resolvo inspecionar a minha.
Entro pela alta porta, dando de frente com uma cozinha impecável, alguns itens que não reconheço, mas ainda assim belíssima. Andando a diante vejo o quarto, uma bela cama de casal, com espaço suficiente para mim e para Lyssa e o fato de só existir uma cama definitivamente não é um problema. As luzes são apagadas e sei que foram dormir, quero esperar por Lyssa, quero ficar acordada até que volte para ter certeza de que está bem, mas o sono toma conta de meu ser e cochilo como um bebê recém-nascido acordando somente quando ela entra.— Ah, você já está dormindo. — Diz baixinho por não saber que já estou desperta. — Eu sei que ainda gosta dela, porém é bom pensar que talvez possa esquecê-la comigo. Você é encantadora Khione, e merece alguém que te valorize e veja o quão incrível és, pretendo fazer isso, pretendo mostrá-la que vale a pena confiar em alguém novamente. Prometo não desapontá-la. — Diz deitando de frente para mim, sei que está me observando, decorando cada detalhe de meu rosto como se eu pudesse sumir a qualquer minuto. E novamente aos poucos, sinto que posso confiar e me entregar a outro alguém.
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Eras: Novas Origens
Fantasy(LGBTQA+) Khione é uma mulher de vinte anos, com muitos traumas e um passado doloroso que acaba de se mudar para New York, deixando para trás o avô, a mãe e uma história toda da qual ela ainda não sabe que faz parte, heranças passadas de pai para fi...