Prólogo

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Não me lembro mais qual foi nosso começo.

Sei que não começamos pelo começo.

Já era amor antes de ser.

-Clarice Lispector

Helena

Todos sempre falavam que eu sentia tudo demais, que eu sentia o mundo todo em um único sentimento. Acho que estão certos, eu sempre gostei de viver a minha vida sempre o mais intensamente possível. Gosto de aproveitar cada momento como se fosse o último, enxergar coisas belas em tudo e em todas as coisas até onde não existia beleza. Eu só queria sentir, meu mundo tinha cores como um arco-íris, poucas coisas conseguem me abalar, mas quando essas poucas coisas me abalavam era como se todo o arco-íris fosse embora e só existisse nuvens cinzas pairando sobre mim.

Essa com toda certeza não é uma história sobre tristeza, afinal todas as histórias possuem um pouco de tristeza,mas a minha não se resume a isso. Ter altos e baixos fazem parte da vida e a minha principalmente tinha muitos, eram tantos que às vezes eu tinha que parar, respirar fundo e contar até dez mentalmente para não simplesmente surtar, talvez eu até surte de vez em quando, mas quem nunca surtou que atire a primeira pedra. Espero que ninguém atire uma pedra em mim.

Vamos começar bem do início, quando eu era apenas um bebê. Meu nome é Maria Helena Luna Ferreira, ou apenas Lena ou Leninha para os mais íntimos. Eu nasci em 1986 no Estado de Pernambuco, mais exatamente na capital Recife, sabe onde fica Pernambuco? No nordeste do Brasil, eu sou latina e sul americana. Em minhas veias corre sangue das mais diversas culturas existentes, meu pai Tobias é descendente de ciganos com Espanhóis ele era historiador e pesquisador e foi em uma viagem para a quente e ensolarada Recife que ele conheceu minha mãe Maria das Graças, ou apenas Gracinha que tem uma mistura de descendênciade Portugueses com índios, Gracinha era uma professora de música que dava aulas de piano em um conservatório. Os dois se apaixonaram loucamente e meu pai convidou minha mãe para viajar com ele pelo Brasil em suas pesquisas, ela perdidamente apaixonada aceitou e juntos eles passaram mais de um ano viajando, eles se casaram em uma igrejinha no sertão cercado pela caatinga. Não muito tempo depois minha mãe engravidou de mim, então ela e o meu pai resolveram dá um tempo das viagens e voltam para Recife, onde estabelecem moradia e esperam muito felizes pela minha chegada.

Pelas histórias que eu soube dos dois o que não são muitas, é que, além do amor infinito que um nutria pelo outro, eles não viam a hora que eu chegasse. E eu cheguei gritando em plenos pulmões e despertando quase o hospital todo, segundo relatos minha mãe passou horas em trabalho de parto e meu pai até chegou a desmaiar , mas mesmo assim ele não largou a mão dela em nenhum segundo. O mundo dos meus pais tinha virado de cabeça para baixo literalmente, e agora eu seria o mundo deles, eu Maria Helena, cujo o nome veio porque minha mãe gostou bastante de uma novela do Manoel Carlos, cuja a protagonista tinha o nome de Helena e com isso se tornou o meu nome também.

Eu não passei muito tempo com meus pais, mas me falaram que os momentos que passei foram os mais felizes da vida deles. Quando eu tinha um pouco mais de um ano, eu e meus pais sofremos um grave acidente de carro, quando voltávamos de uma viagem do litoral. Meus pais não saíram vivos infelizmente e eu sobrevivi por um milagre, muitos dizem que eu nasci novamente depois do que aconteceu. A verdade é que eu nunca vou lembrar como eram os rostos deles, e nem me lembro de como eram suas vozes. Só quando me olho no espelho consigo enxergar uma parte de cada um em mim mesma, a única lembrança viva que eles deixaram.

Como minha mãe não se dava muito bem com meus avós e ela não possuía irmãos, minha guarda foi para minha tia Fernanda, irmã mais nova e mais próxima do meu pai. Tia Fernanda me adotou como se fosse uma filha e eu só tinha que agradecer por ela ter ficado comigo. Como eu era muito pequena quando toda a tragédia aconteceu, eu não sofri tanto pela perda, e a minha tia sempre fez questão de trazer a lembrança de tudo sobre os meus pais, ela me mostrava fotos, vídeos que meu pai gravava de suas viagens de pesquisas, além de ter me matriculado em aulas de piano, já que era um desejo da minha mãe que eu aprendesse a tocar. Comecei aos quatro anos de idade e me apaixonei pelo instrumento assim que toquei nas primeiras teclas.

Como amar/odiar Liam Evermont (Suspensa)Onde histórias criam vida. Descubra agora