A química da gente

Capítulo 1

Emanuelly Oliveira | São Paulo, Brasil- Março de 2022

Trabalho com o Senhor Figueira a pouco mais de um mês, contando o período de teste. A um tempo atrás surgiu essa oportunidade de emprego pra mim e agarrei, essa é uma das maiores empresas jornalísticas do Brasil, nem se compara ao meu antigo emprego.

Tenho 23 anos e sou assistente do chefe da redação, moro com minha melhor amiga a 8 anos e desde que entrei aqui, minhas chances e qualidade de vida aumentaram bastante.

Nasci e fui criada Minas Gerais, mas assim que terminei a escola catei minhas malas pra morar em São Paulo. Havia passado na federal daqui e foi uma ótima oportunidade pra crescer. Ester veio junto comigo, fez faculdade aqui e já trabalha na sua área, como arquiteta.

- Emanuelly?- Senhor Figueira me chama, fazendo eu tirar o olhar do computador e olhar pra ele, que já começa a andar e eu corro atrás dele com minha agendinha.- Contrate o melhor corretor de imóveis que puder, ter meu filho em casa está me matando!- ele faz uma pausa pra cumprimentar alguns funcionários.

- O que mais, senhor?

Ele para no meio da sala de reunião e aproveito pra respirar fundo.- Algum recado?

- Aquele fotógrafo que contratamos pro evento de amanhã está doente, mas já dei conta disso, seu marido ligou e disse pra você atender o celular.- Senhor Figueira dá risada.- E chegaram algumas cartas do departamento de trânsito, parece que alguém levou diversas multas no seu carro. Quer que eu denuncie a clonagem de placa?

- Isso não foi clonagem, Emanuelly. É o jeito do meu filho anunciar pra São Paulo inteira que está de volta. Resolve isso e providencie também um carro no nome do meu filho.- ele faz o caminho até o seu escritório e eu entro junto com ele.

- Mais alguma coisa, senhor?

- Só isso mesmo, obrigada.- ele diz e eu saio da sua sala, fechando a porta. Respiro fundo e me sento novamente na minha mesa.

Volto a fazer meu trabalho e um pouco antes do meu horário de almoço, senhor Figueira sai pra almoçar com o marido e eu fico ali.

Quando dá o meu horário, como ali mesmo no escritório, um sanduíche rápido acompanhado de um suco.

O elevador se abre e eu engulo tão rápido que acho um milagre não ter me engasgado. Um homem preto, alto e forte sai de dentro do elevador, ele vestia uma roupa toda preta e andava sem olhar pra ninguém a sua volta.

Ele anda com certa pressa em direção ao escritório do senhor Figueira, mas me levanto e me coloco em sua frente. O que faz ele me olhar de cima a baixo.

Estremeço só com aquele olhar e minha fala sai quase que como um sussurro.

- O senhor Figueira não esta, deseja deixar algum recado?

- Eu sei que ele não está.- sua voz é grave.- Com licença.- ele tenta passar, mas não deixo.

Vejo através das paredes de vidros pessoas me reprovando por aquilo e olhares aflitos.

- Desculpa, é que ninguém pode entrar sem a autorização do senhor Figueira. O senhor pode aguardar ali na outra sala ou deixar algum recado. Qual o seu nome?- digo andando até a minha mesa e percebo ele me acompanhar com o olhar frio, talvez furioso.

Aquele homem em minha frente sorri de lado e sua resposta me causa arrepios.

- Nicolas Figueira, gracinha.- ele é irônico, mas minhas bochechas coram e desvio meu olhar do seu.

Respiro fundo e me concentro em ser exatamente o que sempre fui, esse homem não vai fazer eu me desculpar por fazer meu trabalho.

- É um prazer conhecer o senhor, Nicolas Figueira, mas sinto muito, seu pai não deixou nenhum aviso que vinha e o escritório está trancado.

- Destranque.

- Eu não posso, não tenho a chave.

- Consiga uma.- ele é autoritário e se apoia em minha mesa.

- Senhor, eu...

- Vejo que conheceu meu filho, Emanuelly.- Ouço a voz do senhor figueira e desvio o olhar de Nicolas até ele, que nos olha de um jeito divertido.

- É, sim. Ele chegou a pouco, quer entrar em seu escritório mas expliquei a ele que você o trancou e não posso abri-lo.

- Tudo bem.- ele destranca o seu escritório e o filho o segue.

Nicolas se vira pra mim antes de entrar no escritório e me analisa por inteiro, fazendo eu me corar. Ele dá um sorriso sapeca e entro no escritório.

Eles ficam alguns minutos lá dentro e mesmo com a grossa parede que isola o lugar, é possível ouvir alguns resmungos e reclamações de ambas as partes vindas lá de dentro. Eu fico ali, na minha mesa, somente rabiscando. Já tinha feito todo meu trabalho durante a manhã, só falta achar o carro pro filho do chefe.

Meu telefone toca e eu atendo, Senhor Figueira me manda ir até a sua sala e eu vou no mesmo instante.

- O senhor precisa de alguma coisa?- perguntando entrando na sala e percebo o olhar de Nicolas fixados em mim.

- Sim. Cuidou das coisas que eu te pedi?

- Sim. A respeito da corretora, não sei se fiz o certo, mas pedi que ela visse os melhores apartamentos, que sejam luxuosos, mínimo três quartos, condomínio luxuoso...

- Não precisava de tanto.- ouço Nicolas dizer.

- Desculpa, Emanuelly, meu filho gosta de coisas simples, tudo bem? Não precisa de nada luxuoso, só que seja seguro.

- Tudo bem, eu posso mudar as exigências, mas ela disse que precisava conhecer o senhor e saber melhor os seus gostos...- Me direciono a Nicolas.

- Me passe o contato.- ele pede.

- Não.- seu pai intervém.- Emanuelly cuidará de tudo, quero que acompanhe Nicolas e a corretora nas visitas e o ajude com o carro. Você é de confiança e sei que pode cuidar da parte financeira.

- Eu acho que...

- Você tá pedindo pra sua secretária me vigiar bem na minha cara?

- Calado, Nicolas. Só quero ter certeza de que não vai ser irresponsável, confio na Emanuelly pra que isso não aconteça.

- Eu posso...

- Posso escolher um apartamento e carro sem supervisão. Tenho 25 anos.

- Aja de acordo com sua idade e talvez eu pense em te deixar fazer isso sozinho.

- Por que eu voltei mesmo?

- Sabe o nosso acordo, Nicolas.- seu tom chega a me assustar e o seu filho se cala, negando com a cabeça.- Vocês farão tudo isso amanhã, pode ficar tranquila que não precisa vir trabalhar.

- Tudo bem.- me dou por vencida e ele me dispensa. Saio da sala sendo seguida por Nicolas.

- Então, até amanhã, gracinha.