Pisquei meus olhos algumas vezes, antes de me acostumar com a luz dos raios solares que cortavam a janela do quarto, invadindo o espaço e me impedindo de cochilar por mais alguns minutos, que posteriormente se tornariam horas.
Tentei virar para o outro lado, mas já era tarde demais. Perdi o sono para o maldito sol outra vez, e nunca aprendia minha lição. Odiava cortinas então não as coloquei em nenhum lugar da casa, não era necessário, não saía do quarto de banho sem minhas roupas de baixo.
Aquela manhã me parecia particularmente amargurada. Me levantei com uma carranca já no rosto, seria um dia terrível. Minha tese não estava pronta, mas o doutor Podowski certamente me cobraria satisfações, e era isso o que tornaria aquele dia, um desastre.
Uma pessoa crescida continua devendo satisfação, não para seus pais, mas sim para seus superiores, e isso, na minha opinião, era um ultraje na maioria das vezes. Odiava o sistema de pirâmides que fundavam a sociedade, mas o que mais eu poderia fazer?
Ouvi leves batidas na porta, e eu permiti a entrada de meu mordomo, Geoffrey.
– Bom dia, senhor. Seu café está pronto, e a madame Nora está preparando suas vestimentas para a reunião com o conselho. – Ele falou, com sua típica postura de respeito.
– Obrigado, Geoffrey, e já falei que não precisa me chamar de senhor, não sou seu superior, mesmo que trabalhe para mim. – Eu disse, já me levantando, vendo que ele deu um pequeno sorriso.
– Ainda acho estranho te chamar de Harold, senh- digo, Harold. – Geoffrey se corrigiu rapidamente e me direcionou um sorriso amarelo de vergonha.
– Está tudo bem. – Me aproximei, tocando seu ombro. – Vou arrumar a cama e já desço para o café, chame Nora para se juntar à nós.
Embora estivesse inclinado a contestar, o rapaz resolveu aceitar minhas "ordens". Creio que achava que eu era maluco, mas como eu disse antes, eu odiava o sistema, e todas as coisas "normais" que estão inclusas nele.
Assim que terminei meus afazeres, coloquei um roupão confortável e calcei meus chinelos. Gostava de ter companhia na mesa, e agradeci por ter Nora e Geoffrey comigo na casa, caso contrário, seria sempre vazio e silencioso. Nós três comemos juntos, a cozinheira já havia comido antes e o jardineiro chegou quando a comida toda havia acabado, mas pedi que preparassem algo para o homem.
Gostava de manter um local harmonioso dentro de casa, pois sabia dos problemas que aquelas pessoas enfrentavam lá fora, então queria que alí fosse seu pequeno refúgio (mesmo que de pequena aquela casa não tenha nada).
O resto da minha manhã não foi tão interessante ao ponto de narrá-la detalhadamente, então vou resumir. Vesti minhas roupas, com Nora fazendo questão que tudo ficasse impecável, peguei minha bengala, já que não poderia andar sem ela pelas ruas, e fui ao trabalho. O dever chama.
O automóvel parou em frente ao prédio enorme, ficava bem no centro da cidade de Danton. Era a Universidade de Saint Anna, a maior do estado, com grandes laboratórios, pessoas ricas e privilegiadas, e muita corrupção. Mas era onde eu obtinha recursos para minhas pesquisas, e mesmo não gostando, era fundamental para a minha sub-existência.
A reunião com o Conselho foi na sala onde gostamos de chama de Sede dos Chapeleiros. Todos usavam chapéus pretos, os alunos usavam boinas, os graduados chapéus coco, e os líderes, cartolas.
Acho que esqueci a minha em casa.
Foi uma reunião rotineira, sobre os avanços da pesquisa que estávamos realizando, e Podowski acreditava que podíamos ter a tão aguardada solução para a guerra. Eu o chamaria de louco, se não tivesse uma parte de mim que, ironicamente, concordasse com aquele lunático.
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Abaixo do Tempo
Ficção AdolescenteHarry Northern era um garoto de 17 anos em seu último ano do ensino médio, e tudo o que ele queria era acabar com os sonhos loucos que estava tendo e, principalmente, criar coragem para chamar Omar Al-Bakir para sair. Entretanto, em uma noite turbul...