CAPÍTULO 3

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BEATRIZ

A escuridão me assustava. Tateei as paredes úmidas, o pânico me dominando, a esperança por um fio. Eu precisava sair dali, gritar, escapar. No auge do meu desespero, ele me agarrou pela cintura, prendendo-me, limitando-me, impedindo-me de fugir.

Foi neste momento que o grito ecoou em minha garganta, enquanto eu me debatia.

— Bia? Bia?

Era a voz de Cadu. Eu não entendia sua presença, de que forma havia me encontrado?

A luz que acendeu ao meu lado me fez fechar os olhos, ou me encolher em defesa, não sei dizer. Tudo em mim trabalhava para me libertar.

— Bia? O que foi?

Abri os olhos e vi Cadu preocupado, me encarando com o pavor que se assemelhava ao meu.

— O que aconteceu? — perguntei, arfando, sem a certeza da segurança.

— Não sei. Você dormia. Quando deitei e te abracei você gritou e começou a se debater.

— Eu... — puxei o ar com força, levantando o corpo, procurando os indícios ao redor.

Estávamos em meu quarto, na minha cama de solteiro, a luz do abajur acesa, a janela aberta, o sopro morno da noite me revigorando. O suor em minha pele me fez ter a ideia de estar febril. Respirando com dificuldade, sentei-me, sendo observada por Cadu.

— Bia? Cadu? — Alice chamou da porta, dando duas batidas e abrindo-a sem aguardar pela permissão. — O que houve? Eu ouvi o grito.

— Não sei — Cadu informou.

— Eu acho que... tive um pesadelo.

Eles me olharam com ansiedade por um instante para em seguida passarem para a preocupação.

— É natural o corpo reagir desta forma, levando-se em conta o que você passou — minha amiga disse, se aproximando. — Vou buscar um copo com água.

Alice deixou o quarto e Cadu se voltou para mim.

— Foi com o Miguel? — Confirmei, tentando juntar as cenas na memória.

— Não com ele, mas... Era ele e não era. — Suspirei. — Desculpe.

— Tudo bem. — Cadu passou a mão em meu cabelo e testou minha temperatura com as costas da mão. — Acho que te assustei.

— Como chegou aqui?

— Você adormeceu. Aproveitei para acertar alguns pontos com tio Gustavo. Ele está preocupado.

— Imagino. Alice acabou exposta.

— Você também é responsabilidade dele... nossa.

— Desculpe. Não pensei que meus problemas com Miguel refletiriam em vocês.

— É nosso problema. Sou responsável pelo que aconteceu. E nós vamos conseguir resolver.

— Coloquei um pouco de açúcar — Alice entrou no quarto, falando. — É comprovada a eficácia? Minha mãe costuma colocar uma colher de açúcar na água quando precisa acalmar alguém.

— Ela deve ter tomado vários copos dessa mistura, hein, pequena? — Cadu brincou. — Com as suas peripécias imagino o quanto de água com açúcar ela precisou.

— Está enganado. Fui uma menina ajuizada.

Ri ao pegar o copo que minha amiga me ofereceu.

— Fui sim, Beatriz. O problema era que eu assumia as brigas que você ignorava. Se me envolvesse nos meus problemas e deixado os seus, teria preocupado menos a minha mãe.

Por toda a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora