Cansado de correr, Pitter decidiu dar uma pausa, já estava escuro e ninguém o encontraria naquele bosque tenebroso. O menino, com respiração ofegante, limpou o rosto sujo de lágrimas misturadas com o suor e o sangue que ainda escorria em seu nariz.
Apoiando as mãos sobre as pernas sentiu uma imensa fraqueza cair sobre si, uma dor que não sabia explicar, mas era intensa ao ponto de fazê-lo cair de joelhos sobre a terra. Muitos pensamentos cercavam sua mente, palavras duras e cruéis, o culpavam e o feriam." Um herdeiro que está prestes a se tornar órfão de verdade, já que o seu pai está em algum lugar no mundo prestes a ser morto por ser plebeu. E sua mãe? Onde ela está? Oh, é claro! Ela morreu para que o pequeno Pitter tivesse vida! Que generosa! É triste ver que seu sacrifício não valeu muito a pena... Teria sido melhor se ela tivesse sobrevivido..."
Pitter não sabia dizer o quanto aquilo pesava em seu coração.
Levantando os olhos para o céu, com a pouca força que restou em si, murmurou com a voz embargada
_Deus... Poderia fazer algo por mim? Algum sinal... Qualquer coisa que prove que vai ficar tudo bem! - as estrelas iluminavam o céu, mas não levavam as trevas que envolviam Pitter por não ouvir resposta alguma do seu querido Deus.
Suas lamentações foram interrompidas por um outro som que chamou sua atenção. Ele percebeu que aquele som não estava tão longe, e se parecia com uma voz feminina.
Se levantou devagar, e se esforçou para caminhar em direção ao que parecia ser um choro. Ainda que os pensamentos em sua mente insistissem para que não desse sequer mais um passo até lá, ele decidiu ir apesar do medo.
Por um momento pensou que pudesse ser uma alucinação, como se fosse sua mãe, chorando por ele. Também lhe ocorreu a esperança de ser seu pai, se mexendo entre os arbustos tentando chamar a atenção do filho, pois tinha vindo para buscá-lo.
Mas depois de passar por aquele estreito caminho entre as árvores, se intrigou com o que viu. Pitter ainda não sabia, mas aquela lembrança marcaria seu coração para sempre.
A luz fraca de uma pequena lamparina no chão,tocava a pele clara de uma menina loura, delicada e singela que estava sentada ao lado da lamparina, encostada numa árvore. Aquela luz iluminava apenas parte de seu corpo, mas não impediu Pitter de admirar sua beleza que lhe parecia angelical.
Ela estava com um vestido rosa, em sua orla bordada haviam machas que pareciam ser de lama, sua roupa estava suja assim como os seus cabelos e os pés descalços. Aquela pequena criança que abraçava os joelhos enquanto chorava compulsivamente, comoveu o coração de Pitter.Ele se aproximou vagarosamente daquela criatura miúda que mais parecia ser de porcelana. Ela soluçava entre lágrimas, murmurando alguma coisa que Pitter não conseguia entender.
Ele se baixou perto dela, mas a menina não parecia ter o notado ali, visto que permaneceu de bruços sobre os joelhos cobertos pelo tecido cor de rosa.Naquele momento, Pitter se viu confuso sobre o que dizer: estava em condições para consolar alguém?
Também não quis perguntar o que houve, pois parecia ter sido doloroso demais, e Pitter não queria ter que faze-la relembrar da razão de seu choro só para se explicar a um mero órfão.
Ou quase órfão.Ele estava realmente confuso.
Ainda buscando por palavras, olhou outra vez para aquele céu estrelado que os iluminava, mas dessa vez foi diferente. O ruído da menina aos prantos rompia o silêncio, que antes Pitter sentia ter sido a resposta de Deus, e nessa pequena faísca de esperança, sentiu como se alguma coisa mudasse em seu interior.
Voltando a observar a pequena garotinha, Pitter se viu ser inundado por um sentimento inexplicável, como se por um momento ele e aquela menina tivessem o mesmo coração: ferido, sem ninguém que lhe desse socorro. Ainda que Pitter não pudesse ver seu rosto, podia sentir sua dor.
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Destined Hearts
RomanceNum encontro quando ainda eram crianças, Angelynne uma simples menina do campo e Pitter, um futuro herdeiro, sentiram juntos o amor fluir em seus corações! Pois juntos se sentiam como se o caos que os cercavam não mais existisse, dessa maneira, cat...