A procura por segurança

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 Júlia andou pela margem do rio até se sentir segura para sair da água, escondia assim seu rastro e já na floresta pegou do bolso de sua calça um pouco de pimenta silvestre misturada a manjericão que mesmo molhados disfarçavam seu cheiro humano, passou a mão pelo seu cabelo curto e ajeitou-o, continuou seguindo, ela não queria que os grandes cães dos captura a encontrassem isso seria seu fim. Viu a pequena elevação a sua frente e caminhou por mais algumas horas , a vegetação ali era menos densa e ela não tinha grandes dificuldades de locomoção.

Subiu a pequena elevação montanhosa com cuidado para não fazer algumas pedras se deslocarem, denunciando sua localização, sentou-se em uma pedra maior perto do cume da montanha e viu o sol se pôr. Era lindo se não fosse perigoso olhá-lo por muito tempo, a noite muitos animais caçavam e ela deveria estar segura em sua pequena caverna. A garota guardava o que daria para levar emergencialmente, caso algum invasor aparecesse, ela entrou na caverna olhou tudo ao redor e sentou-se no chão, procurou algo para comer na mochila e achou algumas frutas e com seu pequeno canivete partiu-às, teria que economizar porque não sabia onde estava àquela criatura fosse lontra ou ariranha ela estava perto e ela era muita, mas muito rápida mesmo. Ao lembrar-se das últimas horas estremeceu, passou água nas mãos para tirar o cheiro das frutas, ela não queria virar uma isca ambulante, o cheiro adocicado das frutas era chamativo para os animais. A caverna era escura mas ela sabia onde estava cada coisa, por ser pequena era fácil de achar seus poucos objetos.

Deitou e cobriu-se com uma grande jaqueta, começou a esfriar e ela sentiu além do frio o peso da solidão. Naqueles momentos lembrava-se de casa, do calor acolhedor e das comidas quentinhas e gostosas que sua mãe colocava na mesa, depois de lavar as mãos e chamar o pai, ela podia comer. Uma lágrima teimou em descer e ela ignorou, seu sonho era se tornar uma matadora de monstros e com esse sentimento de vingança e as lembranças dolorosas ela adormeceu.

Em um passado muito distante o dia apenas havia começado e ela saiu de casa pela manhã, contornou o cercado de galinhas e patos e estava indo dar comida para os coelhos, ela vestia um macacão jeans e camiseta rosa, usava seu tênis favorito e seu cabelo longo estava trançado, Júlia era de pele clara e seus cabelos eram negros, era magra e tinha algumas poucas espinhas no rosto o que a deixava muito zangada as vezes, sua mãe a tranquilizava dizendo que um dia elas desapareceriam, na época ela estava com apenas quinze anos. E era verdade porque seu rosto estava bem melhor que no ano anterior, caramba sua mãe sempre acertava, sorriu ao pensar nisso.

Julia brincou com seu cachorro que latia muito naquela manhã, o que será que o estava incomodando. Ela o amava, seu nome era Leão e ele não era assim tão raivoso, portanto o nome não fazia jus a sua personalidade canina. Ele lambeu suas mãos e chorou. Ela fez um carinho e rumou para o outro lado da pequena fazenda.

Ela notou que o cercado dos coelhos estava quebrado e eles haviam fugido, desesperou-se e começou a procurá-los, como podiam ter feito aquele estrago, ao andar percebeu que outras cercas estavam danificadas e percebeu que algum animal deveria ter feito aquilo, iria voltar para casa para falar com sua mãe quando ouviu o estrondo e tudo estremeceu ao seu redor, alguma coisa grande se aproximava do lado leste da pequena fazenda onde morava.

Ela se escondeu e ouviu que o que quer que fosse, vinha quebrando tudo, as cercas restantes, os alojamentos de materiais e chegava cada vez mais perto, Júlia olhou parcialmente oculta pelo alojamento onde estava escondida na lateral e abismada percebeu que eram um grande coelho branco, de tamanho surpreendente, patas gigantescas, ele era enorme e seu tamanho era bizarro provavelmente mais de quinze metros de altura e muito extenso em comprimento, ela iria correr para dentro de casa, mas estava longe e seu pavor aumentou quando sua mãe apareceu na porta com seu pai para ver o que ocorria, o coelho pulou em cima da casa e demoliu tudo em segundos, ele cavava parecendo procurar por algo e destruía tudo o que tocava, ela ficou atônita e paralisada, não conseguindo se mexer nem correr, percebeu que o coelho monstro, pois era isso que ela via, veio na sua direção e ela continuou imóvel, ele pulou por cima dela e foi embora, pulando e destruindo tudo por onde passava. Depois de alguns minutos ela saiu do transe em que ficou parada e correu para casa, o que encontrou foram somente escombros e ela começou a gritar:

- Mamãe, papai, onde estão vocês?

- Mamãe, cadê você?

- Papai onde você está?

Ninguém respondeu e ela passou a remexer os escombros, enquanto procurava suas lágrimas turvaram seus olhos, chegaram alguns vizinhos e a seguraram, ela se debateu em seguida desmaiou, acordou para saber que o pior havia acontecido, ela estava sozinha agora.

Júlia acordou num sobressalto e assustada, percebeu que ainda estava escuro, sentou-se e apoiou os joelhos de encontro com a barriga abraçando-os, mais um pesadelo assombrando novamente sua cabeça, não queria lembrar, precisaria esquecer para ficar forte, ela olhou para fora da caverna e viu o dia amanhecer lentamente e tudo começar novamente, havia dois anos que estava sozinha.

Ela tentou ficar com os vizinhos, mas outros animais gigantes apareceram no município onde moravam e tudo foi destruído, muitos vizinhos morreram e outros fugiram assim como ela.

Ela andou por muitos lugares junto com muitas pessoas, escaparam de serem devorados inúmeras vezes, alguns não tiveram tanta sorte, percebeu que sozinha e oculta ela estava mais segura. Largou os demais desabrigados e agora habitava a caverna pequena e de difícil acesso. Sua alimentação era constituída de frutas, não se atrevia a assar nada para não chamar atenção pela fumaça, mesmo que ela se aventurasse a pescar ou caçar, entregaria sua localização, então não precisava caçar nem pescar no momento e se virava como podia, a cidade mais próxima estava muito longe e ela tinha medo de se aventurar sozinha naquela direção, não conhecia a região urbana, então ficava na floresta, onde achava mais seguro e conhecia a região, seu habitat normal pois foi criada no interior do estado, conhecia bem a natureza, os animais e as plantas, sabia o que era bom e o que era venenoso. Conhecia facilmente trilhas e escolhia cavernas e grutas bem distantes e bem seguras. Orgulhava-se de fazer tudo sozinha, as opções comunitárias não foram bem sucedidas.

Há cerca de alguns meses atrás ela estava com um grupo de refugiados que foram atacados por um porco do mato gigantesco e a carnificina foi quase geral, poucos sobreviventes escaparam. O líder do grupo os havia levado inocentemente para um beco sem saída.

Depois disso, realmente ela preferia estar sozinha.

ENTRE OS MONSTROS - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora