Esmeray não conseguiu pregar os olhos naquela noite, principalmente depois da conversa que teve com vossa Majestade. Ela sabia que ele estava descontente com seu comportamento, todos os pontos que imaginava que seriam levantados foram discutidos, porém não esperava que o simples fato de ter protegido Jaden traria consequências tão brutas. A guerreira estaria retornando na manhã seguinte para a o reino de Hybern, deixaria sua esquadrilha para trás, uma vez que de acordo com o monarca: suas habilidades eram necessitadas em outro lugar e também era preciso colocar suas prioridades no lugar, e seu retorno a ilha faria exatamente isso.
Remexendo sob as cobertas de sua cama, se assustou no momento que a vibração de batimentos cardíacos atingiu-lhe. Esmeray sabia que qualquer que fosse a criatura detentora de tal órgão não podia estar em nenhum lugar a não ser dentro de sua tenda. A medida que os batimentos se tornaram mais nítidos e fortes, quase possibilitando que os escutasse, Esmeray discretamente alcançou sua espada, sacando-a de forma abrupta, apontando-a para a direção que tinha a impressão que o ser se encontrava, deixando claro que sabia que havia alguém presente, cometendo apenas o erro de evidenciar que não conseguia enxergá-lo. O que mias uma vez, a deixava vulnerável.
Sentia a mudança de movimentação do indivíduo, apesar de não escutar indícios de passos ou ver sombras mínimas que deveriam estar presentes pela iluminação fraca do luar. A guerreira sabia que estava em desvantagem naquela escuridão, qualquer brecha em sua estancia defensiva poderia ser fatal. Sua canhota trabalhava agilmente em busca da luz feérica que possuía sobre a cabeceira de sua cama, apalpando as vigas de madeira em sua extensão em busca de uma sensação metálica. Ela tinha a completa certeza de que qualquer que fosse o seu oponente, assistia sua busca desesperada, achando-a completamente patética. Assim que o metal gelado entrou em contato com as pontas de seus dedos, os batimentos se tornaram mais acelerados. Ela teria que ser rápida. Esmeray levantou o seu braço em direção a lamparina, mas ao deixá-lo desprotegido, dedos o envolveram e ela caiu em uma completa escuridão. A fenda de luz de sua tenda despareceu, sentia uma brisa gelada contra sua pele, incapaz de enxergar qualquer coisa sequer, apenas tendo a certeza que estava sendo transportada.
Sequer percebeu que seus olhos estavam completamente serrados durante uma considerável extensão do percurso, até a claridade atingir suas pálpebras. Antes mesmo que conseguisse se acostumar com a luminosidade do local, uma mão firme e calejada a empurrou. Seus joelhos atingiram um objeto com força, as juntas não aguentaram e dobraram, fazendo com que caísse sentada, no que julgou ser uma cadeira. Tudo estava acontecendo com tamanha velocidade que não conseguia organizar seus pensamentos e sentidos para traçar uma estratégia de ataque, ou qualquer ação que pudesse resultar em seu escape. Um grunhido de dor escapou-lhe os lábios com o puxão de seus braços para a arte traseira do encosto, seus pulsos sendo acorrentados em seguida. Havia algo encantado na corrente que a prendia, Esmeray estava desesperada buscando pelo seu poder, seu último recurso para se livrar da captura, mas não havia indícios dele além de uma força incontrolável puxando-o para baixo, deixando-o escondido em algum lugar inalcançável.
Já acostumada com as tochas presentes no local, suas orbes castanhas percorreram as paredes escuras e o chão pedregoso, não estava em Hybern, isso era um fato, mas a ambientação era demasiadamente familiar. O soar de passos finalmente chamou sua atenção e Esmeray virou lentamente na direção do som e no momento em que avistou o sifão azul cobalto brilhando, um terror atingiu-lhe o corpo, ela não poderia estar de volta àquele lugar horrendo, naquela cidade repugnante, em posse daquela corte sem dignidade. Uma risada maldosa soou, ecoando pelas paredes e ela soube que o iliriano havia sentido o cheiro de seu medo e Esmeray se xingou mentalmente por mais um descuido. Eles haviam aumentado consideravelmente desde que retornou a Prythian.
- Vocês vão pagar por isso.- Esmeray disparou, sua voz firme como usual e o seu olhar felino e feroz direcionado a Azriel, que em momento algum, desde que tiveram seu primeiro encontro na batalha demonstrou qualquer tipo de receio direcionado a ela, o que apenas a enfureceu ainda mais.
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A Court of Lies and Storm- Azriel | acotar
FanfictionAs vezes a vingança cega os verdadeiros propósitos de suas ações. As vezes é preciso deixar o passado para trás e colocar seus valores em jogo para sobreviver. As vezes aqueles que mais te fizeram mal tem o máximo a te oferecer. E por fim, as vezes...