Hidden in The Heart, Found in The Pages

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     Diário de bordo, Harry Anderson. Hidden feelings.

     Querido Alexander-- Não-- amada pena-- não. Ah...

     Alexy.--

     Alexy. O que dizer sobre Harry Anderson? Eu adoraria que alguém te fizesse esse questionamento, para que atrás de uma pilastra, com as mãos feridas pelos espinhos de uma rosa — mas que pela sua paixão, jamais a soltaria — eu pudesse ouvir tuas réplicas. Adoraria ouvir-te dizer que Harry é um homem perseverante, possuidor de olhos determinados, uma mente cintilante, e de uma graciosidade incalculável. De belezas externas e internas... Contudo! Não sou nada disso, oh... não. Curiosamente, vivemos tanto tempo juntos, mas nunca te deixei conhecer-me. Entretanto, cara pena, conheço-te. Conheço cada olhar, cada manusear de instrumento, cada movimento explicativo que fazes. Escrevo isso em um dos meus delírios românticos, e sei bem que és a pessoa que melhor compreenderia minha situação amargurada. Ou não. Talvez não compreenda, pois não sentes o que sinto. Não sentes por mim, o que sinto por... Ah!
    Prometo a Deus, ao mar, à lua, ao meu querido diário, e a mim, que só verás isso quando eu estiver adentro de um quarto de madeira do meu tamanho! Alexander, eu gosto como seu nome soa. Eu amo como teus cílios grandiosos se juntam ao piscar dos teus belos olhos. Amo, como meu querido artista usa teu próprio sangue, teu suor, tua dignidade e tua vida numa única página. Em cada capítulo, em cada parágrafo, em cada frase, em cada palavra e em cada letra. Em todas, eu te vejo. Ah... Li todos os teus livros, ouvi todos os teus poemas recitados, guardei cada carta, e sofri por cada segundo. Cada segundo que li, que ouvi, que observei. Não te vejo apenas na escrita, pois te vislumbro no nascer do sol, como se tivesse o luxo de abrir meus olhos e encontrar-te deitado ao meu lado. O revejo no pôr da estrela maior, — que dá espaço àquelas que não têm destaque durante o dia — como se retornasse para mim, num fim de um dia entediante e árduo.
     Vejo-te em flores, em gramados, nas gotas que derramo do meu corpo ao sair do banho... Seco-me, e me livro do sentimento. Como se pudesse apagar isso por um breve momento... Se conheces o pouco de mim que deixei conhecer, sabes que não é o suficiente. Não é o suficiente retirar as gotas ainda mornas de minha pele com uma toalha, se elas retornam, como memórias invasivas, pelos meus olhos. Em nossa juventude, no fundo, já alcançava esse sentimento rude e precário. Egoísta... Será que me relaciono com está palavra tão mal vista? Amei em segredo, até o fim dos meus dias — se não tiver ficado louco — e ainda te culpo... Meu coração bate e bate em dor, mas bate em amor. Dói, porém me contento com o arder. É o que me faz vivo, amar a ti.
     "Nojento", "patético", "indigno", são palavras que costumam enlaçar com pessoas como eu. E sei bem, caro amante, que teu coração é aberto, como os teus livros devem ser. Mas não lido, não por mim... por ela. Espero, e rezo, que não pense essas palavras sobre mim. Oh, querido, sei bem que o mundo acha-me sujo, mas espero que me ame, me ame como amigo que sempre fui, e me deixe te amar, como o sonho distante que sempre será. Desejo-te felicidades, não há dúvidas disso! Eu te amo, e não é sobre estar comigo, e sobre estar contigo. Apoiar-te, e amar-te de longe, como sempre fiz. Meu amor é real, e se sorrir, mesmo que por outra, me sinto... contente.

     Amo-te, meu eterno Alexander. Por isso, deixo-te um dos meus maiores tesouros, uma página.

     [Rasgada de "A Pétala Murcha", por Alexander W. Marie.]

     "O que dói em nós mesmos, só pode ser algo que realmente vem de nós." Disse Gregory, tomando espaço ao meu lado.
   "O que quer dizer com isso?" Perguntei, juntando ainda mais minhas pernas, abraçando-as como se fosse tudo que tivesse no momento.
     Ele me olhou de cima a baixo, notando minha reação. Sabia que eu me questionava internamente, se tudo isso era minha culpa.
     "Não é." Ele disse, "Não se engane, pois não é."
     "Não finjas que podes ler minha mente."
     "Ora, posso ler tuas ações. Sabes que sou um excelente leitor." Ele disse com tamanha confiança, que me fez encará-lo com desdém. Por fim, com meu olhar, ele suspirou e colocou a mão canhota sobre meu ombro. "Pode doer ouvir de alguém que amas que ela não te ama. Mas dói mais quando se admite isso."
     Havia retornado meu olhar para o precipício, aquele olhar mórbido, melancólico e cheio de incertezas. Olhei para ele novamente, em dúvida, "Diz-me então que dói mais eu dizer que ela não me ama do que ela me dizer? Não seria apenas um pensamento meu, talvez incerto, ou ainda mais parecido com uma paranoia?" Perguntei.
     Ele notou que me entretinha, portanto, continuou, "Sim, entretanto, dói mais remoer o osso em si, do que apenas o receber na boca."
     "Eu não entendo." Suspirei, encarei novamente as pedras que eram recebidas com ondas fortes e agressivas.
     "Veja, veja bem, ouça-me bem." ele balançou meu ombro, "Quando algo ruim acontece, e tu limpas a garganta com álcool, reclamas, por fim, com o barman, não é para esquecer, pois o álcool não apaga dores nem mesmo memórias."
     "Ora pois?" Retruquei com o próprio balançar das ondas.
     "Somos mais fracos com a bebida, e falamos com mais facilidade." Ele sorriu, eu sabia mesmo sem olhar para ele.
     "Ora... pois?" Aos poucos, devolvia meu olhar para ele, e com um último estrondo das ondas nas pedras, ele disse, "Pois as palavras doem mais quando são ditas por nós mesmos do que pelos outros. Pois... dói mais admitir um amor perdido, do que apenas receber a notícia."

     [Diário de bordo, no canto inferior da página]

     Eu o amei, mas admiti a derrota.

Lover Of Her'sOnde histórias criam vida. Descubra agora