A FEITICEIRA DE ÉVORA - PODEROSA BRUXA

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Os mouros que viviam na região portuguesa de Évora moravam em boas casas, tinham fartura, pois seu rei, Praxadopel, era benévolo e sábio. Os
cristãos, que habitavam as casas brancas, com cruzes de madeira, eram também felizes.
Esse monarca mouro — Praxadopel — era dono de riquezas fabulosas. Em Montemur, região de flores douradas, possuía um castelo que era
morada de anjos, talvez, tal a sorte de bonança que de lá se adivinhava.
Desse castelo hoje só ha ruinas, pedras sobre pedras, uivos de lobos e chacais. Chama-se hoje em dia o "Castelo de Giraldo". Dá arrepios o
velho castelo em ruinas. Mas, por que esse monte de pedras é importante para nosso relato sobre a Bruxa de Évora? E que nele, no fundo, enterrada no
meio das pedras, está a sepultura de Montemur. Nela foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e os pergaminhos escritos por Lagarrona, a
feiticeira de Évora.
Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos mágicos e de feitiçaria, através desses pergaminhos encontrou a casa da feiticeira, ainda em pé,
apesar dos séculos.
E essa casa é diabólica. . . No meio dela havia uma cova da altura de um homem. Pela banda de dentro era pintada, em toda a volta, de lagartos,
cobras e lagartixas. Do lado de fora, viam-se quatro sapos, e várias figuras de meninos, pequenos e louros, com sorriso sádico, tendo nas mãos molhos
de varinhas de ervas com os quais eles ameaçavam os sapos. Num dos cantos dessa casa mal-assombrada, a figura de um ser muito estranho — meio
monstro meio homem, como um cavalo-homem feito em pedra. O que representaria? Um centauro?
Uma estátua de mulher-serpente repousava noutro canto. Sereia negra? Mágica figura para bruxarias?
Pelas paredes da casa podiam ser vistas muitas pinturas de caracóis, bichos peçonhentos, rãs; escaravelhos sagrados, símbolos do Egito mágico,
vespas, carochas, tudo isso desenhado naquele antro de feitiçaria.
O chão era todo ladrilhado de negro e um frio envolvia todo o ambiente. Um letreiro pintado ao chão continha a inscrição fatídica:
“O primeiro a abrir esta cova verá coisas jamais vistas”. — Cava por diante para que resistas
Ao grande temor que teu peito prova.
Verás os sortilégios mágicos que prendem os homens,
O filtro do amor que amarra as mulheres.
Não temas, não temas, não mostres temor:
Acharás sucessos, magia e amor.
E por certo em tudo será vencedor."
Lagarrona, a grande bruxa, tinha, ao escrever esta inscrição, alguma coisa em mente: deixar seus segredos para quem soubesse interpretá-los.
E Frei Sis sabia analisá-los, pois desde que entrara para o convento estudava tudo sobre bruxaria e magia. Assim, as interpretações deste
pergaminho, hoje, pela primeira vez reveladas, colocarão vocês, amigos leitores, de posse de um conhecimento esotérico antigo, tão fabuloso como os
hieróglifos das pirâmides.
Lagarrona nestes escritos deixou a interpretação das cartas,
o método de deitá-las para adivinhar o futuro, feitiços para o amor, bruxarias para ganhar dinheiro, ter sorte no jogo, adivinhações por
meio de bacias d'água, de espelhos mágicos, por meio de cebolas, de perfumes.
Durante séculos estes segredos, gravados no pergaminho, ficaram na torre do Castelo de Malta, pois o sacerdote que os encontrou, após traduzi-
los para o português, ocultou-os em uma arca, a sete chaves.
Um certo Fausto, tido como homem infeliz, que desejava muito ser amado pelas mulheres e não conseguia seu intento, limpando a velha torre,
cheia de teias de aranha e morcegos, achou os escritos antigos. Desde esse dia sua vida mudou. Tornou-se rico e famoso. Foi o primeiro privilegiado
da sorte da Bruxa de Évora. E muitos o seguiram.
Tão rico como Praxadopel esse homem ficou. Mas, ao tentar escavar as paredes da casa da Bruxa de Évora, para adquirir maiores riquezas, morreu mordido por uma cobra venenosa. Diz a lenda que essa cobra-encantada nada mais era do que a própria bruxa, encarnada em cobra, como o
Boitatá de nossos índios, que nada mais é do que uma feia mulher que se modifica em cobra para comer os bichos pequenos e os seres humanos. . .
Lendas?
Superstição? Sabemos apenas como Shakespeare, "não creio em bruxas, mas que elas existem, lá isto existem..."

São Cipriano O Legítimo Capa PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora