Bonecas não deveriam te fazer chorar

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O ônibus estava passando por uma pequena cidade, as luzes laranjadas espantavam a escuridão que vinha acompanhando a invest... Digo, a conversa até o momento. Como estávamos passando pela estrada principal não dava pra ver muito da cidade, na verdade parecia mais um povoado. Quando se está só passando todas elas parecem iguais, mesmo que carreguem suas próprias histórias, que são únicas, e aposto que devem ser interessantes e ter uma ou outra coisa especial que merecia ser conhecido por todo mundo. Mas provavelmente nunca serão ouvidas, ou até mesmo contadas, afinal de contas as cidades são todas iguais quando se está só de passagem. Será que existem histórias que importam mais que outras? O que será que faz com que uma história seja importante pra começo de conversa? Será que a história da lágrima de uma velhinha tem importância?

— Então vamos seguir em frente, devemos achar alguma pista no, "olhar".

— Ah, e por que não podemos ir direto para a lágrima? — Ele perguntou como uma criança ansiosa.

— Porque você disse que eu sou a detetive.

— Arrá! Sabia que você ia comprar a ideia.

— Então a avó estava olhando pra você logo antes da lágrima?

Agora que estávamos sendo iluminados pelas luzes dos postes, consegui ver que ele levou a mão ao queixo e parecia não ter certeza de nada no mundo.

— Hmmm, agora que estou pensando melhor, não acho que ela estava olhando pra mim. Ela estava mais era olhando na minha direção, talvez estivesse olhando a neta.

Bom, ela olhou para a neta e depois derramou uma lágrima. A neta que estava se mudando.

— O que você sabe da sua amiga? Ela foi criada naquela casa? A avó ia se mudar para a casa nova junto com ela?

— Eita segura um pouco as perguntas. Eu não sei tanto assim sobre ela, mas eu sei que ela cresceu naquela casa e estava indo morar sozinha.

— Ela e a avó eram próximas?

— Não sei bem sobre isso, mas sei que a avó morava junto com ela e os pais naquela casa.

Bom, talvez isso já fosse o bastante.

— A avó derramou uma lágrima após olhar para a neta e perceber que ela estava indo embora.

Pronunciei as palavras com uma clareza e quase sem entonação, o que acho que contribuiu para a expressão de desapontamento dele. Parecia óbvio, ela vê a neta se mudando, e logo, derrama uma lágrima por isso.

— Mas você disse que não entraríamos na lágrima agora.

— Bom, sim, mas não te parece óbvio?

Ele levou a mão até o queixo e dessa vez além de indeciso ele parecia um tanto quanto triste. Só espero que ele não comece a chorar de novo.

— Mas... Mas isso não explica a bruxinha! E a lágrima não poderia ser só por causa da neta, pensa comigo, ela estava vendo a neta ir e vir o tempo todo, e sequer desviou o olhar, se fosse assim ela poderia ter chorado durante qualquer outro momento. Não, não acho que tenha sido simples assim, foi alguma coisa que ela viu naquele momento, naquele olhar, aquilo que ela viu naquele curto segundo foi o que levou àquela lágrima. Então não, essa solução não me satisfaz, e lembra o que você disse? Que o importante era que a resposta fosse verdade para mim, então acho que a verdade está um pouco mais fundo.

Ele falava como se aquilo fosse um problema super sério e importante, não só uma história que ele tinha contado a uma estranha para matar o tempo da viagem. Me pergunto se ele costuma ser assim com a maioria das coisas ou se essa lágrima realmente mexeu com ele. Será que por ele se importar de verdade com essa história, ela se torna importante?

Detetive de LágrimasOnde histórias criam vida. Descubra agora