As semanas passavam e as sensações diminuíam, até o ponto em que a jovem estava entorpecida da cabeça aos pés, nem mesmo a dor causada pelas patas cruéis de Clarisse a incomodava mais. Suas lágrimas, isso quando vinham, eram um reflexo, já não carregavam mais significado ou pesar.
Todos sabem que as famílias reais são diferentes, mas não imaginam o quão parecidas podem ser às famílias da plebe. Vamos trabalhar com um exemplo, sim? Digamos que uma família está reunida diante da televisão, prestando atenção apenas na imagem e no som emitidos pelo aparelho. E digamos que uma pessoa desta família não quer prestar atenção no estúpido gameshow transmitido, pois este é repleto de preconceitos e desrespeitos, esta pessoa prefere mil vezes ler um livro ou quem sabe até escrever uma história.
Situação paralela à juventude de Gemma. O programa estúpido simboliza o governo de Desmond, ao que Anne é compelida a apoiar, e a pessoa diferente é a Styles mais nova, sendo seu livro os seus pensamentos diferentes e seus ideais, construídos com auxílio dos recém-criados jornais de esquerda da época, ela ficava feliz ao saber que mais pessoas não achavam aquele tipo de governo certo.
Porém, não demora muito até o pai puxar o livro das mãos da filha, o rasgar e segurar o rosto da moça, de modo que ela não pudesse ver mais nada além do péssimo programa, assim sendo obrigada a concordar com os ideais do mais velho.
As conversas com seu pai transtornavam a duquesa e gatilhavam algo que ela nem sonhava em conhecer. As sensações que surgiam a partir dos discursos de Desmond eram logo jogadas em um poço, o nível de água só subia e subia e subia e subia... Até transbordar.
E quando este ponto chegou, Gemma disparou até seu quarto, trancando a porta atrás de si. Os gritos de seu pai eram como faíscas sendo atiradas no barril de pólvora que era a cabeça da moça, prestes a explodir. Eventualmente, o mais velho cansou-se das pancadas na porta, deixando o quarto para trás com palavras que a Styles mais nova não conseguiu ouvir.
Daí em diante, a garota se sentia viajando, quase que na velocidade da luz, segurando uma luz que corria dela com toda a velocidade da luz, o que parecia certo de alguma forma.
Não havia segurança alguma, apenas a insegurança da incerteza, com perguntas e respostas surgindo espontaneamente e sumindo assim como chegaram. O barulho na cabeça já era demasiado alto, tantos gritos. As pessoas parecem gostar de gritar.
O barulho se torna raiva e raiva se torna luz, que causa um ardor que aos poucos deveria diminuir, mas não desta vez.
O coração, batendo acelerado.
Os olhos, queimando.
E de repente...
Tudo está quieto.
Como silêncio, mas não realmente silencioso. Apenas aquele tipo agradável de calma, como o som de quando se deita de cabeça para baixo, somente o som do coração na cabeça.
Os olhos da jovem, marejados, a mostraram algo que não estava lá, mas que parecia tão real... Seu maior desejo havia se realizado, a pessoa de quem ela tanto sentia falta estava ali, diante de si. Desesperadamente, ela levantou, correu até o "irmão" e o abraçou, mas o calor que havia ali era diferente, nada familiar. Era quase que... frio?
Não demorou muito até que ela percebesse que estava abraçando o ar. O que estava acontecendo?
— Harry?
[...]
Na manhã seguinte, ainda sem entender bem o que aconteceu, Gemma desceu arrumada para o café, sendo surpreendida pela presença de sua avó, sentada na cadeira que era geralmente ocupada por seu pai.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Duquesa Gemma Anne Styles
General FictionNa monarquia, nem sempre há muita liberdade para os nobres. Apesar de serem riquezas imensas, joias, ouro e dinheiro não trazem felicidade, principalmente vivendo em famílias como a família de nossa protagonista. Como Gemma vive em um ambiente tão...