As risadas das crianças pareciam a mais bela sinfonia que poderia existir em todo o mundo para os ouvidos de Barbara.
Alegravam tanto aquele recinto que pareciam até poder afastar os males da morte... Como um milagre de Natal. Tanta vida, tanta esperança, tanta fé concentrada nos olhares, nos sorrisos e nas risadas daqueles pequenos pedaços de gente, daqueles pequenos anjos sem asas, que Barbara não conseguiu evitar que lágrimas escapassem de seus olhos e deslizassem por suas bochechas frigidas.
Oh, era Natal e era graças ao Natal que as crianças sorriam tanto, riam tanto e se divertiam tanto. Porque elas possuíam o espírito natalino dentro de seus corações bondosos e tão puros, e o espírito natalino acalentava as dores, o sofrimento e o desespero.
Era Natal.
E não era como qualquer dia do ano...
- Boa noite, Meg! - Molly, que estava ao seu lado, cumprimentou a menininha que passava caminhando decidida logo na frente delas, carregando uma caixa enorme de lápis de cor, um bloco de folhas brancas e uma bengala de açúcar entre dentes.
- Boa noite tia..Mo...Molly -a pequena falou com dificuldade graças ao doce que estava em seus lábios e sorriu, parando em frente as mais velhas e olhando com curiosidade para Barbara. - Oi!
- Olá. - Barbara sorriu da cena e sentiu como Molly a instigava a acompanhar a menininha com o olhar.- Quer ajuda com tudo isso?
Barbara ajoelhou no chão para tirar um pouco do peso das mãos da menina, pegando o bloco de folhas e a caixa de lápis, vendo-a levar as mãos até a bengala de açúcar e mordê-la de forma graciosa.
- Obrigada! - Meg falou com um sorriso lambuzado.
-Não foi nada... Onde você quer que eu coloque tudo isso?
-Ali!-o dedinho rechonchudo de Meg apontou para uma mesinha colorida e baixa de criança no fim da sala.
-Então vamos...
-Até logo, Molly.
-Até logo. -Molly sorriu, não só por ver como Meg estava incrivelmente meiga com um laço vermelho prendendo os seus cabelos em uma trança e com o seu vestido de babados brancos, mas por ver como Barbara ganhara um pouco de... Vida.
Aquela cena fora especial. Uma garotinha que lutava contra a morte, mas que possuía vida nos olhos, dando um pouco de felicidade para uma mulher que não levava a morte consigo, mas que não possuia vida nos olhos... Milagres natalinos.Oh, sim, aquela não era uma data qualquer.
- O que você vai desenhar? - Barbara perguntou, aceitando o convite que Meg lhe fizera para sentar ali ao seu lado e cruzando as pernas, para ficar mais ou menos da altura dela.
- Eu vou escrever um livro. - Meg começou a apontar os lápis de cor, jogando as cascas que o apontador fazia dentro do lixo e enfileirando os lápis pela cor.
-E como ele vai se chamar?
-Eu não sei ainda.... Acho que só darei o nome no final. - sorriu ao ver que Barbara a ajudava apontar os lápis e estendeu uma bengala de açúcar para ela. - Quer?
- Eu não como... - parou de falar antes de completar a frase. Não comia doces há quanto tempo mesmo? - Ah, eu aceito.
- Estão uma delicia! - Meg pegou outra e levou a boca. - Tia L. disse que eu posso comer quantas eu quiser, se eu escovar os dentes depois... Mas vou comer bastante antes que o papi chegue, porque ele não me deixa comer muito chocolate...
- O seu pai está vindo? - Barbara perguntou, mordendo a ponta da bengala e sentindo como o açúcar era dissolvido em sua boca.
- Sim. Papai sempre passa o Natal comigo, mas acho que ele se esqueceu de comprar o meu presente esse ano, por isso deve estar procurando uma loja aberta ou coisa do tipo... Papai vive com a cabeça nas nuvens.
- E sua mãe? Ela não vira também?
- Não. - a feição de Meg não mudou, mas Barbara reparou que os olhinhos tão transparentes da menina ganhavam uma tonalidade apática. - Minha mãe abandonou papai e eu quando descobriu a minha doença... Papai disse que ela foi embora porque tinha deixado de amá-lo, mas eu escutei quando papai contou para
tia Lara e o tio Arthur que a minha mãe nos deixou porque não suportaria passar por tudo o que o papai passa por mim......A naturalidade com que Meg conduzira as palavras fez com que Barbara sentisse que conversava com uma pessoa mais velha,de trinta e tantos anos, e não com uma garotinha de... Quando anos Meg deveria ter?
-Eu amo muito o meu papi. - Meg acrescentou, fazendo Barbara sair de seus devaneios. -Ele é um bom pai, mas eu estou preocupada..
-Não deveria ser ao contrário, querida? - Barbara afagou-lhe os cabelos. - Você é apenas uma criança, ele que deveria se preocupar com você... Se você está sendo uma boa filha, se está comendo todos os vegetais, se está indo dormir na hora certa..
-Eu sou uma boa filha. - o sorriso banguela de Meg outra vez foi desenhado em sua boquinha em forma de coração. -Tia Lara me chama de pequeno presente de Deus e papai disse que nunca poderia pedir uma filha melhor do que eu -sua voz cheia de orgulho e adoração, não só pelo pai, mas também pela tia. - E eu me preocupo com papi porque agora ele trabalha demais... E quando não está no consultório, está aqui no Hospital.... Tio Arthur uma vez disse que papi teve muitas... Muitas... -enrolou a lingua, fazendo uma careta e suspirando frustrada. - Esqueci da palavra, tia...
- Barbara Passos.
-Tia Babi. - Meg logo acolheu-a com um apelido. - O que eu quero falar, Tia Babi., é que eu me preocupo muito com papai porque o que acontecera com ele quando eu partir?
- Meg, - Barbara, em choque, tentou pronunciar alguma frase que quebrasse o peso daquela frase: - você não...
- Tia Babi, eu sei que eu vou morrer e eu não tenho medo disso. Quando eu for embora aqui da Terra, vou me juntar com o papai do céu e então eu serei a estrelinha do papi... Quero sempre brilhar para ele, até nas noites mais escuras... Mas eu não quero que o papi fique sozinho, entende? Papi precisa de alguém... Nem que seja um cachorrinho de estimação. - fez uma pausa e entortou o nariz. — Mas papi não pode ter um cachorrinho de estimação... Ele tem alergia a pêlos. - e sorriu depois, como se achasse algo divertido. Pegou um lápis de cor e começou a rabiscar numa folha em branco. - Você vai passar o Natal aqui, Tia Babi?
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𝐌𝐀𝐊𝐄 𝐀 𝐖𝐈𝐒𝐇
Fanfic"Querido papai Noel, Eu sei que fui uma boa garota esse ano porque papai disse para mim que eu me comportei como uma verdadeira princesa... Tomei todos os remédios que a tia Molly, a minha amiga enfermeira aqui do Hospital pediu para eu tomar, e olh...