Eu me sinto um protagonista Kafkiano.
Vocês todos fazem parte de uma estrutura que eu não entendo.
Excludente.
Estrutura essa que eu não participo.
Vocês mesmos fingem entender e se acostumam com seu funcionamento.
Mas no fundo, nem mesmo vocês que erguem ela a entendem.
Só sei que eu estou isolado.
Separado dessa instituição sólida e rígida, mas ao mesmo tempo abstrata.
Ela existe e exerce seu poder mesmo que ninguém a entenda.
Ela me projeta separado de todos vocês e me deixa à mercê.
À mercê de uma individualidade quase que única.
Não por eu ser raro, especial ou extraordinário.
Exatamente por eu ser Estranho, minha exclusão me faz estranho a vocês.
Vocês me ridicularizam pela minha miséria, me menosprezam pelo meu isolamento.
Mesmo eu tentando entender, "melhorar" e "evoluir".
Não existe mudança.
Esse é meu significado imutável, "Aquele que não faz parte".
Esse é meu ser, minha individualidade é minha maldição.
Nenhum de vocês me parecem pessoas, se assemelham mais a cachorros do que humanos.
Nenhum de vocês me mostram merecer paixão ou afeto.
Os mais anômalos tentam triscar e arriscar se aventurar na minha maldição.
Mas é só questão de tempo, até mesmo esses que sinceramente buscam me amparar.
Não podem, não conseguem e não fazem questão.
Já se tornou rotineiro, todos vocês fazem parte de uma esfera aonde eu não me encaixo.
Sou um forasteiro falando uma língua estranha, vocês não são humanos.
Se assemelham a máquinas, respondendo a um sistema uniformemente e servindo a ele magistralmente.
A esses que se aventuram na minha miséria não a esperança, "ele é um estranho", isso já basta.
Eu sou um "estranho", não a maior explicação nem necessidade dessa, só esse fato já basta.
Eu sou "alienado", esse fato já basta pra que ninguém questione.
Talvez eu seja o único ser humano que sobrou.
Talvez vocês que sejam irregulares.
Talvez eu sou o único que ouve um homem ler suas palavras em sua cabeça.
Talvez eu sou o único que tem esse homem questionando e demonizando todo ato e fala meu.
Talvez eu sou único.
"Não, você não é especial assim, você não é único, é estranho, isso sim..." ele repete na minha cabeça.
Eu sou estranho, não faço parte de suas instituições sociais e econômicas.
Vocês me humilham e riem com escárnio ou se enchem de curiosidade diante da minha condição.
Mas no final, vocês todos são iguais, fazem parte dessa gigante bolha que os defende e protege.
Essa mesma bolha que me excluí e me ataca.
Eu sou motivo de vergonha a vocês.
Sou um estranho.
Por isso sou menor.
Toda tentativa de tentar sobrepujar minha natureza miserável, é recompensada com nada mais que escárnio.
Eu só sinto inveja, não consigo amar nenhum de vocês, apenas inveja-los.
De participarem, se sentirem parte.
Eu me sinto menor, me sinto um aliem que nasceu no planeta errado.
E eu reconheço isso.
Não consigo falar com ninguém.
Nenhum de vocês me entendem.
E infelizmente não podem, não porque eu sou mais evoluído, mas porque sou menos, menor e mais simples.
Eu finalmente entendo agora e reconheço minha miséria.
Estou sozinho e um degrau abaixo de todos.
Minhas tentativas de participar de qualquer coisa é fútil.
Eu não vou mais me frustrar pedindo migalhas nem tentando reverter minha natureza.
É IMPOSSÍVEL, É FÚTIL MAS PRINCIPALMENTE, É PATÉTICO E VERGONHOSO.A minha natureza me impede, então eu irei abraça-la.
Não quero mais fazer parte e me machucar no processo.
Posso soar invejoso e egoísta, eu realmente sou. Como não seria? oque eu tenho a oferecer aos outros fora miséria?
Então eu seguirei sozinho, sem me lastimar ou esbravecer ante a minha condição.
É isso, é imutável.
Nenhum lorde, senhor ou entidade mudará isso.
Focarei minhas forças em ser melhor, melhor do que todos vocês.
Minha inveja me alavancará ou no pior dos casos me jogará em um abismo mais profundo.
Sinto pena de vocês que sequer simpatizaram e tentaram me ajudar... eu sou um miserável estranho.Sinto falta de todos os momentos em que me senti cheio.
Mas mesmo esses, nunca se comparam ao tamanho do meu vazio.
Sou incompleto.
Sou Estranho.
Sou alheio.
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Já se sentiu de fora do grupo hoje?
PoetryVocê alguma vez já se sentiu de fora do mundo?