Parte II

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— Aqui, aqui — Dean tentou assoviar em uma tentativa de chamar Castiel para mais perto, o pombinho apenas observava o caçador comendo frango frito como se fosse seu último dia na terra — Quer um pedacinho?

Dean, no momento isso seria muito próximo de canibalismo. Lembrou o loiro, mesmo sabendo que suas palavras pouco importavam. Não podia deixar de pensar que Dean era... Único, talvez um pouco sem percepção e cabeça dura além da conta, mas... Ele ficava lindo devorando frango. Se pudesse suspirar, teria suspirado. O Winchester parecia nervoso toda vez que o anjo o observava por pouco mais que alguns segundos, ou então parecia em pânico toda vez que ele se aproximava demais, era frustrante para Castiel. Era frustrante porque adorava admirar Dean.

— Dean, se continuar assim, vai acabar se engasgando — Sam disse ao irromper pela porta, os olhos do irmão se fixaram nele enquanto as bochechas pareciam cheias como as de um esquilo.

— Qual o problema, Sammy? Eu só estou...

— Afogando as mágoas em frango frito?

— Eu e o Sr. Plumas aqui — O mais novo franziu a testa, Cas olhou para ele como quem diz "Eu não faço ideia de quem seria esse", o que era em partes verdade, já que Castiel se recusava a acreditar que Dean resolvera chamá-lo por um nome tão...

— Está oferecendo frango para uma ave?!? Dean, isso... Ele não vai comer isso! — Pela primeira vez Dean se deu conta de que não era uma boa ideia oferecer frango a um pombo, além de ser deprimente comer na frente de um. Engoliu em seco — E não vamos chamá-lo de "Sr. Plumas".

— Até onde sei, o pombinho atropelado é meu, Sammy — lembrou o irmão, que havia sido completamente contra levá-lo para o motel.

— Ainda sim, não vamos chamá-lo assim... — O mais alto bufou ao abrir o notebook.

— Sinal de Cas? — Sam negou com a cabeça, por um segundo, Castiel achou ter visto uma micro expressão de tristeza no rosto de Dean, pouco antes dele se engasgar com frango frito.

— Eu disse! — Dean saiu tossindo para o banheiro, Sammy sorriu por um momento e foi até o pombinho sobre a mesa, tocando suas penas com carinho — Nada contra você, mas temos que achar Cas, é a prioridade agora.

Obrigado por estar se dedicando tanto, mas...

— Eu não sei o que dar de comer para você, talvez possa comer a alface do hamburguer de Dean... Tirando isso tem, bem, tem bacon — Um "Pru" de quem não iria comer nada soou pelo quarto — Boa escolha.

Eu só queria que pudessem me entender, é realmente frustrante já que estou literalmente assistindo vocês procurarem por mim e, bem, eu estou aqui.

Se aconchegou mais, tentando se proteger do frio que começava a atingi-lo. Sabia que teria uma longa noite com os homens fazendo pesquisas e buscas. Tentaria ajudar no que fosse possível, mas, naquele momento, ele parecia ser a parte menos relevante da equipe, não que esse sentimento mudasse com frequência.

Δ

Cas podia ouvir a voz dos caçadores enquanto dormia, ele não fazia isso quando estava em sua forma normal, não com todos os seus "privilégios de anjo". Ele sempre quis saber como era dormir e sonhar. Os sonhos ainda não aconteciam, mas... Abriu os olhos sonolentos quando sentiu mãos o moverem. Dean. Constatou.

O loiro não falou nada, apenas pegou uma camisa limpa da mochila e fez uma espécie de ninho de flanela sobre uma cadeira, então colocou o pombinho lá. Castiel não pode deixar de admirar o gesto, seu protegido também sabia ser gentil e isso o agradava. O agradou mais ainda ao poder dormir envolvido pelo perfume das roupas do caçador, que naquele momento parecia bem mais forte que o usual. Madeira e baunilha. Era mil vezes melhor que gasolina e aromatizante de carro, algo comum para os caçadores depois de passar horas na estrada cuidando de mais um caso.

Pombinho atropelado - DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora