Parte Dois

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Kageyama colocava mecanicamente a comida na boca enquanto observava assustado o ser humaninho sentada em sua frente. Hinata comia de forma desajeitada, sujando sua cara quase por inteiro, ajeitando constantemente as penas para conseguir alcançar a comida na mesa em estilo ocidental.

O que diabos estava acontecendo ali?

"Acabei, Tobio-chan!"

Kageyama pulou na cadeira ao ouvir seu nome sendo chamado, e congelou as orbes na pequena figura. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo, ainda esperava que Tanaka e Nishinoya-senpai aparecessem a qualquer momento para anunciar que havia caído em uma pegadinha, e sua ansiedade apenas aumentava a cada segundo que se estendia sem que nada disso acontecesse. Mesmo assim, não deixou de estranhar quando seu primeiro nome fora usado, já que Hinata nunca havia o chamado daquela forma antes.

Levantou-se da cadeira de forma insegura, observando o ruivinho saltando do outro lado e correndo até parar em sua frente, dando pulinhos de forma animada, sorrindo sem qualquer motivo aparente. Uma pequena parte do cérebro do moreno, uma que não tentava desesperadamente achar uma explicação para aquela realidade estranha onde Hinata não passava de uma criança ainda mais elétrica do que sua versão adolescente, não conseguiu evitar de pensar que aquilo não estava tão diferente do normal, afinal.

Como em um choque de realidade olhou para o relógio da cozinha, constatando que se enrolasse um pouco mais, estaria irremediavelmente atrasado. Trincou o maxilar, pensando que, mesmo naquela bizarra situação, não poderia se dar ao luxo de perder as aulas ou, menos ainda, os treinos.

Pegando o pulso do pequeno da forma mais delicada que podia, saiu apressado para o banheiro, mas, chegando lá, percebeu que seu plano de fazer Hinata se limpar não daria certo pelo simples motivo do ruivo ao menos alcançar a pia! Grunhiu irritado e pegou uma toalha jogada por ali, abaixando-se na frente da frenética criança, hesitando por um momento antes de fazer o que estava prestes a fazer. Quando, pelos céus, imaginara limpar o rosto de um Hinata de não mais de seis anos?

Passou o pano pela região suja o mais rápido e delicado que pode, murmurando para que o menor ficasse quieto e segurando seu queixo, torcendo para que não o estivesse machucando. Levantou-se ao se dar por satisfeito e voltou para seu quarto, revirando suas roupas até achar as menores possíveis. Por sorte, encontrou algumas de sua infância e não tardou a virar para o menor, arregalando os olhos quando viu que ele pulava incansavelmente em sua cama. Antes que se desse conta, seu corpo se impulsionava para frente e pegava o pequenino em seus braços, tirando-o dali, o coração acelerado pela possibilidade de uma queda.

Tentava ignorar os protestos de Hinata, que insistia em querer voltar a brincar, enquanto se ajoelhava no chão, colocando-a em sua frente. Kageyama apenas encarava-o, sentado em seus tornozelos, tentando acalmar o coração enquanto raciocinava sobre o que acabara de acontecer. Acabou se dando conta de que procurar por suas pequenas roupas não havia adiantado de nada, afinal, nunca na vida ousaria trocar aquela figura ruiva.

Resmungando em frustração e decidido a não permitir que aquelas risadas infantis deixassem-no louco, separou o menor moletom que conseguiu encontrar e, com a ajuda atrapalhada da criança, vestiu-a e deu-se por satisfeito ao observar que a peça o cobria quase por completo, escondendo o pijama infantil. Precisou apenas dobrar várias e várias vezes as mangas, mas isso era bem melhor do que trocá-lo por completo, então resolveu não reclamar.

Pegou as mochilas e as bolsas esportivas e as jogou nas costas de forma desajeitada, segurou o pulso do pequeno e foi em direção da porta de entrada. Encarou os pequeninos sapatos ao lado dos seus e, com um balanço de cabaça, decidiu que a aparição de sapatos de criança em sua casa eram, definitivamente, a coisa menos estranha que lhe havia acontecido até aquele momento.

Little RedheadOnde histórias criam vida. Descubra agora