O ano é 1994.
No início da década, a homossexualidade deixou de ser considerada um distúrbio, e embora esse tenha sido um grande passo, vários estigmas ainda permaneciam fortes, sobretudo em um país tradicionalista. Se descobrir gay em circunstânci...
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Uma noite quente em algum momento da primavera de 1994...
Jeongguk contemplava sua imagem refletida no espelho, certificando-se de que estava atraente o bastante para arrasar corações, até mesmo dos poucos rapazes que ainda se diziam héteros na cidade. Sorriu ao analisar as peças que compunham o visual, a saia xadrez vermelha deixava suas pernas malhadas à mostra, a meia-calça arrastão ressaltava as coxas fartas, o cropped branco possibilitava que parte de seu abdômen fosse visto e os saltos de plataforma pretos o faziam parecer ainda mais alto, dando-lhe uma aparência inacreditavelmente poderosa.
— Ggukie, você tá deslumbrante! — seu melhor amigo, Park Jimin, exclamou ao adentrar o quarto, admirando-lhe com um sorriso esplendoroso — Ah, desde o momento que meus olhos repousaram sobre aquela vitrine eu soube que essas roupas seriam perfeitas pra você. Olha só essas coxas... Não vai restar um hétero naquele lugar hoje.
— Acha mesmo, hyung?
— Sem sombra de dúvidas, eles vão perder a cabeça! Mas... — o mais velho se aproximou de sua penteadeira e abriu uma das gavetas repletas de bijuterias, retirando de lá uma gargantilha preta com um delicado pingente de coração — Acho que podemos incrementar o seu look com isso aqui, vire-se para que eu possa colocar.
O Jeon posicionou-se diante do espelho novamente, observando o Park prender a gargantilha em torno de seu pescoço. Esboçou mais um sorriso ao se avaliar por completo e constatar como se sentia bem com aquelas roupas, com a maquiagem, com os acessórios... Cada detalhe ali o fazia se sentir confiante, entretanto, não podia evitar o sentimento de tristeza que o preenchia ao pensar que a sociedade não era capaz de enxergar as coisas dessa forma. O preconceito das pessoas jamais as permitiria compreender que aquele estilo pertencia à sua essência e ele estaria eternamente fadado a conviver com os julgamentos e as palavras maldosas.
Deu de ombros quando a insegurança ameaçou inundar sua mente, ele não precisava se torturar com tais preocupações quando estava prestes a ir para seu lugar favorito no mundo: a Drinks n' Discos. O bar/discoteca era comumente frequentado pela população jovem de Hwangsan e não havia um fim de semana sequer que o estabelecimento não ficasse lotado. Por ser uma cidade pequena em que todos se conheciam, as fofocas certamente se espalhavam com facilidade, e, para evitar que todos ficassem sabendo dos babados resultantes de suas noites badaladas, os frequentadores decidiram criar um lema:
O que acontece na Drinks n' Discos, morre na Drinks n' Discos.
Para um garoto gay cujos pais eram conservadores e defensores da família tradicional, a Drinks n' Discos representava nada mais nada menos que liberdade. Desde que o frequentou pela primeira vez, ao lado de Jimin e seu outro amigo Hoseok, Jeongguk passou a dar um jeito de escapar de casa todas as sextas e em alguns sábados também. Assim que escutava os roncos de seus progenitores soarem altos do quarto ao lado, corria para a residência do Park que se localizava em seu bairro e aguardava até que o Jung aparecesse para levá-los de carona até a discoteca.
