No dia 14 de março do ano 299 Cipriano estava conversando com Satanás, e disse: — Ó amigo Satanás, qual é a ceia que me das hoje, em recompensa da minha fidelidade? Respondeu Satanás: — Vou dar-te uma ceia, ou antes, um prazer de que ficarás muito contente.
Cipriano ficou muito satisfeito com a promessa do demônio e retrucou: — Meu amigo e meu senhor, a quem amo e sirvo há dez anos, com muita fidelidade e imenso prazer, de tal modo que me parece só estou
satisfeito quando estou junto de ti. . . — Já que me amas e me és fiel, hei também de amar-te da mesma maneira. Mete a tua fava na boca e acompanha-me.
Satanás e Cipriano logo desapareceram, Oito minutos depois estavam sobre o palácio do rei de um país distante. Esse rei tinha uma filha de
nome Clotilde. Satanás abriu um buraco, no lado direito do quarto da princesa Clotilde, depois voltando-se para Cipriano disse-lhe: — Vês aquela bonita princesa? Respondeu Cipriano: — Creio que não há moça tão formosa que se lhe possa comparar. Falou Satanás: — Pois já vês, Cipriano, meu servo, que eu sou teu amigo e que te amo de todo o coração.
Ouvindo estas palavras, Cipriano postou-se aos pés do diabo, dizendo:
— Meu amigo e senhor, a quem amo de todo coração, corpo, alma e vida, se vós podeis fazer com que eu goze aquela donzela, juro-vos amar-
vos ainda mais do que até agora.
E Satanás: — Deixo-a ao teu alcance. Convence-a com as tuas astúcias e artes, pois eu estou aqui pronto para tudo quanto quiseres.
Depois disso, Cipriano tratou de fazer uma feitiçaria para que a princesa o seguisse ou mandasse chamá-lo. Mas nem Cipriano nem todos os seus
feitiços puderam convencer a princesa.
Desesperado, um dia entrou no palácio, foi ao gabinete do rei mas não o encontrou.
Irritado, ficou pensando meia hora no que haveria de fazer. De repente, o rei entrou pela porta do gabinete e bradou em alta voz: — Acudam-me! Acudam-me!
Cipriano mete a mão no bolso direito para tirar a fava e botá-la na boca, e fugir, mas não a encontrou. Meteu a mão no bolso esquerdo e tirou um
canudinho de prata, onde se escondia um diabinho.
Cipriano disse: — Quero já quatro castelos em volta de mim. — Executarei suas ordens, num momento, responde o diabinho.
No mesmo instante, chegaram cavalaria e escoltas de soldados, porém nada fizeram. O combate foi tão forte que o castelo ficou inteiramente
destruído.
O rei ajoelhou-se aos pés de Cipriano e lhe suplicou que o perdoasse pelo amor daquele a quem Cipriano mais quisesse. — Saberás que sou um mago e além de ser mago pratico arte diabólica. Tu vês que este palácio está destruído. Que me das tu, se eu fizer com
que o palácio se levante tal como era antes, e isto, imediatamente?
Depois proferiu as seguintes palavras: — Eu mando já pelo poder da magia negra que tudo faz, mando já, que este palácio seja levantado e fique no seu próprio natural e para golão
traga matão, vais de pauto a chião a molidão, pexela ispera regra retragarão, onite protual fines! Abracadabra!
Quando Cipriano acabou de dizer estas palavras o palácio ficou tal qual era. O rei que viu Cipriano fazer tantas maravilhas, cada vez mais
assustado, lançou-se pela segunda vez a seus pés e disse-lhe:
Peço-te, rogo-te, senhor, que me perdoe, se achas que te ofendi nalguma coisa. Cipriano retorna: — Levanta-te. Estás perdoado mas com a condição de que hás de me dar a princesa Clotilde, que é tua filha.
Ouvindo estas palavras, o rei tremeu e ficou imóvel, sem poder dar uma única palavra. Cipriano outra vez bradou: — Já te disse. Queres dar-me a tua filha Clotilde? Do contrário tudo será outra vez reduzido a nada. m rei nada respondeu. Voltou a gritar Cipriano: — Então, que digo eu?
m rei continuou silencioso. Irado, Cipriano deu um forte grito: — Por toda a força da minha arte mágica, negra e branca, mando que já todo este reino fique encantado, reduzido a penedos, o rei e a rainha
sejam duas pedras de mármore!
Em cinco minutos, foi executada a sua ordem! Só não pôde encontrar Clotilde por causa de uma oração que ela rezava todos os dias. Assim que
viu tudo encantado, menos Clotilde, Cipriano ficou irado contra Satanás e bradou em alta voz: — Satanás! Satanás! Aparece-me, meu. Satanás! — Aqui estou às tuas ordens, amigo Cipriano, disse o espírito das trevas. — Quero que me digas a razão por que eu não posso satisfazer os meus apetites com esta linda princesa. A princesa, que ouviu estas palavras,
disse em voz baixa: — Se tu és o demônio, peço em nome do Senhor para que só digas a verdade. Obrigado por invencível força divina, Satanás disse a Cipria
no: — Meu amigo saberás que há um Deus poderoso, que cobre o céu e a terra e tem poder sobre tudo. Se ele quiser, tu e eu não nos moveremos
daqui porque ele é poderoso. A princesa invocou o seu santo nome e eu não pude deixar de confessar a verdade além de que a princesa reza uma oração
todos os dias, que a livra de tudo quanto é tentação minha ou dos meus queridos filhos.
Ouvindo isto, Cipriano prostrou-se por terra e disse:
"Senhor dos altos céus, quem sois vós, que eu não conheço? E tu, Satanás, espírito maligno, demônio maldito, tu foste a minha perdição! Maldita
seja a hora em que fui concebido; maldito seja o ventre que me concebeu; malditos sejam o pai e a mãe de quem sou descendente; maldita seja a hora
em que nasci; maldito seja o leite que mamei; maldito seja quem tal criação me deu; malditos sejam quantos passos tenho dado nesta vida! Meu Deus, meu Deus, fazei já abrir as portas do inferno para tragarem este maldito homem; desapareça para sempre! Jesus, Jesus, Jesus, se ainda tenho salvação
respondei-me dos altos céus!"
Cipriano ouviu uma voz que lhe dizia: — Filho, continua com esta vida que tens, que eu te avisarei, com um ano de antecipação da tua morte, para cuidares da tua salvação.
Cipriano beijou a terra e agradeceu a Deus os benefícios que lhe fazia.
Porém foi engano de Cipriano, porque aquela voz que ele ouviu foi do próprio demônio, que para enganá-lo subiu aos astros para dar a
impressão de que era Deus que respondia å seus rogos.
Cipriano, tal corno um inocente, acreditou na voz que ouvia. Muito ingênuo devia ser para não se aperceber de que aquela voz não podia ser a de
Deus. Porém Jesus Cristo, bondoso e justo, não deixou de. perdoar a Cipriano os pecados cometidos pela ambição desmedida, que a ilusão pelo poder
de Satanás lhe havia causado. Cipriano retirou-se do palácio e quando já ia distante ouviu uma voz que lhe dizia: — Cipriano, Cipriano, vale-me nesta aflição pelo amor do grande Deus.
Cipriano tremeu e caiu por terra.
A boa princesa Clotilde chegou junto e lhe disse: — Eu mando em nome de Deus! Levanta-te!
Cipriano levantou-se de repente e fitou os olhos na linda princesa, dizendo-lhe: — Que pretendes? A princesa respondeu: — Invoco o santo nome de Jesus, para que tu, homem, não te movas daqui sem que vás restituir a vida de meu pai e de minha mãe e desencantar
tudo àquilo quanto tens encantado neste reino por uma arte oculta, maligna e poderosa. — Eu — disse Cipriano — tudo isto te faço, porém peço-te que me digas qual é a oração que dizes todos os dias, por causa da qual eu nunca
pude levar adiante os meus desejos, mesmo usando de todos os meus feitiços e encantos.
Responde a princesa:
— A oração é muito simples, te ensinarei de muito boa vontade. Escuta:
"Eu me entrego a Jesus e à Santíssima Cruz, ao Santíssimo Sacramento, às três relíquias que tem dentro, às três missas do Natal, que não me
aconteça nenhum mal. Maria Santíssima seja sempre comigo, o anjo da minha guarda me guarde e me livre das astúcias de Satanás.
Cipriano foi em seguida ao local do palácio, desencantou tudo quanto tinha encantado e disse para a princesa: — Pede sempre por mim nas tuas orações.
A princesa assim fez e obteve de Nosso Senhor Jesus Cristo o perdão para os pecados de Cipriano, que não levou senão mais de um ano naquela
vida enganosa.
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São Cipriano O Legítimo Capa Preta
SpiritualEste livro relata sobre São Cipriano, as suas histórias, rezas e simpatias .