(18%) Garras gélidas e intenções distorcida

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Fecho os punhos repetidamente, sentindo a tensão crescendo

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Fecho os punhos repetidamente, sentindo a tensão crescendo. Minha visão começa a ficar turva de tanto segurar a irritação. Detesto pessoas que distorcem as coisas, que colocam rótulos sem pensar. Aquela mulher é odiosa! Enquanto a vejo se afastar, tudo o que penso é que ela não deveria estar aqui.

Quem ela pensa que é? Não me conhece, mas ainda sim, se atreve a julgar minha capacidade de discernir arte. "Como se ela fosse a curadora do mundo". Isso me coloca à beira do limite. Eu sei que fui sarcástica e, talvez, indelicada em minhas observações. Mas a verdade é que não me importo nem um pouco com o que ela pensa de mim. Eu não pertenço a esse mundo, pelo menos não mais.

Um amargor ácido começa a subir da boca do meu estômago, como se aquele encontro tivesse corrompido o que até então era uma experiência sublime.

— Não dê ouvidos a uma alma miserável como aquela. Ela acredita que o universo se curva aos seus caprichos, mas na verdade, é apenas uma mulher de espírito pútrido, sem nenhuma aptidão interessante. — A voz feminina, firme e altiva interrompe meus pensamentos, e quando me viro, sou pega de surpresa.

Diante de mim, uma mulher loira com curvas sensuais, e presença estonteante me encara sem reservas. Ela está usando um vestido prateado que brilha sob as luzes da galeria. Seu visual parece saído de um filme dos anos 20, mas o que mais me prende é sua máscara, feita de pequenos espelhos, que  criam um jogo de luzes que a torna ainda mais enigmática. Os cabelos dourados formam ondas perfeitas, caindo graciosamente sobre seus ombros, evidenciando o batom vermelho sangue que contorna sua boca em formato de coração contrastando com a palidez impecável de sua pele e delicadeza do seu maxilar.

Ela parece uma modelo, transbordando elegância e sensualidade. Porém, há algo de aterrador em seu olhar... O olhar é gélido, distante, quase cortante, como se nada ao redor a tocasse. O que me faz sentir pequena diante dela.

— Desculpe... eu... eu não quis ofender ninguém. —Tento me justificar, ainda acuada por sua presença avassaladora.

— Por que pedir desculpas? — Sua voz soa mordaz, quase sarcástica, enquanto ela inclina levemente a cabeça. — Você fez algo contra mim?

Embora o tom dela tenha soado racional, o jeito que foi dito causou um efeito visceral de mal-estar. Sinto minhas bochechas queimarem, e a vergonha se espalha por todo o meu corpo, como se eu fosse uma criança repreendida por um adulto implacável.

— Eu... eu fui rude, e...

— Você foi apenas autêntica, e isso eu respeito. — Ela me silencia, falando de maneira tranquila e cruel. — Pelo menos, quando se trata de um argumento inteligente.

Viro meus olhos para as telas, tentando dissipar o embaraço, e uma pintura prende minha atenção. Os tons de vermelho formam um degradê profundo e quase hipnótico, que se desdobra em ondas sobre uma praia coberta por uma areia granulada de tonalidade acinzentada. No centro da imagem, uma figura feminina está de costas para quem a observa, encarando o vasto oceano à sua frente. Seu vestido esvoaçante e os longos cabelos parecem familiares de uma maneira inexplicável, como se pertencessem a um lugar em minha memória que nunca vivi, mas sempre conheci. As pinceladas densas e vívidas criam um contraste entre o branco, cinza, vermelho e preto, intensificando a cena de forma que parece sugar meus sentimentos, me afogando em uma brisa invisível que a obra exala de maneira obsessora.

BONECA ELEITA (DARK +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora