Um Deku Não Tão "Deku"

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Deku e seus mil cadernos – era essa a razão da existência daquela porcaria de mochila amarela e enorme, e também uma das razões de frustração pouco razoáveis de Katsuki. Lá ia ele, algumas carteiras atrás da sua, sempre olhando o celular, e fazendo quase uma muralha de cadernos de anotações e se isolando mais ainda dos colegas de classe.

Um completo metido.

Era um daqueles dias em que Deku se mostrava claramente cansado, com o cabelo bagunçado, como se ele apenas houvesse acordado e passado a mão por eles e decidido que aquilo era o bastante. O restante nele estava sempre bem alinhado – como se a mãe dele o tivesse arrumado. Até mesmo aqueles ridículos coturnos vermelhos ... não... não, os coturnos que pareciam sempre brilhar de tão limpos, estavam sujos e opacos. Aquilo ali no solado era areia?

Katsuki involuntariamente ergueu uma de suas sobrancelhas. O professor ainda não tinha chegado, então os alunos não haviam, de fato, se organizado em seus devidos lugares – exceto, claro, o objeto de sua atenção, no momento. Deku era conhecido por ser um garoto um pouco menor para caras da sua idade, de cabelos e olhos verdes, pálido demais para um garoto do litoral e cujas sardas davam a falsa sensação de ele ser mais jovem do que era. Mas ali estava ele, parecendo ... estranhamente mais bronzeado, com mais sardas no rosto e ... era impressão ou o uniforme parecia mais justo?

Desde quando Deku parecia não tão ... Deku?

Olhos verdes se encontraram com olhos vermelhos por um momento, antes de ambos desviarem. Merda, pensou Katsuki. Desde quando a vida, ou a aparência de Deku importava? Arriscou olhar novamente. Agora o cara mordia os lábios e franzia o cenho para um dos milhões de cadernos que tinha.

Qual a porra do problema de colocar toda aquela merda em um tablet?

Sem se dar conta, Katsuki se levantou caminhando até a mesa do outro, que não percebeu a aproximação do loiro, até ter seu detestável caderno arrancado de sua mão, fazendo um enorme risco de caneta no que quer que ele estivesse anotando.

– Se você gastasse menos tempo escrevendo bobagens, talvez tivesse tempo para pentear o cabelo e limpar seus sapatos, Deku idiota. – iniciou Katsuki dando um passo para trás para se afastar do alcance da mão de dele, que havia tentado recuperar o caderno.

Deku por sua vez desistiu de bancar a criança e tentar pegar o que lhe foi tomado, e apenas recostou-se na cadeira encarando Katsuki. Aaaah, como ele odiava aquela postura passiva do alecrim dourado do bairro. Sempre tão frágil, tão educado e pacífico. Katsuki apostava que Deku cheirava a sabonete de bebê de tão puro e virgem, quase uma Branca de Neve.

O olhar verde-esmeralda esquadrinhou os cabelos loiros arrepiados de Katsuki, descendo pelo sorriso sádico, e parando por um momento na altura do colo, aonde a camisa do colega de classe sempre se mostrava com dois botões abertos e a gravata simplesmente jogada pelo pescoço.

– Vai me devolver? – perguntou Deku, como um maldito robô. Katsuki ignorou, abrindo o caderno.

Ele só queria dar uma rápida olhada. O raio de sol ambulante deveria ter algum desvio de caráter, qualquer coisa. Um desenho do Katsuki pegando fogo, talvez.

Não estranharia afinal, de contas. Mas os cadernos de Deku eram tão bagunçados quanto seus cabelos. Ou ao menos parecia. Mas em meio a esboços de desenhos, frases meio desconexas, perguntas ainda mais estranhas e datas para finalização de alguma coisa, havia algo escrito em letras bem pequenas, no canto de uma das páginas.

Depois de um ano como esse

Eu vou precisar de uns bons 16 meses sozinho

The Masterpiece [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora