Caminhos que se Afastam

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— Comprou a tinta com que dinheiro? – Questiona Maximilian, sentando-se ao lado de Jane sobre a grama e permitindo que seus braços se tocassem no processo. Alec estava logo à frente, em pé e recostado numa imensa árvore.

— Gastei o dinheiro de Volterra – comenta despreocupadamente. Seus dedos estavam vermelhos devido ao uso do spray, e ele ainda não tinha descoberto como faria para limpá-los, visto que era a primeira vez em sua existência que precisou usar tinta.

— Eu pensei que, a essa altura, o cartão roubado já estaria cancelado...

— Deveria estar. Heidi costuma ser excepcional em seu trabalho. Algo deve estar acontecendo em Volterra para gerar tamanho descuido... – Emenda Jane casualmente, fazendo Alec pressionar levemente os lábios diante de sua teoria.

Depois de caminharem o restante da noite em direção a Dover, os vampiros buscaram refúgio na reserva natural de Randall Wood, que ficava no meio do caminho, um local seguro para se esconderem da luz do sol e caçarem, se houvesse necessidade.

O lugar era calmo e agradável, dando a Alec a sensação de já ter feito aquilo antes, de apreciar a natureza e a forma com que os raios solares penetravam os galhos das árvores. Ele caminhou lentamente em direção a um desses fachos de luz, estendendo a mão para ela e observando a forma como refletia em sua pele imortal.

Em Volterra, tal comportamento era proibido, mas ali, no silêncio e na tranquilidade de Randall Wood, Alec contemplou a beleza de sua pele com muita atenção e, por apenas alguns segundos, ele compreendeu o motivo dos Cullens viverem à sua própria maneira, junto aos humanos e fazendo coisas que antes pareciam triviais: a existência em liberdade era muito mais interessante que as penumbras do castelo Volturi.

Com mais um passo, o vampiro posicionou o rosto sob o facho de luz, fechando os olhos para sentir o calor do sol, instintivamente pensando nos detalhes de seu complexo plano. Sua atenção logo se voltou para as pontas dos dedos manchados de tinta. Sua última pista para Renata fora deixada no Big Ben, e agora os seus caminhos se afastavam ainda mais, sem que ele tivesse a certeza de que ela o seguiria.

Por um momento, Alec se perguntou se estava fazendo a coisa certa, se realmente importava deixar uma trilha quando não havia a certeza de sua vinda. E se, apesar da vontade, Renata não tivesse coragem para fugir? E se ela não viesse? O único a fazer um voto foi ele; a escudeira nunca prometeu nada...

— Que droga eu estou fazendo, afinal? – Questiona em pensamento, sentindo-se meio idiota por fazer tudo aquilo, por se dedicar e gastar tanta energia mental naquele minucioso plano. Uma parte de sua mente estava chateada com a possibilidade de fazer tudo aquilo em vão, com a chance de Renata nunca aparecer.

— O que pensa em colocar na próxima pista? – Pergunta Maximilian, retirando-o de seus devaneios. – Achei isso tudo bastante curioso, toda essa coisa de fazer uma trilha... Você é mais inteligente do que parece, pequeno Alec.

— É claro que sou! Não sou um certo alguém, cujo plano genial foi entrar no clã mais poderoso do mundo sem saber nada sobre ele; e depois retornar diante dos líderes mesmo sendo jurado de morte, só para se gabar que estava levando sua vampira favorita embora.

— Ha, ha, ha, muito engraçado! – Resmunga o camaleão vagarosamente, entendendo a referência e fazendo Alec soltar uma risada nasalada. Jane também sorri, lembrando-se daqueles momentos com exatidão, apesar de não ter achado graça quando tudo aquilo aconteceu. – E então? O que colocará na próxima pista? – Reforça a pergunta.

— Versos de um poema – responde vagamente, perguntando-se se precisava mesmo haver uma próxima pista e até quando deveria deixar um rastro de sua passagem. Em breve, a pista do Big Ben se perderia para sempre, o início de seu rastro esfriaria e nenhum esforço a partir disso geraria resultado.

Coração Gelado 2Onde histórias criam vida. Descubra agora