Cassandra Miller.
1 Capitulo.
Sentar-se ao ar livre parece que já não é tão bom como antigamente. Por que é tão difícil? Gostaria de um dia me sentar como sempre me sentava no batente de casa, para observar a rua e os movimentos dos carros dos vizinhos ocupados com sua rotina do dia a dia. Aquela época era absurdamente leve para mim, considerando tudo o que me aconteceu desde o dia em que vi a minha vida se esvair nas mãos de um miserável.
Ainda me dói lembrar, que as mãos de um cretino já agarraram o meu corpo tão violentamente. Sinto ferozmente todos os dias, esse instinto de culpa sobre os meus ombros e parece que essa culpa não acaba nunca. Sinto-me imunda a cada passo que dou nessa rua, que aos meus olhos parece tão alegre e colorida.
Tudo foi arrancado de mim há um ano. Quando o miserável finalmente terminou de me possuir tão violentamente, ele cuspiu em meu rosto e me xingou de diversas coisas, me ameaçando com tanto fervor e ódio que eu só queria morrer naquela maldita hora. Depois de horas que ele havia desaparecido no meio da floresta, eu finalmente consegui me mover com meu corpo relutantemente incapaz de ser ágil.
Levei horas até chegar à porta da delegacia antes de cair de cansaço abrindo as enormes portas de vidro. Estremeci aos toques dos policiais que me levantaram preocupados comigo. Lembro-me que, me levaram para uma sala de ouvidoria e quando eu estava finalmente sentada com uma xícara de café em mãos tive coragem de me olhar no reflexo do vidro preto da sala. Eu estava horrível! Olhos inchados e vermelhos de tanto chorar ao tentar contar o ocorrido, mas eu mal conseguia pronunciar as palavras para a delegada a minha frente. Eu possuía pedaços de folhas de arvores no cabelo e as minhas roupas estavam imundas com terra e grama. Meus cabelos castanhos se encontravam em um emaranhado de ninho de pássaros, meu corpo já não aguentava mais tantos toques de pessoas desconhecidas tentando me consolar.
Depois de alguns dias, pegaram o desgraçado. Ele foi sentenciado a 8 anos de prisão pelo que fez comigo e mais 12 anos de prisão porque havia estuprado outra menina ainda mais jovem que eu. Na época, eu tinha 18 anos de idade e a outra vítima do desgraçado tinha apenas 16 anos.
Desde então não consigo dormir direito, nem comer quase nada. Perdi bastante peso e por preocupação a mim, a minha amiga Liv se mudou para ficar comigo na minha casa. Ela diz que não quer que eu me sinta sozinha, mas a verdade eu já desconfio e tenho certeza que ela sabe que eu sei. Liv tem medo que eu tente me matar ou algo que pessoas na mesma situação que a minha pensam para tentar aliviar a dor.
Não posso dizer que não já tentei me matar porque eu estaria mentindo. Tomar água sanitária me pareceu uma ótima ideia naquele dia, mas Liv chegou bem na hora que eu estava chorando no chão frio da cozinha enquanto bebia o liquido diretamente da garrafa. Por não ter tomado uma quantidade tão considerável que me levaria a morte, só consegui ter dores de barriga e idas constantes ao banheiro.
Depois desse dia Liv nunca mais me deixou ficar sozinha com produtos de limpeza ou algo que eu possa ingerir para me matar. Ela até tranca a dispensa quando sai para trabalhar e me faz prometer não fazer nenhuma besteira até ela voltar e cuidar de mim como sempre faz.
Não gosto de vê-la se preocupar tanto comigo, isso me faz sentir um lixo. Liv sabe como me sinto em relação a isso e me dá certa liberdade e espaço. Afinal, como ela mesma diz, eu não estou em cárcere privado só estou sendo cuidada de perto por algum tempo.
— O que está fazendo aí? — Liv sai de dentro de casa e se senta ao meu lado na varanda que dá acesso para rua.
— Só olhando a rua e pensando. — Comento quase em resmungo de tão desanimada que estou agora. Liv não merecia passar por tudo isso comigo, ela diz que não se importa de cuidar da sua melhor amiga/irmã.
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A caminho da liberdade
RomanceCassandra Miller foi brutalmente violentada há um ano. Sua vida não é mais a mesma desde então e ela se sente muito incapaz de sobreviver ao terrível trauma que ficou plantado no seu corpo e na sua mente. Achando que nunca mais teria uma vida normal...