Sejam todos bem vindos

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     A primeira manhã de Fevereiro era o pior dia para se estar no Elite Way School. Simplismente por ser a data em que os veteranos voltavam das férias e os novatos chegavam. Sim, um verdadeiro inferno.

Emilia sabia muito bem o quão turbulado e cansativo aquele dia estava fadado a ser. Três semanas atrás, quando a diretora Celina lhe pediu para cordenar os alunos mais velhos, apresentar a instituição para os mais novos, e manter a ordem – tudo no mesmo dia – concordava que deveria ter levantado o dedo do meio e mandado a mulher ir a merda, no entanto, como uma boa líder do conselho estudantil, apenas disse; "Claro, será um prazer", em um sorriso simpático.

Bom, não seria um prazer. E gostaria de poder dizer isso a qualquer um que ousasse perguntar, mas sabia o peso das suas atitudes e todas as consequências que aquilo poderia vim a acarretar. Ninguém ali estava interessado em saber o que o outro queria. Ninguém se importava.

Com um olhar pouco interessado, levantou as vistas e tediosamente observou o ambiente ao seu redor. Gritos, berros e cochichos. O pátio estava lotado. Garotas e garotos andavam apressados de lá para cá, conversando eufóricos uns com os outros. Alguns mantinham os olhos vibrados em telas de iPhones, se comunicando por mensagem de texto, chamada de voz ou até mesmo de vídeo. Também haviam pais de todos os tipos. Pais chorosos, pais estressados e é claro, pais ansiosos, que corriam da direita para a esquerda com dezenas de malas em mãos, enlouquidos em busca de informação.

Ao canto, perto das árvores, uma mãe ajeitava o uniforme perfeitamente passado de uma garota. Era visível o incômodo dela, embora permanecesse com um falso sorriso no rosto a todo momento em que a mais velha lhe especionava dos pés a cabeça. Emilia achou graça. Por mais que negassem, a maioria dos jovens ali não eram eles mesmos. Eram apenas fantoches dos próprios pais. Filhos criados e idealizados para realizar sonhos que nunca seriam propriamente deles.

Mas não podia julgar. Sabia muito bem que vivia em um mundo de aparências, onde quase todas as pessoas se mostravam diferentes do que realmente costumavam ser. Ela por exemplo, dentro daquele conjunto de roupas coloridas, parecia mesmo uma boa e inocente garota.

"Uma filha perfeita".

Ao menos era assim que seu pai costumava lhe descrever, quando estufava o peito orgulhoso e lhe apresentava para uma roda de amigos engravatados.

O problema disso era que Emilia não era inocente, muito menos boa...

–– Ei! Você está me ouvindo!?–– uma voz gritou, um pouco distante, mas perto o suficiente para tirá-la dos próprios pensamentos.

–– O-Oi!–– exclamou assustada, encarando o garoto a sua frente que estralava os dedos próximo demais do seu nariz. Parecia centrado em querer chamar sua atenção a todo custo.–– Desculpa, do que estava falando?

O loiro voltou para o lugar que estava sentado e de cara emburrada a fitou.

–– Você ouviu alguma palavra do que eu disse nos últimos vinte minutos?–– perguntou, de braços cruzados. Quando Emilia mordeu os lábios num ato de culpa ele bufou inconformado.–– Francamente, não sei como ainda converso com você Alo.

–– Sinto muito vossa realeza.–– Emília sorriu para o garoto. De vez em quando ele parecia muito uma criança birrenta de cinco anos presa no corpo de um adolescente ranzinza de dezoito.–– Esse dia mal começou e já quero que termine.

–– Nem me fale, você já viu os novatos?–– O loiro olhou com desdém para o pátio.–– Cada ano que passa esse colégio decai cada vez mais. Eu sequer deveria ter voltado para cá. O que aconteceu ano passado foi traumatizante, não me sinto protegido aqui...

Camaleões | Rebelde Netflix | Andi e EmiliaOnde histórias criam vida. Descubra agora