CAPÍTULO 4

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BEATRIZ

Deixar a delegacia  tornou-se o meu desejo durante as três horas em que permaneci no meio daqueles homens. Após meu surto de rebeldia, intimidando o delegado, precisei repetir a história várias vezes, minuciando os detalhes, conduzida ao erro, uma maneira utilizada para me intimidar, no entanto, não permiti.

Eu sufocava, meu estômago se contorcia de medo e raiva, mas me mantive firme, encarando-os, atenta, focada.

E quando o Dr. Zolin me libertou daquele suplício e me conduziu a saída da sala, eu entendi que demoraria para encontrar a paz.

O infortúnio se apresentou na forma do meu ex-namorado, Miguel, entrando na delegacia seguido por dois homens engravatados. Ele me encarou em desafio, sorrindo com desprezo.

Perguntei-me se a polícia tinha de fato agilizado o meu lado?

— Eu estava certo. Se o namoradinho registrou um boletim de ocorrência a vagabunda faria o mesmo.

— Contenham seu cliente ou iremos prestar uma nova queixa — Dr. Zolin ameaçou, se dirigindo aos advogados do Miguel. Deduzi.

— Não se preocupem. Não cairei outra vez na armadilha dessa cretina.

— Armadilha? — questionei, deixando que a frustração se potencializasse.

— Beatriz? — Dr. Zolin se colocou entre nós.

— Eu quero o meu celular e minha mochila. — Levantei a voz. Miguel riu.

— Foram para o lixo. — Suas palavras tranquilas, sem medo ou necessidade de acalmar a situação me enfureceu.

— Seu... — Meu advogado me impediu de avançar.

— Pediremos na justiça o ressarcimento.

— Ressarcimento? E quem vai me ressarcir? Essa vagabunda me traiu em público e se acha no direito de registrar um boletim de ocorrência contra mim? De inventar sabe Deus qual justificativa para o que fez?

— Seu cretino! — Eu me descontrolei.

— Pois saiba que ao tomarmos posse das informações entraremos com um pedido de indenização. Pelas mentiras e pela traição. Danos morais e materiais e tudo o que eu conseguir para que você pense duas vezes em se meter comigo.

— Vamos, Beatriz. — Dr. Zolin me puxou.

As palavras de Miguel deveriam me assustar, e de fato assustaram, porém , não o suficiente para impedir o colapso raivoso que se apossou do meu cérebro. Foram os segundos mais intensos da minha vida. Um filme se passou em minha mente, todos os meus sacrifícios, a infelicidade que suportei para evitar o sofrimento dele, os dias que me obriguei a me separar de quem eu amava, que me impedi de viver aquele amor.

A realidade desceu sobre mim com a força de uma tempestade, com raios acendendo a minha frente e trovoadas gritando que eu fiz além do que deveria e que no final de nada serviu, pois Miguel me pagou de uma forma cruel, desumana.

Foi com esta intensidade que me desvencilhei da mão do Dr. Zolin e avancei naquele rapaz que passei a desconhecer.

— E eu vou processá-lo por tentativa de estupro, agressão e por apropriação indevida dos meus pertences. Mas não vou processá-lo por perder meses ao seu lado enquanto me consumia em pena e culpa, quando deveria abandoná-lo e ser feliz ao lado do Cadu. É ele quem eu amo, Miguel e não me arrependo de amar o Cadu desde o primeiro segundo em que meus olhos pousaram nele.

Em seguida me calei, não por falta de palavras, havia tantas que eu acabaria revelando até o que poderia me prejudicar. Eu me calei porque Miguel reagiu. Não houve medo de minha parte. Eu vi tudo, cada milímetro alcançado quando seu braço se ergueu e sua mão ameaçou me atingir. Percebi quando o horror alcançou a todos e se posicionaram para impedir o pior.

Por toda a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora