5. Um querido amigo

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PAYTON

O sermão que levara assim que pisou os pés em casa foi o suficiente para questionar sua dignidade por três semanas inteiras.

Por algum motivo desconhecido em seu coração, se pegava pensando na garota de cabelo laranja. Vênus. Era um nome incomum, foi uma pena não saber muito sobre ela, já que pareciam ter tanto em comum. É improvável que se reencontrem algum dia, a Califórnia é gigante.

Agora, depois de sair do castigo e toda aquela palhaçada, uns três meses depois, estava sentado com Kyle em uma esquina qualquer. Eram quase nove da noite, mas o calor era tanto que pareciam ser duas da tarde. Eles conversavam sobre a escola e pessoas que não gostavam, até Kyle começar a se arrepender de falar mal dos outros e pedir desculpas ao universo, o que fez Payton revirar os olhos no mesmo instante.

"O que será que vamos estar fazendo nessa mesma data daqui uns anos? Quando tivermos 17 anos!" Kyle se perguntou, olhando para o céu "Marque bem, 31 de agosto!"

"Provavelmente bêbados em alguma esquina como essa. Qual é, moramos em Los Angeles. É obrigatório viver o sonho adolescente" Zoou e ambos riram.

Kyle era muito oposto de Payton.

Totalmente otimista.

Era isso que fazia, muitas vezes, Pay querer ser alguém melhor. A visão que Kyle o fazera ter sobre muitas coisas mudavam sua perspectiva, tirando a onda negativa que o rondava o tempo inteiro. Era como se, ao lado do amigo, tudo fosse possível, até mesmo entrar em Harvard com um vestibular meia boca e sendo pobre.

Pela primeira vez, Payton podia admitir: Não se imaginava vivendo sem Kyle. A dependência emocional de sua amizade com ela estava mais clara a cada dia, pois eram como irmãos gêmeos.

[Quebra de tempo]

Alguns anos desde a morte de Kyle se passaram.

Alguns anos desde que fumar cigarros, beber e usar drogas estava fora de cogitação para Payton Moormeier.

31.

Agora com seus 17 anos, descobrira como era bom em esconder seus sentimentos e traumas como ninguém ao seu redor jamais fez. Nem mesmo Vincent, que naquele momento acabara de passar pela porta do restaurante em que Payton estava fazendo bicos nas noites de sábado e domingo, sabia.

Ao olhar seu irmão enquanto limpava as mãos em um pano de prato perto da bancada aguardando o próximo pedido para levar, percebera como o tempo apenas o faz bem. Vincent tinha mais tatuagens agora, um cabelo mais longo com cachos dourados de dar inveja a qualquer um.

Ele usava um moletom preto, estava com as mãos nos bolsos procurando Payton com o olhar. O sorriso que dera ao encontrar o irmão o fez rir de canto, o cumprimentando com o toque de mão que costumavam fazer.

"E então, o que veio fazer aqui?" Perguntou Payton. Não era do feitio do irmão aparecer em seu trabalho.

"Nada, desta vez apenas estava passando de moto por aqui. Está bem lotado, não?" Deu olhada, e o mais novo assentiu "Certo. Vai comigo naquela festa que propus mais cedo? Começa às 21h, posso passar para te buscar"

"Talvez, cara..." Coçou a nuca "As aulas começam segunda-feira e eu preciso ter um currículo acadêmico perfeito se quero me formar. Isso vai ser um saco!" Revirou os olhos.

Desde que Kyle morreu, Payton não frequentou a escola com tanta frequência até se interessar por Futebol Americano. Seu talento era notável, e com quinze anos começara a jogar na escola pelas férias de verão. O técnico rapidamente o escalou para o time e sua reputação subiu desde então, por brigar feio com diversos estudantes e mandar o vice-diretor à merda, fora transferido para uma escola nova — Ainda em Los Angeles. Muito melhor, aparentemente.

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