Tony Vira Pó

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Peter nunca foi uma pessoa particularmente religiosa. Ele não tinha razão para ser.

Quando ele era apenas um bebê seus pais - Mary e Richard Parker - foram mortos. Peter não se lembra direito de nenhum dos dois, a lembrança mais clara que ele tem deles é de sua mãe dando um beijo em sua testa enquanto seu pai dizia que Peter teria que ficar um pouquinho com "o titio Ben e a titia May" e que logo ele e "mamãe" estariam de volta. Eles nunca voltaram.

Desde então ele passou a morar com o tio e a tia, mas nem isso durou.

(Peter se lembra de chorar. Ele se lembra de se agarrar a tia May e apenas chorar enquanto ouvia o médico dizer que "a bala que o atingiu perfurou uma artéria e não tivemos tempo o suficiente para fazer uma cirurgia, sinto muito". Peter se lembra de chorar por semanas sempre que via qualquer coisa que o lembrasse de seu tio. E Peter se lembra de jurar a si mesmo que nunca se deixaria amar alguém dessa maneira de novo. Porque Peter amou sua mãe e seu pai e eles se foram. Porque Peter amou seu tio e ele se foi. O amor incondicional que uma vez era para seus pais e pouco tempo depois passou para seus tios agora seria apenas para sua tia. Ele nunca teria outra figura paterna além dela novamente.)

Então sim, Peter nunca foi particularmente religioso.

Mas isso não importava agora enquanto ele clamava e implorava para qualquer ser superior que estivesse ouvindo.

Porque Peter descumpriu sua promessa. Ele encontrou mais alguém para amar incondicionalmente.

Ele encontrou Tony Stark.

Tony Stark que não era perfeito e não fingia que era.

Tony Stark que errava, reconhecia que errou e aprendia com seus erros.

Tony Stark que - como Peter - amou demais e teve o coração quebrado.

Tony Stark que foi odiado e desprezado por muitos e mesmo assim ainda veste uma armadura e luta guerras que ele não tem motivos para lutar.

Tony Stark que está morrendo.

(Peter se lembra que quando era pequeno e via o Sr. Stark na televisão Peter pensava que ele era como o sol porque o sorriso dele parecia iluminar a sala; quando Peter realmente o conheceu ele o comparou com a lua porque seu mentor tinha um lado escuro que quase ninguém via; pouco tempo depois quando o viu com a Srta. Potts pela primeira vez Peter pensou que o Sr. Stark era como um satélite natural - um planeta que não parava de girar em torno de outro; Peter já chegou a compará-lo com as estrelas.)

Mas ali, naquele momento, enquanto via seu mentor sorrir para ele e dizer que estava tudo bem, que tudo ficaria bem Peter percebeu que na verdade o Sr. Stark era uma galáxia inteira.

E essa galáxia estava sendo levada embora.

Porque o Sr. Stark estava virando pó.

(Peter queria acreditar que ele estava errado. Ele queria acreditar que não viu os pés de seu mentor desaparecerem. Peter queria acreditar que tudo isso não era nada mais que um sonho, que tudo isso não era nada mais que um pesadelo. Ele queria acreditar que nada disso estava acontecendo. - Mas estava. Porque o mundo não era justo. E Peter aprendeu isso quando era muito pequeno. Quando o mundo te dava alguma coisa ele prontamente retirava outra. E isso não era justo. Mas era assim que ele funcionava.)

Pelo menos dessa vez Peter poderia se despedir. Ele poderia dizer "Me desculpe por não ter sido bom o suficiente". Ele também poderia dizer "Eu te amo".

(Ele sabia que essa imagem ficaria em sua mente o resto de sua vida. Seu mentor, seu pai se transformando em pó. Mas não era hora de pensar no futuro. Era hora de se manter forte. Não era hora de se perguntar se tia May estaria se transformando em pó naquele exato momento. Era hora de fazer o possível para não chorar.)

Então Peter apenas abraçou seu mentor o mais forte que pôde sem machucá-lo.

Então Peter apenas enterrou o rosto na dobra do pescoço de seu pai e disse "Eu te amo".

E sentiu mais do que ouviu ele lhe responder "Eu também te amo, Petey. Me desculpe".

E então o Sr. Stark se foi. E os braços, as mãos, o rosto e o corpo de Peter estavam cobertos de pó.

(Naquele instante Peter jurou que iria trazer seu pai de volta. Peter jurou que iria tê-lo de volta. E essa era uma promessa que não importava quanto tempo e energia levasse, ele iria cumprir.)

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