4. Não desistir do amor

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"Não desistir do amor e ser feliz
Poder abrir as asas e voar
Arriscar de novo as fichas do viver"

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Era começo de tarde, Emma tinha quase vinte anos quando finalmente tomou coragem para colher algumas das flores que vinha cultivando durante tantos anos, transformá-las em um buquê simples e segurá-lo contra o peito, respirando fundo antes de avançar com cautela na direção da torre.

Um passo, dois passos, e o terceiro veio sem querer. Espiou por cima do ombro, conferindo o campo atrás de si, não havia ninguém ali para socorrê-la caso seu plano desse errado. Mais dois passos hesitantes, e era o mais perto que já chegara da torre desde que tinha sido construída. Avançou mais um pouco e o dragão ergueu a cabeça devagar, olhando-a com desconfiança. Emma levantou o buquê em sua direção, distraindo-o, arriscando ir ainda mais longe, mesmo que lentamente, o que fez o dragão soltar um resmungo alto. A princesa não se deixou abater pela postura intimidante que ele adotava à medida em que se aproximava do seu objetivo, decidida, empunhando as flores como se fossem o seu escudo. Porque de fato eram. O dragão fungou o aroma por um tempo e voltou a encolher-se sobre a torre, subitamente cansado, permitindo que Emma avançasse alguns passos a mais.

A princesa sorriu, sentindo-se vitoriosa, e lançou-se escada acima com o buquê ainda entre seus braços. Correu pelos degraus externos, animada, reduzindo a velocidade ao alcançar as escadas em espiral no interior da torre, e parando subitamente ao chegar à porta do único quarto que havia ali. Hesitou, perguntando-se se devia mesmo fazer aquilo e tentando imaginar como seria a reação da imperatriz ao vê-la ali. Era a primeira vez que essa questão passava pela cabeça de Emma, o que, a princípio, lhe pareceu egoísmo e arrogância - achar que poderia salvá-la de seu destino cruel-, mas já havia chegado até ali, estava a apenas uma porta de distância, e não iria desistir agora. Não sem antes tentar.

Ainda sentia o medo atravessar suas entranhas quando deu o último passo que faltava e bateu à porta, de queixo erguido, tentando fingir uma calma que estava longe de sentir. Não sabia bem o que esperar, tinha apenas a inquietante certeza de que esperava por algo. Só não sabia o quê.

Regina demorou a abrir a porta, mas, quando o fez, tinha no rosto uma expressão que variava entre surpresa, confusa e irritada.

- Q-quem é você? - perguntou ela, hesitante, meio rouca, levando a mão à garganta, como se achasse estranho ouvir o som da própria voz.

Emma a encarou por alguns instantes. Havia se acostumado a pensar na imperatriz em todos os momentos do seu dia, havia perdido muitas noites de sono pensando em como seria aquele momento. O momento em que finalmente estaria frente a frente com ela. Lembrava-se claramente de que ela sempre fora considerada a mulher mais bonita do império. Mas, estar ali diante dela... os olhos castanhos, os lábios carnudos, os cabelos longos caindo sobre as laterais do corpo curvilíneo, a postura elegante, o olhar altivo... aquela era a mulher mais linda que já tinha visto na vida. A beleza dela era incomparável. Mesmo quando sua expressão assumia um ar impaciente pela sua falta de resposta.

- O que é? Não percebeu que quero ficar sozinha? - seu tom de voz era mais firme agora.

- Não acho que você queira. Não de verdade - Emma respondeu, hesitante, porém, sem deixar-se intimidar.

- Vá embora - Regina mandou, fazendo menção de fechar a porta.

- Sou Emma - apressou-se em dizer. - Princesa Emma, de Demétria.

A imperatriz parou por um instante, deixando a porta entreaberta enquanto pensava.

- E daí?

Emma a observava tão atentamente que foi impossível não perceber o momento em que ela decidiu assumir uma postura indiferente. Mas algo lhe dizia que aquilo era apenas uma máscara, e estava disposta a fazê-la cair.

A Imperatriz e a Princesa | SwanqueenOnde histórias criam vida. Descubra agora