- Você não vem? - Regina perguntou, enquanto fazia seu cavalo dar meia volta para observar o imperador aproximar-se com grande dificuldade, como acontecia todas as vezes que decidiam subir a colina até aquela região das terras imperiais.
- Para você é fácil, pegou o potro mais rápido do império - reclamou Daniel, quando finalmente alcançou a imperatriz.
Ela riu. E, para ele, parecia a melodia mais perfeita que já tivera a sorte de apreciar.
- Eu avisei que sempre sei quais são os melhores, você não quis acreditar - rebateu, orgulhosa.
- E me arrependo todos os dias - o imperador desmontou seu corcel e, teatralmente, estendeu uma mão para ela. - Imperatriz.
Regina riu outra vez, aceitando sua ajuda para descer do cavalo. Pousou na frente de Daniel com suavidade e beijou seu rosto, sentindo a colônia suave invadir seus sentidos.
- Fazia muito tempo que não vínhamos aqui - comentou, afastando-se para olhá-lo nos olhos.
- Acho que desde o casamento... ou um pouco depois - o imperador concordou, percorrendo gentilmente a linha delicada do maxilar de sua esposa com a ponta dos dedos, antes de puxá-la para si e apresentá-la com um beijo carinhoso que a fez sentir-se a mulher mais amada de todo o império.
Alguns instantes depois, desfrutando daqueles raros momentos a sós, o casal guiou os cavalos pelo bosque, conversando, trocando carícias, admirando a paisagem pouco movimentada ao redor do castelo, até chegarem a uma clareira à margem do lago.
- O que você acha de construirmos uma torre bem ali? - Daniel perguntou.
Regina desviou o olhar na direção em que o imperador apontava enquanto dava um nó na barra do seu vestido. Era um terreno plano e vazio que ficava a alguns quilômetros ao sul do castelo. O espaço havia sido usado para cultivo no passado, mas isso já não era necessário desde que o reino de Demétria, normalmente conhecido por seus bons agricultores, havia sido conquistado pouco tempo antes.
- Acho que destruiria a paisagem - a imperatriz respondeu, molhando os pés na água do lago.
- Bom, sim, mas seria uma destruição bonita, especialmente se for verdade o que dizem sobre um certo dragão de cobre.
- Aquele que vive na floresta? Eu acredito que seja verdade! - a imperatriz demonstrou um certo ânimo em sua voz, de repente.
- Eu não. Nunca vi um dragão em toda a minha vida - disse Daniel, cético.
- Existem muitas outras coisas que você nunca viu e isso nunca o impediu de acreditar - rebateu a imperatriz, divertindo-se com a reação do marido.
- Ei! Isso não é verdade! - o imperador tentou defender-se, mas acabou por rir junto com ela antes de sentar-se à beira do lago para observar a esposa.
- Você acredita nos reinos mais distantes do império, mesmo sem nunca tê-los visto - constatou ela, continuando a provocá-lo.
- Não é a mesma coisa! As pessoas falam sobre os reinos!
- E falam sobre o dragão - argumentou Regina, sem esconder seu sorriso de satisfação.
- Não é a mesma coisa! - ele protestou, mesmo sabendo que sua imperatriz tinha toda razão. Porém, admitir isso tão facilmente poria fim àquele momento descontraído com sua amada.
A imperatriz gargalhou outra vez e se aproximou do marido, curvando-se para beijá-lo docemente nos lábios.
- Pois são exatamente a mesma coisa para mim, reinos distantes e dragões. Tão palpáveis quanto a torre que você não vai construir nos limites da floresta.
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"Quando seu rei se foi, montado num corcel
Nunca mais ela sorriu
Nunca mais ela se abriu"__________
MESES MAIS TARDE...
- Andem logo com essa construção! Preciso da torre pronta antes que decidam quem será o novo imperador - gritou Regina, com impaciência, dando por encerrada as audiências com seus súditos.
Quando finalmente encontrava-se sozinha na sala do trono, arriscou um rápido olhar na direção das terras ao sul, encarando a grande muralha de pedra que arruinava a paisagem. Era bom que pudesse ver as paredes da torre subindo a cada dia, só assim poderia começar a se acostumar com aquele que logo se tornaria seu novo lar.
Se lhe fosse perguntado, a imperatriz não saberia precisar o momento exato em que tudo começou a dar errado. Talvez tenha sido na ocasião dos primeiros protestos, coisa boba, pequenas revoltas que todo império em expansão precisa enfrentar uma vez ou outra. Bem... pelo menos, foi com essa maturidade que Regina encarou a situação quando ela se apresentou, meses antes. Ao lembrar disso, Regina desejou, mais uma vez, ter percebido que Daniel não compartilhava do seu otimismo em relação ao futuro do império. Para ele, a menor crise era o precursor do fim de todos os tempos.
Aos poucos, o império conseguiu controlar a situação, porém, não sem antes sofrer alguns desgastes. Não havia muito a se fazer além de recalcular a cobrança de impostos e esperar que a recuperação viesse, mesmo que lentamente. Não era o seu momento mais brilhante, mas certamente estavam se saindo muito bem. Bastava ter paciência e perseverança, a expansão podia aguardar mais alguns anos.
Porém, o imperador não via diferença entre cautela e retrocesso, e, a certa altura, decidiu que não valia a pena viver com tantas responsabilidades sobre seus ombros sem que houvesse ganhos a curto prazo, como uma criança que desiste de um brinquedo que não a entretém imediatamente.
Regina despertou, certa madrugada, assustada com o barulho de um cavalo sendo atiçado e galopando noite afora. Levantou-se da cama ainda a tempo de ver Daniel se afastar pela estrada principal da propriedade imperial, envolto em um manto escuro, como um criminoso escapando desesperadamente de sua sentença.
Decepcionada, ela encarou a noite através da janela do seu quarto, no alto do castelo, e, na manhã seguinte, quando precisou anunciar que o imperador havia partido para sempre, ainda via-se incapaz de acreditar que seu marido havia sido capaz de tamanho ato de covardia. Sempre tivera impressão de que estavam fazendo um bom trabalho juntos, como o casal imperial, da mesma forma que sempre acreditara que Daniel a amava incondicionalmente. De repente, ela percebeu que, na verdade, estivera solitária o tempo inteiro. E, como se não bastasse a dor e a decepção de ter sido abandonada, ainda teria que lidar sozinha com as consequências do desaparecimento do imperador.
Conforme passavam os dias, e, quando parava para observar os homens lutando nas áreas abertas ao redor do castelo, ansiosos para conquistar sua mão e assumir o trono, Regina sentia-se traída. Traída pelo marido que a deixou para trás como se não significasse nada. Traída pelo bispado que não demorou a exigir um novo casamento para a Imperatriz, vendendo-a ao guerreiro que fosse o vencedor de um torneio. Como se ter um senhor da guerra sanguinário ao seu lado fosse ajudá-la a recuperar a sua paz. Como se Regina fosse incapaz de conduzir seu império por conta própria.
A imperatriz suspirou. A expectativa do casamento, de descobrir quem seria o novo imperador, era tudo que mantinha os reinos apaziguados em relação à partida de Daniel. Em outras palavras, seguir o protocolo era o melhor que ela podia fazer para não tornar tudo pior.
Lançou outro olhar esquivo para a torre, tentando acalmar o próprio coração. "Só mais alguns dias", repetiu para si mesma.
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A Imperatriz e a Princesa | Swanqueen
Short StoryEmma Swan era a princesa de um reino caído que, tendo nascido para reinar, havia sido ensinada a colocar as necessidades da sua família e do seu povo acima das suas, e, para isso, precisava aceitar uma proposta de casamento o mais rápido possível. N...