Capítulo quatro

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Foi meu pai coletor de recursos e simples,ou meu pai que esconde fatos e líder espiritual que morreu ?
Não consigo vê-lo com o mesmo apreço que eu o via antes.
No momento em que perguntei para minha mãe qual foi o resultado do teste de função do meu pai,não pensei que se ele era responsável por coletar recursos,a nota dele teria sido baixa.Se eu guardasse a minha curiosidade,talvez eu ainda o amaria como eu o amava a algumas horas atrás.
Agora ele está morto.E eu não sei o que fazer,minha mãe chora sem parar ao meu lado.Apesar de ela também ter escondido coisas que eu não vi necessidade de esconder,eu não consigo diminuir o amor que sinto por ela do mesmo jeito que diminuiu pelo meu pai assim que eu soube que ele era um dos líderes dos espirituais.
Consigo me levantar e vou para meu quarto,escuto minha mae chorar por mais algumas horas,até que apago na cama.

+++

São 8:00 horas da manhã,passei a noite em claro pensando em meu pai.Minha mãe veio em meu quarto hoje mais cedo,minha mãe veio me avisar sobre o enterro do meu pai.
Vou até a sala,minha mae esta vestida de preto, por luto.Fico parado diante de um espelho,observando meu reflexo de roupa preta e expressão fechada.
Vejo pelo reflexo do espelho,minha mae se aproximando de mim por trás.
-Tom -Diz ela olhando para mim pelo espelho- vamos,está na hora,seu pai era sempre pontu...
-Ele não era meu pai de verdade ! -interrompo-a gritando- Pelo menos,não o que eu conhecia.O pai que conheci não me esconderia nada !
Uma lágrima escorre e minha mae se mantêm em silêncio por alguns segundos.
-Você tem razão -Ela diz com uma voz mais calma do que pensei que seria- ,mas ele fez isso para seu próprio bem,esse é seu pai de verdade,aquele que escondeu isso de você para te proteger -seus olhos se enchem de lágrimas- ,proteger Tomás...
Prefiro ficar em silêncio. Se eu a respondesse iriamos discutir, e não pretendo discutir com minha própria mãe em um momento como esse.
Faço sinal positivo com a cabeça. Olho no fundo de seus olhos e vejo a tristeza em seu olhar,eu deveria lhe dar apoio nessa hora,mas n sou capaz.
-Vamos mãe -falo ao abrir a porta da sala.
Ela acena com a cabeça.

+++

Prefiro ficar do lado de fora do velório. Minha mãe não criticou minha atitude mas concerteza não gostou.
Ver o corpo do meu pai sem vida não é uma coisa que pretendo ter na memória. Todos os amigos que passam por mim me comprimentam e me dizem: "ele era um bom homem". "Estaremos sempre a disposição". "Meus sentimentos garoto".
Não sei se dizem isto por educação ou se é realmente verdade.
O lugar tem uma faxada branca. Não sei como é por dentro,da ultima vez que entrei lá foi quando meu tio Antony morreu em uma mina de carvão e trouxeram o corpo para esse lugar,eu era muito pequeno e não tenho muitas lembranças.
Não pretendo voltar aqui tão cedo. Aliás, não pretendo voltar aqui.
De relance vejo dois homens que não conheço carregando um caixão,minha mãe logo atrás de cabeça baixa e em seguida outras pessoas. É meu pai que está ali. Meu pai.
Novamente,meus olhos se enchem de lágrimas.
Corro para alcançar minha mãe. Coloco minha mão em seu ombro esquerdo. Ela levanta a cabeça e me olha rapidamente, e abaixa a cabeça novamente.
Todos nós caminhamos em direção ao local onde meu pai será enterrado.
Esse lugar,o cemitério,me dá arrepios.
Meu pai irá sumir em um buraco escuro e nunca mais alguém o verá novamente.
Fecho os olhos e abraço forte minha mãe,fico abraçado a ela de olhos fechados até acabar aquilo.
Meu pai foi pouco presente,mas de qualquer forma,é impossível não sentir nada mesmo ele sendo ausente e sabendo de algumas coisas que ele deveria ter me contado a muito tempo.

+++

Finalmente chegamos em casa,eu já não aguentava mais ficar naquele lugar frio e monótono.
Corro para o andar de cima da casa e entro em meu quarto,tranco a porta e me jogo na cama em meu quarto. Fico alguns minutos deitado sem me mover,olhando para o teto com a pintura azul gasta.
O silencio que domina a casa é depressivo.
Olho para meu relógio,13:15. A essa hora geralmente meu pai estaria na cozinha com minha mãe,almoçando. Logo ele voltaria para o trabalho.
Levanto da cama e pego roupas limpas em meu guarda-roupas. Tenho certeza que minha mãe está na sala ou em seu quarto chorando.
Desco as escadas e vou até a sala. Está tudo como deixamos assim que saímos pela manhã e ela não esta lá. Vou até seu quarto e também não a encontro. Ouço vozes no lado de fora da casa,olho pela janela aberta do quarto da minha mae,vejo uma mulher com baixa estatura,cabelos castanhos e usa um vestido preto. Minha mãe.
Vou até lá para vê-la,ela esta sorrindo,parece estar acariciando um cachorro de rua.
-Vim ver como a senhora está -digo.
Ela passa a mão suavemente na cabeça do cachorro e sorri.
-Estou bem. Não se preocupe Tom.
Parece que me enganei,minha mãe não esta muito desanimada,pelo menos não é isso o que aparenta.
-Pensei que estaria em seu quarto ou na sala -respondo- ,chorando,ou algo do tipo,mas vejo que é ao contrário.
-Me dê um motivo para que eu estivesse assim.
-Bom...é que acabamos de voltar do enterro do meu pai.
-Tom,entenda: pessoas morrem todos os dias,toda aquele tristeza foi passageira, estou bem agora. Devemos seguir em frente sem olhar para trás.
Sorrio e abraço-a.
É bom saber que ela está bem,que esta lidando bem com a situação. É bom saber que ela pensa assim.

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⏰ Última atualização: Apr 29, 2015 ⏰

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