O grande amigo

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 Os primeiros raios de sol iluminavam o dia que raiava e Julia estava a caminho do esconderijo de Ivan, chegou um pouco desconfiada e passou pelas rochas e pelo caminho sem dificuldade, afinal ela era ágil, isso facilitava, aliás se ele passava com sua grande estatura ela também passaria, ela só não sabia o que iria encontrar e se o cara era mesmo uma boa pessoa, mas ela iria testar e entrou com um canivete na mão direita.

Ele estava sentado numa espécie de pedra e sorriu quando ela chegou. Ele olhou o canivete e disse:

- Você não precisa disso aqui mocinha, sente-se você já conhece o local.

- Oí. – Ela disse meio encabulada e entrou de vez.

- Oi, você chegou a tempo do café da manhã, senta aí.- Ele apontou para outra pedra na extremidade do que parecia uma mesa montada com outras pedras. Julia em sua última visita não prestou atenção aos detalhes do abrigo e agora percebia que ele era muito ajeitado e organizado, possuindo várias peças ajustadas e outras reais e de uso doméstico.

- Eu quero me desculpar pelas coisas, pelos ham, enfim pelas coisas que eu peguei. - Ela falou meio atropelando as palavras.

- Tudo bem, mas na real só vou te desculpar se você limpar a louça suja depois. –Ele disse rindo e recebeu outro sorriso tímido de volta.

Eles comeram em silêncio uma mistura de suco de fruta com algo assado, ela achou que fosse algum pequeno animal porém não perguntou, fazia tempo que não comia nada assado.

Depois que ela limpou as canecas improvisadas e guardou-as em uma espécie de prateleira improvisada também, ela se sentou.

- Então a quanto tempo você mora aqui? Ela perguntou.

- Há algum tempo, talvez uns sete ou oito meses. - Ele respondeu sentando na pedra em que estava.

- E você não tem outro abrigo para uma eventual fuga?

- Porque você tem? – Ele olhou para ela admirado.

Ela se levantou e começou a mexer em alguns objetos colocados sobre outra mesa improvisada com gravetos e disse:

- Na realidade tenho alguns para emergências, você sabe os capturas.

- Aquelas abominações, se eu pudesse eu arrancava a cabeça deles um a um.- Ivan alterou a voz a mencioná-los.

- Nós podíamos fazer isso de vez em quando, mas.... - Julia disse e parou abruptamente.

- Mas? - Ele a olhou com uma expressão indagativa.

- Tenho poucas armas, quase nada e preciso treinar mais, muito mais para poder acabar com esses idiotas. - Ela proferiu a frase com um pouco de raiva e seus olhos se tornaram vermelhos de ódio.

- Minha experiência com canivetes e pequenas estacas podem ajudar você, eu uso também uma zarabatana.

- O que é isso? – Ela franziu a testa.

- Uma espécie de atirador de dardos envenenados, é um artefato indígena. Muito utilizado pelos nativos da Amazônia. E antes que você pergunte como eu tenho uma dessas, já informo que ganhei de um amigo indígena, gente bacana, bacana mesmo.

- Hum, e você pode me ensinar a usar uma dessas? – Ela perguntou mais que esperançosa.

- Talvez, vou pensar.

Os dois tinham muito em comum e esquecidos da civilização se tornaram grandes amigos. Como era de se esperar.

Os dias se passaram e a garota mudou-se temporariamente para aquele novo esconderijo. Ivan a treinava sempre que podia, outras vezes contavam com a ajuda um do outro para pescar e caçar, Ivan aperfeiçoou o modo de assar a caça ou a pesca sem chamar a atenção de grandes ou pequenos animais, ou pior dos capturas. Ele criou uma cavidade que lançava a fumaça para longe e dentro da água, assim o odor de comida assada não era descoberto pelos animais e capituras.

- Acredito que você engordou um pouco nestas duas últimas semanas. - Ele disse e riu da garota que estava comendo uma manga com sua boca toda suja, ela riu do comentário

- É, acho que sim e se eu continuar assim vou ficar estufada em pouco tempo.

Ambos riram e Júlia perguntou?

- Porque você está sozinho sem ninguém?

- Prefiro assim, a última vez que tive companhia foi um desastre, eu me atrapalhei com os sentimentos dela e ela foi embora. Isso foi antes das mudanças animalescas e eu preferi viver sozinho, logo em seguida aconteceu isso, eu sei que ela está em segurança e pra mim, isso basta.

- Você a ama?- Julia se interessou pela história do mais novo amigo.

- Não sei, esse é o problema. Mas vamos deixar de falar de mim e você porque está sozinha?

Júlia andou até o que seria um banco e sentou-se, depois de alguns segundos olhando fixo para o nada, ela falou:

- Meus pais foram mortos por um animal gigante, um coelho imbecil que destruiu nossa fazenda como se fosse de papel, ele também destruiu minha vida e eu vou caçá-los quando eu estiver preparada, vou acabar com todos eles, vou destruí-los, vou aniquilar todos, vou exterminá-los e eles vão desaparecer, eu prometo. – Júlia novamente colocou uma ferocidade nas palavras que seu rosto se transformou e ela parecia outra pessoa.

Ivan a olhou e percebeu que a raiva da garota era imensa, um ódio descomunal e ele acreditava que ela colocaria sua vida em risco devido aos seus planos.

- Ivan, você precisa me ensinar a mexer com canivetes, a estar preparada, por favor ! - Ela suplicava.

- Sim eu vou te treinar e te ajudar, mas...

- Mas?

- Você vai me prometer que sua vida e sua integridade estarão sempre em primeiro lugar, tudo bem?

- Não se preocupe, eu tomarei cuidado. Pode deixar. - Ela lançou para ele um olhar de agradecimento e ele pareceu concordar.

- Então, amanhã vou te levar a um lugar para você se armar. –Ivan estendeu a mão para Julia e ela selou o acordo com um forte aperto de mãos.

- Acho que vou te chamar de magrelo. - Ele colocou as mãos na cintura como era de costume e riu.

- Não sou magrelo. - Ela riu também.

ENTRE OS MONSTROS - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora