Mariana acordou com um feixo de luz que lhe bateu sobre os olhos, tateou pela cama para pegar um travesseiro e tapar seu rosto, mas foi em vão.
Ao deslizar as mãos pelo colchão, entretanto, percebeu que Ana não estava lá, e foi então que decidiu se levantar. "Por que ela não me acordou?", pensou Mariana.
Ela estava descendo as escadas, e já ouvia certo burburinho vindo da cozinha: eram os filhos de Ana. Mariana continuou caminhando em direção ao barulho, embora suas mãos estivessem suadas pelo nervosismo, e só percebeu que já estava no cômodo na presença de todos, quando se ouviu falar em alto e bom som um "bom dia" para todos com um sorriso nervoso estampado no rosto.
— Bom dia, meu amor - Ana voltou sua atenção para ela e sorriu - não te acordei antes porque não precisaremos chegar tão tarde no escritório.
— Bom dia, Mariana! - Ceci lhe sorriu
— Bom dia! - Rodrigo também parecia simpático
Mariana sentou à mesa ainda nervosa, e achou melhor conversar com Ceci e Rô, adiar esse confronto seria pior.
— Ceci, Rô... eu queria falar com vocês sobre tudo isso que está acontecendo... e-eu sei que parece confuso para vocês, mas - Mariana foi interrompida por Ceci
— Mariana, a mamãe merece ser feliz! Todo a história com o papai, o divórcio, estava deixando ela muito triste e sozinha... e bem, se ela está feliz com você, e se você a faz feliz... eu não tenho problema nenhum! Até gosto da ideia de ter duas mães - Ceci sorriu e segurou a mão de Mariana
Ana olhou para aquela cena e segurou a emoção de ouvir o que sua filha acabara de falar.
— Na última vez que a senhora e o papai conversaram... a gente ficou ouvindo atrás da porta - Rô começou a falar, num tom sério e ora olhava para Ana ora para Mariana - e você disse que precisava do divórcio para tentar ser feliz, para ficar bem e se é a Mariana que faz você ficar bem, mãe, então ta tudo bem! E que bom que é a Mariana porque ela já é da família! Oficialmente a Regina é nossa irmã! - Rô sorriu entusiasmado
Ana se levantou e abraçou os filhos, emocionada.
— Eu amo vocês! - Ana falou enxugando as lágrimas
— Somos uma família, sim! - Mariana falou com a voz embargada - vocês não sabem como fico feliz por vocês não me odiarem - Mariana sorriu em meio a emoção, e foi a vez de Ceci e Rô se levantarem e irem abraçá-la.
Alta que assistia emocionada a cena, interrompeu o momento de todos ao exclamar que havia queimado as panquecas, e todos riram.
Antes do café da manhã acabar, Romélia entoru na cozinha vindo da sua corrida matinal, e falou um sonoro "bom dia" para todos que estavam à mesa.
— Bom dia, mamãe! - Ana falou
— Bom dia, senhora Romélia - disse Mariana
Ceci e Rô se entreolharam e sabendo que a avó não gostara nada de saber que Ana e Mariana estavam juntas, decidiram ir para seus quartos e evitar presenciar alguma discussão naquela manhã que começara tão boa.
— Bom, eu vou para o meu quarto... disse ao Dario que ligaria logo cedo! - Ceci se levantou e beijou as três mulheres que estavam à mesa, sendo seguida por Rô
— Eu também! Não, não vou ligar para o Dario, só vou para o meu quarto, tenho algumas exercícios de matemática para fazer... e até mais! - Rô se despediu e em passos largos acompanhou a irmã
Romélia encarou Ana e logo em seguida Mariana.
— O que, mamãe? - Ana falou depois de dar um gole no seu café
— Nada! - Romélia respondeu e deu uma garfada no seu omelete, e logo em seguida encarou Mariana
— Aconteceu alguma coisa, dona Romélia? - Mariana perguntou
— Não, nada... - ela respondeu, deu mais uma garfada no prato e logo em seguida encarou a filha
— Mamãe! - Ana exclamou impaciente - fale logo o que aconteceu! Por que está nos encarando assim? - Ana perguntou
— Nada! É só que... você sempre foi lésbica, filha? Como não percebi antes? - Romélia perguntou, num tom de indignação
Mariana tentou segurar a risada e olhou para Ana.
— Não sei... mas agora me apaixonei por Mariana e estamos juntas, somos um casal, então... - Ana deu um gole na sua xícara de café e encarou Mariana, visivelmente nervosa e logo depois encarou a mãe
— Na cama quem é melhor? Mulher ou homem? Porque bem... depois do seu pai não me interessei mais por homem nenhum... será se sou lésbica, filha? - Romélia perguntou num sussurro como se aquela pergunta fosse algo ilegal
— Mamãe, chega! - Ana se levantou - vamos, Mariana? Precisamos nos arrumar para reunião! - Ana fez um gesto para que Mariana a acompanhasse, e ela assim o fez.
Alta encarou Romélia e saiu da cozinha rumo ao jardim gargalhando.
Os dias foram se passando e o namoro das duas, perante a todos, estava firme e forte. No escritório, as duas trocavam carinho, e embora dividissem a sala, sempre que estavam na presença de outra pessoas, entrelaçavam as mãos ou se beijavam rapidamente ou Ana abraçava Mariana pela cintura enquanto conversavam com amigos em comum.
O único problema era Férran. Ele não aceitava que a Mariana o havia trocado por Ana do dia para noite, e sempre que podia, cercava Mariana, seja presencialmente ou por telefone, até que um dia, em uma das suas investidas, Ana leu a mensagem na barra de notificação do celular de Mariana e quando ela retornou para a sala, Ana a encarou séria.
— Ana, não sabe o q- Mariana então viu o olhar furioso de Ana - aconteceu algo? - Mariana perguntou
— Eu vi a mensagem de Férran no seu celular - Ana tentou falar de uma maneira como se não se importasse, mas falhou, e continuou encaranado Mariana.
— Ele não aceita que terminamos e que eu e você estamos namorando - Mariana suspirou cansada
— É só isso? - Ana perguntou séria
Mariana, por um momento, achou que tivesse sentido certo ciúmes pelo tom de voz da Ana, mas logo retirou esse pensamento.
— Claro que é só isso! - Mariana respondeu encarando Ana
— Eu não quero atrapalhar sua vida, Mariana... sabemos que isso que tem- e antes que Ana terminasse a fala, Mariana viu que Férran estava próximo à porta e que as escutava e então, pensando rápido, Mariana cortou a fala de Ana
— Sabemos que isso é amor, Ana - Mariana falou e caminhou na direção de Ana - isso é amor! Você não atrapalha em nada na minha vida - ela não podia deixar que Férran soubesse o que namoro era falso - pelo contrário, você veio para colocar a minha vida em ordem... - seu rosto já estava a poucos centímetros do de Ana - te amo! - Mariana falou
Uma tensão se criou no ar. Ana ora encarava os olhos de Mariana ora seus lábios, e diante daquelas palavras, Ana não segurou o ímpeto de beijá-la, e então encurtou a distância entre as duas e colou seus lábios nos de Mariana.
Mariana se assustou com a reação de Ana, mas não recuou e retribuiu o beijo. Como os lábios da loira eram macios, e quando ela pediu passagem com sua língua, Ana não colocou obstáculo, e quando se deu conta, Mariana pressionava seu corpo no de Ana contra a mesa.
Férran olhou a cena e saiu furioso.
