Cap. 1

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11 de setembro de 2012. Pra mim, uma manhã habitual como qualquer outra, repleta de sono e olheiras resultadas da insônia que me atormentava há semanas, uma manhã regada a café forte e feição de indiferença oscilando com a preocupação do que fazer após o fim do ensino médio. Lá fora, na sala, ouvia o som da televisão relembrar pela décima primeira vez o atentado de onze de setembro nos Estados Unidos, as mesmas reportagens de todos os outros anos, com a diferença de vozes novas e um sensacionalismo cada vez maior. Bom, já era tarde quando saí do banho de toalha ao ouvir o celular tocar, era o Miguel, rejeitei a ligação e voltei pro banho resolvendo ligar pra ele depois que voltasse da minha aula de fotografia. Miguel era gay, daqueles estereotipados que você repara á uma quadra de distancia, adorava fazer caras e bocas e andava mais jeitosinho do que eu. Era meu melhor amigo desde que me entendo por gente, crescemos no mesmo condomínio então sempre se fez muito presente no meu dia, sendo assim inevitavelmente testemunhei o horror que foi a aceitação da família sobre a condição sexual dele, hoje em dia tudo lá ocorre muito bem, a decisão dele de sair do armário já é até tida como ato de coragem levando em conta toda chacota que passou na época. Minha mãe tem um pé atras com o Miguel mesmo que nunca tenha dado pitaco na nossa amizade, apesar de negar que seja pela sexualidade dele, no fundo eu sei que não quer que eu ande com toda população LGBT da cidade que fala com o Miguel, tá exagerei, mas ele realmente é bem popular.
Depois do banho troquei de roupa, peguei a bicicleta e fui pra minha aula. A Sophia e o PV (como todo mundo chama o Pedro Victor) me cumprimentaram quando me viram, o pv deu um selinho ao qual não reagi, bom, eu tinha ficado com ele bêbada numa festa e tô levando isso há 3 semanas, mas não gosto dele dessa forma apesar de saber que ele sim, sei que é errado mas também não acho que ele esteja levando a sério nem que faz o tipo que corta os pulsos ouvindo Caetano Veloso por um coração partido.
Quando a aula acabou voltei pra casa e finalmente resolvi retornar a chamada do Miguel, o que eu não imaginava era que essa ligação seria a porta de entrada pra um monte de confusão na minha vida e coração dali pra frente.

Call on

- Oi, bi!
- Alice, sua cretina! Preciso falar mais uma vez o quanto odeio que só atenda esse celular quando tá afim?
- Você mora praticamente aqui do lado então se fosse algo urgente tipo sua casa pegando fogo eu já saberia, deixa de bancar a bicha escandalosa e me fala o que é.
- Tenho dois convitinhos pra te fazer, um é formal mesmo e você precisa ir pra que eu não me suicide de tédio.
- Lá vem...
- Ah para, eu já te dei banho bêbada e acredite eu não gosto de tocar em seios, você me deve essa.
- Hahahaha palhaço, fala aí.
- Tenho um casamento pra ir na quinta da semana que vem, é de uma tia que eu não vejo há uns 4 anos e eu nã...
- Tá bom, bi, eu vou.
- Han... assim tão fácil, jura? Não vou precisar ameaçar me jogar do viaduto?
- Não hahahah, eu gosto de ver casamentos, fora que vai ser legal fotografar lá, se sua família for tão cheia de frescura quanto você a decoração vai tar linda.
- Você quis dizer de bom gosto.
- Só não devem ter toda sua modéstia. Tá, e qual o outro?
- A parada gay é no sábado e você vai comigo, não é uma pergunta.
- Hahahaha pra ir segurando a calda do seu vestido pra que ele não toque o chão, princesa?
- Não sua burra, eu só quero sua companhia, pô.
- Quer que eu segure vela pra você com quem dessa vez Miguel?
- Hm, sabe o pv? Aquele bonitinho que você pegou na calourada mês passado? Então, não é ele, logo você não precisa se preocupar com isso até lá benzinho, a não ser que... me apresenta?
- Hahahaha ridículo, vou ver o que posso fazer, se eu for mesmo preciso dormir na sua casa...
- Porque é longe pra caramba da sua né? Quer passagem aérea pra vir daí pra cá?
- É só que sei que você vai querer voltar muito tarde e não quero acordar ninguém aqui, mas já que não me quer aí né eu...
- Nem começa com a chantagem, eu deixo você dormir agarradinha no meu tanquinho, aproveitadora.
- Tudo que sempre sonhei cara, você nem imagina o quanto eu idolatro suas costelas.
- Babaca, era só isso, mas dá um pulo aqui quando der? Faço brigadeiro pra alimentar teu espírito de gorda.
- Realmente tentador hahahaha, mas pensei em algo melhor, vamo amanhã olhar roupa? A gente aproveita e escolhe o que vestir no casamento.
- Minha menina tá crescendo, gente, sabia que por um segundo deu vontade de falar que eu te amo? Meu orgulho. Vamos sim.
- O mesmo que perguntar se macaco quer banana. Então fechou, até amanhã...
- Beijo lice, valeu mesmo.
- Não vai sair de graça e até diria que você me deve uma, se no caso não fossem duas, né fofo? Hahaha, beijo...

Call off

Depois que desliguei falei com meus pais sobre os dias que passaria fora, atualizei meu blog com o fotoshoot que havia feito de uma amiga e logo depois fui jantar, usei a internet um tempo e depois dormi facilmente, diferente das noites anteriores. Amanhã vai ser um dia longo, tenho que escolher meu vestido pro casamento da tia do Miguel e decidi finalmente esclarecer pro pv que nao há nada entre nós.

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