Nossa chegada ao acampamento não foi bem recebida. Poucos haviam retornado ao local, o que era um claro indicativo que havíamos deixado o campo de batalha antes do necessário e pelo olhar da realeza, sabiam que seria mais útil para nossos objetivos que eu permanecesse em meio a carnificina. Mas nada daquilo importava, não quando Jaden estava a minutos de sangrar até sua morte se não fosse atendido imediatamente por um curandeiro ou talvez até mais de um. Os ferimentos do macho eram extensos e profundos, cada grunhido de dor que ele emitia fazia com que um arrepio percorresse minha espinha. Era um som tão tremendamente familiar e ao mesmo tempo novo que temia qual seria a minha resposta a próxima vez que o escutasse.
- Você deveria ter me deixado lá.- Sua voz saiu como um sussurro mínimo apesar de todo esforço que estava por fazer, machucado, chateado, com o seu ego ferido. Seus olhos azuis se levantaram em minha direção, eu conhecia aquele olhar e sabia que não receberia muito cedo um agradecimento por tê-lo salvado a vida.- Deveria...
- Calado.- O cortei impaciente.
Já sabia o discurso que ele iria me dar, sobre ser o que estava destinado a fazer, morrer, que eu havia o desonrado ao intervir no embate, que havia nos exposto e nos tornado alvos fáceis. Falaria também que eu havia abandonado o campo de batalha e isso poderia muito bem ser encarado como traição por parte do Rei, mas também sabia que não seria morta por isso, julgada com certeza. Nunca passaria de palavras jogadas ao vento.
- Cuidem desse ingrato e, por favor, tentem fazer com que ele fique vivo para que da próxima vez eu possa deixá-lo no campo para morrer.- Pedi aos curandeiros assim que cheguei na enfermaria, mantendo meus olhos no macho apenas para ver a culpa tomar conta de suas feições antes de me retirar.
Assim que pisei fora da tenda improvisada, fora como se o ar preenchesse meus pulmões pela primeira vez desde que saímos da Corte Estival. Conseguia sentir o frescor e a densidade que a Corte Primaveril emanava, a terra ainda úmida, provavelmente resultado de uma chuva recente, e o aroma floral vindos dos jardins exuberantes. Aquele lugar era lindo, disso não havia dúvidas, a personificação de abundância e prosperidade, mesmo que se deixassem de lado a paisagem, veriam que tudo não passava de uma fachada e por algum motivo, isso apenas me enraivecia mais.
A movimentação do acampamento já não era tão tranquila como quando chegamos, as tropas haviam retornado após a derrota, os soldados gravemente feridos estavam sendo direcionados a enfermaria, enquanto os que permaneciam, de certa forma, inteiros auxiliavam uns aos outros com a bandagens. Nossos números haviam sido diminuídos consideravelmente, haviam retornado talvez um pouco mais de 1/3 dos militares designados ao ataque. Obviamente que se tratava apenas de uma batalha de reconhecimento, para compreender melhoro funcionamento das cortes e suas relações, além de claro o seus combatentes, principalmente Rhysand e seu batalhão, que por algum motivo o Rei detinha total certeza que apareceria nas terras estivais e mais uma vez, ele não estava errado.
-Esmeray!- A voz rouca de Alatar, um macho alado de cabelos loiros cacheados e feições marcantes, chamou e uma irritação instantânea tomou-me o corpo.
Deveria estar grata vê-lo vivo, era um de nossos melhores combatentes e um general excepcional, sua perda significaria uma desestruturação sem igual do terceiro batalhão. Contudo, infelizmente, seu bom senso e cordialidade não equiparavam sua habilidade e estratégia militar, e com a dor muscular e exaustão que agora se faziam presentes em meus membros, ter que lidar com os comentários importunos do macho era a ultima coisa que desejava.
- O que quer, Alatar?- Fiz questão de deixar evidente a impaciência e cansaço que sentia em meu tom.
-Ora, isso é jeito de cumprimentar alguém que acabou de chegar de uma batalha?- Ele me direcionou um olhar incrédulo fingido, fazendo com que revirasse os olhos quase instintivamente.- Eu podia ter morrido.
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A Court of Lies and Storm- Azriel | acotar
FanfictionAs vezes a vingança cega os verdadeiros propósitos de suas ações. As vezes é preciso deixar o passado para trás e colocar seus valores em jogo para sobreviver. As vezes aqueles que mais te fizeram mal tem o máximo a te oferecer. E por fim, as vezes...