A Pista do Big Ben

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Renata caminhava por entre as árvores de Box Hill, sentindo uma sensação estranha crescer em seu peito, quase como se fosse explodi-la de dentro para fora. Depois de horas e mais horas de uma corrida frenética, de cruzar parte da Itália e um pedaço gigantesco da França, de atravessar o Canal da Mancha a nado e consumir quase toda a sua energia e o seu estoque de sangue, ela finalmente chegou à Inglaterra.

Fora impossível fazer todo esse trajeto em apenas três horas – tempo que lhe restava até o Sol nascer e tornar a sua presença em público extremamente chamativa –, e um refúgio em território francês teve de ser providenciado às pressas. No entanto, pouco antes do anoitecer, quando o Sol estava baixo o suficiente para que a vampira voltasse a se locomover, ela seguiu em frente.

Após atravessar o canal e pisar nas terras inglesas, Renata efetuou a primeira caçada de sua vida de liberdade, recuperando suas forças e ganhando um novo conjunto de roupas, algo menos chamativo que seu vestido ao estilo vitoriano – afinal, não era como se a bonita mulher que matou fosse precisar delas.

Jeans e camiseta, junto a uma jaqueta de couro preta. Depois de passar tantos anos com os Volturis, vestindo apenas o que eles consideravam apropriado para demonstrar o seu poder, Renata estava finalmente vestindo uma roupa "comum". E, apesar de ter amado a jaqueta e de ainda calçar suas botas italianas, ela ficou incomodada com o quão agarrada uma calça jeans poderia ser, sentindo como se todo mundo estivesse olhando para a sua bunda – mesmo que não houvesse quase ninguém na rua àquela hora.

Ali estava ela agora, em Box Hill, a apenas alguns passos de seu destino. A carta de Alec jazia no bolso da jaqueta, embolada e molhada pelas águas do Canal da Mancha, mas, ainda assim, inteira.

— Será que eles já perceberam a minha fuga? – Pensou ela, ajeitando os cabelos bagunçados com as mãos enquanto se aproximava da casa de Maximilian, imaginando o momento em que Heidi ou Santiago foram convocá-la para o banquete daquela manhã, batendo na porta de seu quarto repetidas vezes até resolverem abrir por conta própria, não encontrando ninguém. – Sim, é claro que eles notaram.

Conhecendo ambos os vampiros como conhecia, talvez tivessem gasto alguns minutos procurando por ela antes de finalmente espalharem a notícia de seu desaparecimento e a ciência de sua fuga chegar até Aro.

— Ele certamente ficou furioso – concluiu ainda em pensamento, sentindo o corpo travar ao perceber o significado de suas palavras, ao constatar que ela não era Alec ou Jane, que os Volturis não a temiam como aos gêmeos e que, acertadamente, Aro ordenaria uma caçada por ela.

Pensando nisso, Renata acelerou o passo e bateu à porta para indicar sua chegada. Achar aquela residência não tinha sido tão difícil, pois assim que colocou os pés naquele bosque, suas narinas captaram rastros leves de vampiros por entre as árvores, sendo um deles o cheiro inconfundível de Alec, que a conduziu diretamente à construção.

A vampira bateu na porta novamente, ansiosa, mas nenhuma luz foi acesa do lado de dentro, tampouco se via ou ouvia qualquer sinal de presença ali. Ela forçou a maçaneta com a mão direita, constatando que a porta estava destrancada.

— Demorei muito – sussurrou para si mesma, ao entrar na casa e perceber que ela estava vazia, que Alec não estava mais ali. Os vampiros haviam ficado ali por tempo suficiente para que seus aromas impregnassem a residência, e isso a enchia de frustração, pois estava no lugar certo na hora errada. – É claro que ele não estaria aqui, sua idiota, a carta foi entregue há dias...

Sentindo a decepção e o medo acertarem seu corpo como um soco, Renata encostou-se contra a parede mais próxima, tentando digerir o fato de que seu protetor havia partido sem ela e que, provavelmente, a Guarda Volturi já estava em missão para rastreá-la. Seus olhos vermelhos avaliaram toda a sala, detendo-se na mesa de centro, que continha uma folha dobrada ao meio com o seu nome escrito em letras garrafais. Ela avançou, ajoelhando-se frente à mesa, apanhando o bilhete e o abrindo rapidamente.

Coração Gelado 2Onde histórias criam vida. Descubra agora