BEATRIZA escuridão me assustava. Tateei as paredes úmidas, o pânico me dominando, a esperança por um fio. Eu precisava sair dali, gritar, escapar. No auge do meu desespero, ele me agarrou pela cintura, prendendo-me, limitando-me, impedindo-me de fugir.
Foi neste momento que o grito ecoou em minha garganta, enquanto eu me debatia.
— Bia? Bia?
Era a voz de Cadu. Eu não entendia sua presença, de que forma havia me encontrado?
A luz que acendeu ao meu lado me fez fechar os olhos, ou me encolher em defesa, não sei dizer. Tudo em mim trabalhava para me libertar.
— Bia? O que foi?
Abri os olhos e vi Cadu preocupado, me encarando com o pavor que se assemelhava ao meu.
— O que aconteceu? — perguntei, arfando, sem a certeza da segurança.
— Não sei. Você dormia. Quando deitei e te abracei você gritou e começou a se debater.
— Eu... — puxei o ar com força, levantando o corpo, procurando os indícios ao redor.
Estávamos em meu quarto, na minha cama de solteiro, a luz do abajur acesa, a janela aberta, o sopro morno da noite me revigorando. O suor em minha pele me fez ter a ideia de estar febril. Respirando com dificuldade, sentei-me, sendo observada por Cadu.
— Bia? Cadu? — Alice chamou da porta, dando duas batidas e abrindo-a sem aguardar pela permissão. — O que houve? Eu ouvi o grito.
— Não sei — Cadu informou.
— Eu acho que... tive um pesadelo.
Eles me olharam com ansiedade por um instante para em seguida passarem para a preocupação.
— É natural o corpo reagir desta forma, levando-se em conta o que você passou — minha amiga disse, se aproximando. — Vou buscar um copo com água.
Alice deixou o quarto e Cadu se voltou para mim.
— Foi com o Miguel? — Confirmei, tentando juntar as cenas na memória.
— Não com ele, mas... Era ele e não era. — Suspirei. — Desculpe.
— Tudo bem. — Cadu passou a mão em meu cabelo e testou minha temperatura com as costas da mão. — Acho que te assustei.
— Como chegou aqui?
— Você adormeceu. Aproveitei para acertar alguns pontos com tio Gustavo. Ele está preocupado.
— Imagino. Alice acabou exposta.
— Você também é responsabilidade dele... nossa.
— Desculpe. Não pensei que meus problemas com Miguel refletiriam em vocês.
— É nosso problema. Sou responsável pelo que aconteceu. E nós vamos conseguir resolver.
— Coloquei um pouco de açúcar — Alice entrou no quarto, falando. — É comprovada a eficácia? Minha mãe costuma colocar uma colher de açúcar na água quando precisa acalmar alguém.
— Ela deve ter tomado vários copos dessa mistura, hein, pequena? — Cadu brincou. — Com as suas peripécias imagino o quanto de água com açúcar ela precisou.
— Está enganado. Fui uma menina ajuizada.
Ri ao pegar o copo que minha amiga me ofereceu.
— Fui sim, Beatriz. O problema era que eu assumia as brigas que você ignorava. Se me envolvesse nos meus problemas e deixado os seus, teria preocupado menos a minha mãe.
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Por toda a Eternidade
Romance"Era uma onda atrás da outra, sem me dar chance de respirar, sem me permitir colocar os pés no chão. Enquanto isso eu me afogava em mágoas, dúvidas e tristezas, e me culpava cada vez mais por não soltar a mão de Cadu, mantendo-o naquele maremoto com...