Cap. 3

530 16 7
                                    

A sexta passou rápido, fui pro curso e a noite fiquei andando de patins pelo condomínio com o Miguel, a gente gostava de fazer isso ouvindo música sempre. No sábado de manhã confirmei com ele que iria e fui procurar a roupa que usaria mais tarde, afinal nunca havia ido em uma parada gay antes e tinha a leve impressão que pelo menos todos os amigos dele iriam vestir rosa com pluma dos pés a cabeça. Optei por um vestido godê azul e uma sapatilha vermelha, de tardinha o Miguel foi me buscar e pedimos um taxi, enquanto esperávamos ele era torturado pelas cerca de 600 perguntas que minha mãe fez sobre o que iríamos fazer lá.
- Salvo pelo gongo - falei olhando pra ele e rindo quando o taxi buzinou. O caminho foi tranquilo, o sol ainda tava se pondo e não pudemos cantar o taxista já que ligamos pra ele com frequência. Quando chegamos Miguel foi comprar drinks pra nós dois enquanto nitidamente tentava avistar o garoto com quem tinha marcado.
Peguei o celular enquanto isso e fui checar minhas mensagens, tava entretida falando em um grupo do curso de fotografia quando Miguel se aproxima e ouço a voz dele me chamar, levanto a cabeça e avisto 3 garotas junto à ele.
- Lice essa aqui é a Luana, a amiga do show que comentei contigo aquela vez. - falou animado enquanto eu fixava o olhar na garota atrás dela que conversava com a terceira menina.
- Ah! Oi Luana, prazer, ele fala sempre de você. - na verdade ele não falava, e se falava nunca dei atenção o suficiente pra lembrar.
- Digo o mesmo, toda vez que tá comigo ele comenta algo de vocês. - falou sorrindo e me cumprimentando com a mão.
Trocamos mais algumas palavras e ela finalmente inseriu as outras duas na conversa.
- Ah, essas papagaios de pirata aqui são minhas amigas. - ambas interromperam o que tavam falando e acenaram com a mão e um sorriso educado, uma delas tava de saia e um croped, a que eu avistei assim que chegou tava com uma calça preta colada, all star e uma babylook folgada marrom com umas palavras em inglês as quais não dei muita atenção. Tava meio de perfil e com parte do rosto coberto pelo cabelo comprido e vermelho, seu sorriso era lindo.
- Oi. - falei devolvendo o mesmo sorriso olhando diretamente pra ela por cerca de 3 segundos. O suficiente pra analisar cada detalhe seu que tava no meu campo de visão.
Miguel pra variar começou a tagarelar, falou com Luana um tempo até ela se despedir de nós e seguir com as meninas que sequer chegaram a se apresentar. As segui com o olhar um tempo e só desviei a atenção quando o Miguel deu um grito.
- Aqui! - Falou alto com o braço erguido chamando um rapaz moreno de moicano até ele.
Dei um sorriso e não quis
atrapalha-los, falei pro Miguel que iria comprar um lanche e fiquei circulando pelo calçadão, coloquei os fones e dei play em uma playlist do Red Hot Chili Peppers. Tava me divertindo com tudo ali, todo mundo parecia feliz, tinha muitas cores pra todo lado e a impressão que eu tinha é que todo mundo ali se conhecia. Vi um espacinho em um dos bancos da calçada e resolvi sentar um pouco.
Dentre as pessoas ali eu avistei a Luana e as amigas dela do lado de um Food Truck, um pouco distante mas dava pra ver nitidamente as 3 junto com dois rapazes que pareciam formar um casal. Todos estavam com copos na mão, a garota de saia ria alto, eu conseguia ouvir de onde tava. De relance olhei de novo e vi a de marrom levantando a blusa até uns 4 dedos acima do umbigo, parecia mostrar uma tatuagem, mas não consegui ver. Eu tava me esforçando pra ninguém notar meus olhares insistentes, e ninguém parecia ligar mesmo, menos quem eu menos queria que me notasse. Ela olhou pra frente e encontrou meu olhar, virei o rosto de uma vez envergonhada e mexi no celular sem me atrever a olhar de novo. Depois de alguns minutos senti um perfume maravilhoso perto de mim, tocava Can't Stop na hora. O milésimo de segundo em que leventei os olhos e os bati nela foi inexplicável, meus pés e mãos ficaram tão gelados que poderia tocar Let It Go de fundo na hora, pelo o que me conheço corei. Ela estendeu a mão pra mim enquanto mordia o lábio sorrindo como quem dizia "eu vi você me olhando", só que de um jeito ingênuo. Tava com medo de estender a mão e ela sentir o meu suor frio então passei no vestido antes e a cumprimentei sem dizer uma palavra, eu gostava de olhar pra ela, não sei o porquê, mas eu gosto.
- Tudo bem? - ela disse depois de eu soltar sua mão, ainda me fazendo olhar pra cima por estar de pé e eu sentada, todo o cheiro da blusa dela era apurado pelo meu olfato cada vez que eu aspirava, a voz dela era rouca e suave, doce, falou baixo.
- Tudo... e você? - perguntei devagar e tentando parecer o mais natural possível.
- Não parece, você parece deslocada. - falou ignorando a minha pergunta.
- Imagina, só tô espairecendo enquanto o Miguel paquera.
- E por que não faz o mesmo? Tá cheio de gente aqui, vai se divertir. - fala tirando o cabelo do rosto depois de um vento.
- Não sei se azaração de uma noite faz meu tipo de diversão, já tá legal assim.
- Ah para, tá nada, vamo dar uma volta. - estendeu a mão pra mim e eu levantei sem saber bem porque nao dei uma desculpa qualquer.
Poucos passos a frente ela parou e comprou um algodão-doce, enorme.
- Você só vai acabar isso na parada gay do ano que vem. - falei baixo me atrevendo a fazer uma gracinha pra não parecer tão envergonhada.
- Hahahah, você vai me ajudar a acabar com ele em menos de uma hora. - falou pagando sem me olhar.
- Sem chance.
- Vai sim. Posso saber o que cê tava ouvindo?
- Nada demais, sou bem eclética.
- Deixa eu ver. - pegou um dos fones que tava jogado na frente da minha barriga e começou a cantar Otherside de olho fechado e fazendo o algodão doce de microfone.
- Hahahaha tá todo mundo olhando.
- E você liga? Se esse for o problema vem cá. - segurou de leve meu pulso e me guiou fazendo atravessar a avenida e andar um pouco, me levou pra um lugar arborizado, bonito, acho que era a área externa dos fundos de algum prédio.
Sentamos uma ao lado da outra e ela colocou um fone nela e outro em mim, ouvimos algumas músicas comendo o algodão-doce enquanto conversávamos sobre músicas, filmes, e ela sobre jogos enquanto eu sorria ouvindo como se entendesse alguma coisa.
- Se sua vida for tão enrolada quanto seu fone você tá ferrada. - ela comentou olhando ele embolado entre nós.
Passou a mão na minha barriga pra pegar ele e desenrolar, foi um toque sutil e inesperado, tão de leve que eu arrepiei e levantei a cabeça.
- Que assustada. - falou rindo de mim enquanto fiz careta. - Quer dizer que você é sensível na barriga?
- Não é isso, é só que... - não me deu nem tempo de terminar a frase e começou a fazer cosquinha na minha barriga me fazendo deitar no chão, ficamos rindo enquanto ela fazia por uns 5 minutos, depois foi diminuindo e só passando os dedos pelas laterais dela um tempo esperando que eu arrepiasse pra me zoar.
- Não vai rolar, você já tirou toda sensibilidade dela com essa sessão de tortura, desiste.
- Droga. - falou divertida parando de me tocar e pegando o celular dela que tinha vibrado. - Mas aposto que você tem mais lugares sensíveis. - disse olhando pra mim depois de ler alguma coisa nele e levantou.
- Bom, meu pé é bastante, me lembre de nunca ficar descalça perto das suas mãos torturantes. - falei tentando fingir que não vi maldade no que ela disse e sentei.
- Hahahah certo, certo... eu tenho que ir Alice, foi bom conversar contigo.
- Ok ok, acho que já tá na minha hora também, me diz ao menos teu nome.
- Se você se interessar de verdade nesse detalhe vai saber como e por quem descobrir hahahah. - me deu um beijo no rosto e me abraçou meio de lado com um só braço enquanto segurava o celular na outra. Me deu um leve aperto na cintura e saiu andando olhando pra tela do aparelho, só parou pra atravessar a avenida.
De relance olhei pra um rapaz andando com uma câmera e na hora lembrei que tinha marcado de encontrar o pv, puxei o celular do bolso de imediato e vi 4 chamadas perdidas dele, resolvi mandar mensagem.
"Pedro, você veio? Foi mal, tava no silencioso."
Sentei novamente enquanto esperava ele responder.
"Tô aqui com o Miguel, não consegui falar contigo então liguei pra ele achando que te acharia, cadê você?"
"Ok, espera, chego. Não sai daí."
Refiz o caminho que havia feito com a ruiva, tava confusa com tudo nas ultimas três horas, mas tava estranhamente feliz. Fui andando devagar e despreocupada com um meio sorriso no rosto até avistar os dois.

A Nova ColoridaOnde histórias criam vida. Descubra agora