Parte Quatro

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A professora já explicava alguma coisa próxima a lousa, mas Kageyama parou de prestar atenção nela logo após a bronca que levou por chegar atrasado. Estranhamente, ninguém falou nada sobre a criança ainda em seus braços.

Hinata, por sua vez, parou de rir assim que entraram na sala cheia de adolescentes. Nem mesmo as outras crianças presentes (e estranhamente silenciosas) na sala pareciam fazê-lo se sentir mais calmo. Tobio, então, arrastou uma mesa para o lado da sua e deixou-o sentado ali, pensando se o pequenino estava assustado agora como se assustava ao conhecer algum oponente muito forte na época em que o mundo ainda era normal.

Se sentia estranhamente incomodado em relação à criança quieta ao seu lado. Era uma sensação semelhante à que tinha em quadra, quando Hinata começava a se sentir intimidado por algum motivo e Kageyama tentava animá-lo de alguma forma. Era um dever seu fazer isso, eram parceiros afinal. Não poderia contar com Hinata se este não estivesse em condições para jogar.

Pensando dessa forma, arrancou uma folha de caderno e alguns lápis de seu estojo, segurando-os hesitante por algum tempo antes de virar-se para o pequeno.

"Hey, Hinata". Percebeu que o outro se encolhia mais ainda contra a cadeira gigante na qual estava acomodado, mas não sabia se fora pelo nome que usou ou pelo sorriso que dava para tentar ser simpático. "Shouyou", tentou de novo. "Você quer desenhar um pouco?"

As mãos que estendiam o papel e os lápis para ele tremiam um pouco e, quando o sorriso começou a se formar do rosto do pequeno, Kageyama temeu que ele começasse a gritar e o levasse a ser expulso da aula.

"Quero sim, Tobio!"

Para a surpresa do maior, a resposta veio baixa e contida, como se o pequeno soubesse o que estava em jogo. Pegando os materiais oferecidos, ajeitou-se e começou a trabalhar tranquilamente, um sorrisinho bobo estampado na face infantil.

Kageyama, então, resolveu finalmente prestar atenção ao que a aula dizia respeito. De tempos em tempos, o pequeno atrapalhava suas anotações para mostrar-lhe o que fazia. Com um embrulho no estômago, Tobio lembrou-se dos momentos em que passaram juntos estudando ainda na madrugada, quando Hinata fazia a mesma coisa: tirar-lhe de sua lógica e de seus exercícios para mostrar os seus próprios.

Antes Kageyama odiava momentos como aqueles, achava que o ruivo estava apenas tentando atrapalhá-lo em seus estudos ou arrumando desculpas para parar com as atividades. Mas agora ele pensava se Hinata não estava, mesmo sem ele mesmo perceber, procurando sua aprovação e ajuda até fora da quadra. Ao olhar para o ruivinho tão concentrado ao seu lado, não pode deixar de sentir o peso familiar da culpa pesar em seu peito.

Nunca quis magoar Hinata, não depois que o aceitou como companheiro de time, e bem sabia Kageyama como o baixinho sentia com intensidade, por isso não queria, de forma alguma, ter uma briga como a que tiveram na quadra há algum tempo, o que acarretou semanas sem se falarem. Prometeu para si mesmo tentar ser mais compreensivo com Hinata quando tudo voltasse ao normal ou quando o ruivo crescesse. Sentiu um arrepio de desespero subir por sua coluna e resolveu não pensar mais naquela possibilidade.

Sorriu para mais um desenho que o pequenino fez e lhe forneceu mais uma folha em branco, voltando seus olhos à lousa logo em seguida.

Quando o sinal anunciando o intervalo entre as aulas bateu, um garoto algumas fileiras atrás de si passou correndo pelo corredor entre as carteiras, esbarrando em várias delas. Quando este movimento fez a cadeira do pequeno Shouyou se mover, Tobio estendeu a mão para ele quase que automaticamente, procurando protegê-lo de uma queda ou de bater em qualquer outro lugar que pudesse machucá-lo. Fuzilou com o olhar o menino que passara correndo, mas este nem percebeu, logo escapulindo porta afora.

Little RedheadOnde histórias criam vida. Descubra agora