Único

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N/A: Olá! Essa é mais uma das minhas muitas oneshots destiel, dessa vez com uma temática voltada ao angst, então se você quer chorar um pouco... Essa é a fic certa.

~

O silêncio no bunker só se tornou ainda mais denso, mais palpável e mais pesado com aquela entrega. Uma carta, destinada a Dean.

Os irmãos não precisavam se perguntar de quem era, uma única pena amarrada ao papel entregava o remetente. A pessoa cujo o nome havia sido proibido pelo mais velho, que ainda sofria com o luto mesmo que já houvessem se passado semanas. Sam murmurou uma desculpa para poder sair de casa, queria dar todo o espaço que Dean precisasse, e ele precisava.

Dean queria muito fingir que aquilo não era simplesmente torcer a faca, ou que conseguiria ler a carta sem ter uma recaída. Demorou cerca de vinte minutos apenas para tocar o papel, e mais alguns minutos antes de abrir o envelope e puxar a folha de papel rabiscada com a caligrafia familiar. A pena branca caiu no chão junto com o cordão que a amarrava. Os olhos do Winchester já queimavam antes mesmo de ler a primeira palavra.


"Você não sabe, quantas vezes eu quis dizer que amava você. Quantas vezes ensaiei isso, mesmo sabendo que não chegaria a falar, não até o último momento. Porque eu sei que não me ama da mesma forma, Dean. Você gosta da minha companhia, e gosta de mim, mas não da forma que eu desejo. E eu cometi todos os erros que apenas te empurraram para longe de mim e continuei cometendo até não saber por onde começar a reconstruir a ponte frágil que construímos.

Não sabe quantas vezes eu me peguei pensando nos seus olhos, ou na sua voz, em você, enquanto não podia dormir a noite. Ou quantas vezes desejei poder dormir para poder sonhar com você. Amizade, lealdade, amor. Tudo pareceu se tornar o mesmo. E eu entendo você não sentir as coisas como eu sinto. Ainda é (era) doloroso não poder ser o que você queria, mas guardei cada lembrança como se fosse um bem precioso.

Em milênios, foi você. Foi você quem me mostrou uma coisa que acredito ter nascido para ver. Ressignificou toda a minha existência, não porque você era a minha vida, mas porque me ensinou a sentir, a amar a humanidade.

Foram tantas as vezes que imaginei como seria beija-lo que se qualquer uma das mulheres que já o fizeram soubessem... Elas provavelmente se sentiriam as pessoas mais sortudas do universo. E eu briguei, matei e provoquei tantas coisas para poder ficar ao seu lado, e ao de Sam, que não havia outro caminho senão considerar ambos minha família, meus amigos... As pessoas por quem eu morreria sem hesitar.

Eu sei que dizer adeus e confessar meus sentimentos nunca seria uma boa ideia, mas espero ter feito isso. Eu amo você. Sempre foi você. Então por favor, se puder, esqueça. Eu não quero perder o que tivemos, não quero que pense que poderia ter sido de outra forma. Continue como sempre foi, mesmo antes de mim. Meu maior desejo é que seja feliz, que tenha a oportunidade de fazer isso, de ter tudo que sempre sonhou.

Eu queria dizer tantas coisas mais. Eu queria estar aí, mas creio que não seja esse o intuito da carta. Quando soube que o vazio me levaria, quis me certificar de dar um ponto final a isso, porque eu não poderia partir de novo sem conseguir fazer você saber. Você precisava saber. E mais que tudo, eu precisava que você soubesse.

Se puder, faça uma coisa que sempre fez por mim; ore, chame meu nome mais uma vez. Sei que é um desejo egoísta, mas só mais uma vez. Não sei onde vou estar, mas espero que – se houver alguma forma, algum milagre no universo – espero poder ouvir sua voz mais uma vez.

Me perdoe por ser um anjo tão ruim. Eu amo você, de novo e de novo.

Cas."


Dean quis amassar o papel nas mãos, rasgá-lo. Quis destruir cada parte do bunker e atear fogo às memórias, mas aquilo era, provavelmente, o mais perto de Castiel que poderia ficar agora. E ele não podia se permitir viver sem isso. Era a voz de Cas ali, as palavras dele, o mais próximo do que um dia o anjo já foi. Era uma das poucas coisas que podia tocar, algo para além das lembranças que o cercavam noite e dia.


~-~-~


Não havia corpo para enterrar, mas Dean precisava de um lugar para ir quando precisasse encontrar com seu anjo. Precisava sentir que podia, de alguma forma, estar mais perto, mesmo que não houvesse forma disso acontecer. Cas não estava ali. Nunca estaria. Mesmo assim, deixou a carta sobre o túmulo, havia levado anos para conseguir escrevê-la, anos em que, todas as vezes, as palavras pareciam muito pouco. E ainda pareciam, mas era um tributo, uma coisa que precisava fazer por Cas, porque ele também precisava que Castiel soubesse o que ele sentia, talvez aquilo fosse uma coisa para fingir terminar aquilo da forma "certa", ainda que fosse muito pouco a se fazer.


"Você não sabe como eu o odeio, Cas. Como eu o odeio por me abandonar. Como eu me odiei quando você partiu. Sabe quantas noites eu chamei o seu nome? Sabe quantas vezes chorei até Sammy precisar me abraçar sentado no chão do banheiro, cheirando a álcool porque preciso estragar o meu fígado para tentar te esquecer? Porque preciso tentar de todos os jeitos tentar superar a falta que você faz?

Eu nunca consegui, nunca consegui esquecer você. Nunca vou conseguir. Você quebrou meu coração em mil pedaços quando olhou nos meus olhos e disse que era um adeus.

Eu não amava você da mesma forma que você me amava, ou pelo menos queria acreditar que não. Mas eu amava, eu amava tanto que faria qualquer coisa para voltar no tempo e impedir nós dois de ter esse fim. Isso tem me destruído todos os dias.

Você merecia mais, Cas, você merecia tudo. Eu nunca vou conseguir me perdoar por inteiro.

Foram tantas as vezes que sonhei com você desde a sua morte que desejei não sentir mais nada, não sonhar mais nada, desejei não precisar dormir. Eu sei que não vai me ouvir, mas por Deus, eu rezei, todas as noites, todos os dias. Eu ainda rezo. Eu imploro toda noite, chamo seu nome e odeio o som da minha própria voz.

Você provavelmente foi o grande amor da minha vida e nós desperdiçamos isso, mesmo que provavelmente você acreditasse o contrário, eu queria poder ter realizado o seu desejo. Queria ter acabado com a sorte de todas as moças que já conheci para ter a oportunidade de sentir você de volta. E eu me pergunto "E se..." toda vez que me olho no espelho. Não fica melhor, Cas.

Dia após dia eu tenho fingido, até me convencer que estou vivendo da forma como pediu. Que estou feliz. Mas esse buraco no meu peito ainda abre de vez em quando, então o tudo volta e eu não posso esquecer da forma como me olhava.

Me perdoe, Castiel. Eu queria tanto...

Eu amo você, mesmo que tenha descoberto isso tarde demais.

Você é meu anjo.

Dean."


Uma carta sobre um túmulo vazio. Uma carta guardada em uma gaveta, ficando velha com o tempo. Era tudo que tinham agora. 

Cartas de amor - DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora