III. O tempo, o velho e o louco.

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Foi tão rápido quanto um piscar de olhos. Em um milésimo de segundo eu estava caindo no chão, no outro eu estava tocando algo na luz e, depois, escuridão de novo.

Eu sentia minha cabeça latejar, como se meu cérebro estivesse dando voltas dentro do crânio. Apertei os olhos, mas ainda com a mão estendida eu toquei outra coisa, era macio, não pontudo como antes.

Me segurei com força naquilo, dessa vez não poderia deixar escapar.

– Garoto, você consegue me ouvir? – Era a voz de Amelia, ao meu lado.

Apertei mais as pálpebras sobre meus olhos, não sei se conseguia abri-los, ainda tinha medo de encarar aquele círculo gigante de luz assustadora.

– Droga, eu já volto, não se movam. – Ela falou novamente, com a voz se distanciando aos poucos.

Dessa vez, percebi que o que eu segurava era uma blusa, era o ombro de alguém, e a pessoa segurava meu braço de volta.

– Ai, ai. – Resmunguei, abrindo os olhos e me decepcionando um pouco por não ver luz alguma, apenas o céu cinza, a neve caindo fraca e Mack ao meu lado, minha mão sobre seu ombro e a sua segurando meu braço.

Acostumei a visão turva com o cenário em minha volta.

– Mack, o que- O que aconteceu? – No meio da frase, pude sentir minha garganta seca, então levei um segundo para não sair com a voz falhada.

– Você viu a luz. – Ele falou, me encarando com seus olhos cintilantes e o sorriso com os dentes meio tortos.

Pensei em perguntar como ele sabia sobre a luz, se ele já havia visto, e principalmente pensei em perguntar quem era Harold. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer uma dessas coisas, minha mãe veio correndo ao nosso encontro, examinando cada centímetro do meu corpo, perguntando onde doía, onde estava machucado.

– Mãe, eu estou bem, tá tudo bem. – Repeti essa mesma frase algumas vezes, até que ela parasse e me ajudasse a levantar.

A essa altura, ela já havia agradecido Amelia mil vezes e falava que iríamos imediatamente ao hospital, enquanto caminhávamos até a porta de entrada de casa.

– Vamos te levar até o doutor Kayuri, vamos. – Ela estava apressada, andava de um lado para o outro atrás de suas coisas. – Querido, onde estão as chaves do carro?

– Na gaveta da escrivaninha. – Ouvi meu irmão gritar do andar de cima, mas também ouvi seus passos se aproximando. – O que aconteceu?

– Vamos ao médico.

– Não, mãe, não precisa. – Finalmente falei. – Eu estou bem, juro, só foi uma quedinha.

Ela me olhou avaliativa, como se estivesse lendo minha mente pra descobrir se eu estava mentindo. Suspirei pesado, estava cansado, e com um pouco de dor de cabeça, mas jamais falaria isso para a mulher na minha frente.

– Eu estou bem, nada fora do lugar. – Assegurei, me aproximando dela. – Posso subir pra fazer o dever de casa?

Ela ainda me olhava com uma das sobrancelhas arqueadas e as mãos na cintura.

– Tem certeza? – Foi tudo o que ela perguntou, e com isso eu já sabia que havia vencido.

– Sim, absoluta.

– Certo... Então vai, mas se sentir algo, me avise. – Mamãe relaxou a postura, mas quando disse a última parte de sua frase, ela apontou o dedo em minha direção, como um ultimato.

Depois disso, eu apenas sorri o mais calorosamente possível em sua direção e concordei com seus termos. Subi correndo pelas escadas, meu irmão já não estava mais lá, devia ter voltado pro seu projeto.

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⏰ Última atualização: Jan 19, 2022 ⏰

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