Tempo de Espera

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Para Chris aquele mês havia passado tão lento quando as gotas de chuvas que escorriam sob a janela de seu carro. Ele literalmente havia se isolado de tudo e todos. A família tinha um chalé próximo as montanhas de Massachusetts e era lá que ele estava se escondendo do mundo. 

Via o tempo passar como quem aguarda a morte. Doloroso e sem um band-aid para tampar o buraco dentro de si. A solidão havia se tornado parte dele e mais do que um simples sumiço por alguns dias, tornaram-se semanas e após o primeiro mês, Chris já não via tanto motivo para voltar a vida real. 

Considerou a hipótese de voltar várias vezes mas foi incapaz, cada vez que entrava no carro, ficava por horas lá dentro tentando criar coragem e desistia, voltando ainda mais frustrado para sua bolha de solidão. A única vez que criou coragem, dirigiu até conseguir encontrar Mia que estava em um pequeno parque junto de Alice. Chris ficou por horas observando as duas de longe, se segurando para não correr e agarrar as duas em seus braços. 

A única coisa que preenchia o ambiente era a risada de Alice em uma gravação que passava o dia todo em sua televisão. Quando ela aprendeu a soltar a risada de bebê Chris deu sorte por estar com o celular gravando e aquilo se tornou seu tesouro, assim como várias gravações de Mia. Ele assistia a todas, o dia todo. A saudade macerava seu coração. A falta que Mia e Alice faziam em seus dias era incomensurável. 

Quando finalmente decidiu dirigir até o centro, pela segunda vez, foi para buscar algumas coisas no mercado mais próximo. O boné em seu rosto e os óculos escuros tampavam as olheiras fundas e escuras, resultado de noites mal dormidas e muito whisky. 

Em meio a tantas prateleiras, pegou somente o essencial para dar o fora logo dali e voltar para sua bolha. Mas, foi incapaz de se mexer ao capitar um som que conhecia muito bem. A risada da filha. A risada que ele passava o dia todo ouvindo. Procurou por todos os lados e não a viu, começando a achar que estava delirando. Chris balançou a cabeça como se quisesse espantar aquele pensamento e voltou a pegar o que precisava e, mais uma vez a risada soou por seus ouvidos. 

Dessa vez mais próxima. 

- Não acredito que você esteja rindo para um saco de ervilha. 

Aquela voz que embalava seus sonos em noites no sofá soaram pelos ouvidos de Chris. A mesma voz que era extremamente apaixonado. Erguendo o olhar mais uma vez, viu Mia no outro corredor, com Alice no carrinho. Seu rosto tinha um pequeno curativo branco e Chris se perguntou o que teria acontecido. Fitou Alice que o encarava e ria. Como se ela soubesse que Chris estava ali. 

Sem comandar o cérebro, Chris se viu caminhando em direção as suas garotas. Só se deu conta do quão estava perto ao sentir o cheiro de bebê que embalava aquele corredor. Os olhos de Mia estavam concentrados em alguma lata e Chris se direcionou a garotinha que assim que o viu, ergueu os braços e sorriu ainda mais. Como um bebê pode se lembrar tão bem de alguém? Pensou. Um alguém que não fazia mais parte de sua vida. 

- Precisa de ajuda? - a voz de Mia soou perto. 

Chris se virou e encarou a mulher que arregalou os olhos quando percebeu quem estava a sua frente. Seus olhos de espanto deram espaço para as lágrimas e um soluço de dor escapou por seus lábios assim que uma lágrima escorreu por sua bochecha e atingiu o curativo em seu rosto. 

- O que aconteceu ai? - perguntou Chris, só se dando conta segundos depois que seu pensamento havia saído por sua boca. 

- Um pequeno acidente. - murmurou Mia.

Chris assentiu, seu olhar se direcionou a Alice novamente. Ela ainda sorria para ele. Num movimento ele voltou a encarar Mia e como se lesse seus pensamentos, a mulher assentiu. Com um suspiro, Chris se aproximou do carrinho e pegou Alice em seu colo, a embalando em um abraço cheio de saudade, sentindo a solidão lhe dar tchau e ir embora. 

Pais por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora