Cap. 2

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Acordei excepcionalmente animada, fui pra cozinha e eu e minha mãe ficamos conversando sobre coisas aleatórias, até que ela toca no assunto que faz eu me irritar quase todos os dias. Minha mãe quer que eu dedique menos meu tempo a fotografia e mais estudando pro vestibular que seria daqui dois meses, sei que é pelo meu bem, mas segundo ela nada que ocupa meu tempo tem futuro. Levantei calada pra não bater boca mais uma vez e fui pra rua, decidi ir de pé mesmo até a casa da Sophia, queria a ajuda dela sobre como conversar com o pv. Ela me recebe com um abraço que só a própria sabe dar, a Sophia é a pessoa mais carinhosa e afetiva que eu conheço.
- Você já deve fazer idéia do porque de eu vir aqui né? - Perguntei já sentando no sofá.
- Imagino que por algo do pv, que foi?
- Eu não gosto dele Sô, não sinto desejo algum em beija-lo, só fiz aquilo por causa do álcool... - Falei constrangida.
- Que você não sente o mesmo acho que é nítido, mas já que não deseja ele por que continuou com isso?
- Fui levando por puro desleixo e talvez carência, tô errada, mas agora quero concertar isso, vou falar com ele hoje.
- Saquei, veio aqui porque quer que eu vá com você?
- Acho que não precisa, só queria saber se você acha que ele vai ficar magoado pelo o que eu fiz, afinal ele parece bem descolado pra se importar com isso mas se fosse comigo eu não iria gostar.
- Não Alice, relaxa, basta mais uma festa que ele encontra uma gatinha que faz a dor de cotovelo dele passar e ele esquece isso - ela fala revirando os olhos e sorrindo levemente.
- É, né? Vou parar de paranóia. - Falei devolvendo o mesmo sorriso.
Sophia e eu ficamos conversando mais um tempo sobre outras coisas até eu tomar coragem e marcar com o pv, mandei duas sms, uma pra ele e outra pro Miguel lembrando o horário de olharmos nossas roupas, a primeira dizia "Pê preciso falar contigo, vai lá em casa de noite? É importante." e na segunda só tinha "Daqui uma hora, bicha", o pv me respondeu em menos de dois minutos com um "Perfeito então, vai ser hoje, pequena." eu não entendi, na verdade tava com medo do que meu subconsciente pensou, e como o habitual não respondi. Fiquei mais uns 10 minutos com a Sophia depois fui caminhando com calma e pensativa pra casa, foi o tempo de tomar um banho e me trocar que o Miguel me aparece na sala gritando por mim.
- Quando falou que ia ver roupas achei que fosse em lojas e não todas as do seu armário - ouvi a voz dele se aproximando e entrando no quarto.
- Me troquei rápido, bocó, é que eu tava na Sophia na hora que te mandei mensagem, não me arrumando. - dei um empurrão de leve no peito dele - A propósito te deixo sim entrar no meu quarto sem bater tá? Quer a chave também?
- Se seu medo é que eu te veja pelada eu te digo que meu medo disso é ainda maior.
- Ô Miguel dá um tempo, vem logo. - puxei ele pela mão e fomos pra avenida pegar um táxi pro shopping, como sempre eu ri muito durante o percurso com ele cantando discretamente o taxista, é uma brincadeira interna nossa que revezamos, ele sempre diz não entender e odeia quando é minha vez e os caras realmente dão bola. Quando chegamos olhamos umas 5 lojas, ele se apaixonou por um smoking que valia mais que nossos 4 rins juntos no mercado negro então tivemos que rodar tudo a procura de um mais barato e parecido senão ele não pararia mais de dar chilique. Vi um na vitrine que praticamente só tinha alguns detalhes na gravata de diferente e tampei os olhos dele com as mãos.
- Que é isso? Tá maluca? - ele perguntou tentando puxar minha mão.
- É que eu sou fada madrinha pô, se eu fizer aparecer o smoking que você mais desejou na vida agora você me paga um milkshake?
- Não acredito bi!
- Paga? - falei rindo.
- Pago, deixa eu ver.
Tirei as mãos e ele deu aquele gritinho mudo básico e cênico, me deu um monte de beijo e a gente entrou na loja.
- Bom, acho que agora você me deve três. - falei brincando.
Tinham alguns vestidos também e eu me interessei por um, fui no "olhômetro" porque conheço bem meu corpo e tava com preguiça de experimentar, tinha certeza que servia e comprei. Escolhidas as roupas nós fomos lanchar, ele pagou o milkshake mesmo e eu ri. Miguel entreteu meus pensamentos que tavam voltados pro pv, mas não por muito tempo. Voltamos e primeiro deixei o Miguel em casa já que a minha era mais pra frente, quando eu passei a chave e abri a porta vi algo que nunca esperaria pra aquela noite.
O sofá da sala estava encoberto com algumas pétalas de flores assim como parte do chão, olhei surpresa pro pv que sorria, talvez esperando um agradecimento ou qualquer traço de felicidade no meu rosto ao ver aquilo.
- Gostou? - ele perguntou ainda sorrindo, parecendo mais satisfeito por ter me feito do que eu por ter recebido.
- Hm, é... inusitado, eu nunca tinha ganhado flores antes. - confesso com a voz baixa me esforçando pra sorrir como ele.
- Vem cá, senta aqui. - ele pegou minha mão e sentamos. - Sei que não faço o tipo romântico e que não demonstro tanto o quanto gosto de ti, mas acho que tá na hora da gente oficializar o que tem aqui, eu quero que você seja só minha. - ele disse doce mas ao mesmo tempo com firmeza.
- Han, Pê eu...
- Namora comigo lice? - aquelas palavras foram como três tiros pra mim, se fez um silêncio absoluto por uns 4 segundos.
- Uau, não esperava. Mas não posso agora Pedro, me dá um tempo pra digerir isso? A gente vai saindo e... - tentei remediar ganhando tempo.
- Tudo bem como preferir, eu entendo... te vejo sábado? - ele perguntou com aquele sorriso de quem ganha segundo lugar num campeonato.
- Eu fiquei de ir com o Miguel na parada gay no sábado... - falei devagar, meio arrastando culpa.
- Ah... - qualquer feição de felicidade mesmo que forçada foram sumindo devagar do rosto dele.
- Mas você pode encontrar a gente lá! Ele provavelmente vai ficar com alguém e eu ficaria sozinha, é muito divertido... - disse tentando reanima-lo.
- Ah não sei se pegaria bem hahahah, brincadeira, posso ir sim...
- É eu diria que você vai ser bem assediado. - falei com um sorriso de lado.
- E eu adoraria que você sentisse ciúmes disso. - ele falou e acho que corei. - Quer ajuda pra catar essas flores do chão?
- É eu e minha mãe realmente adoraríamos. - nós rimos - Onde você enfiou ela afinal? - perguntei olhando pra cozinha e reparando que ela não estava lá.
- Deve tar na praça do condomínio ou andando aí fora, expliquei a situação e ela me deu licença achando que...
- Entendi. - o interrompi e fomos mudando de assunto, fiz pipoca e vemos um filme qualquer na tv.
Depois que o Pedro foi embora eu liguei pra Sophia e expliquei o que havia acontecido, fiquei chateada por não ter sido corajosa o suficiente pra fazer o que tinha que ser feito, ela me encorajou e eu decidi que iria resolver tudo sem falta no sábado.

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