Desejo.

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Mais uma consulta. Mais um dia naquele lugar onde todos me olhavam com pena. Mais uma vez minha mãe chacoalhando as pernas em uma ansiedade e esperança por algo impossível.

Havia tanto tempo que eu já tinha entendido que, de uma hora para outra, eu já não estaria mais aqui. Que eu estaria abraçando a morte depois de um gentil convite, era doce a sensação de saber que todo meu sofrimento acabaria. Não teria de tomar mais nenhum remédio e me submeter a exames como se eu fosse um rato de laboratório, como se por minha causa fossem definitivamente achar a cura e outras pessoas não teriam o mesmo destino que eu.

É cruel da minha parte dizer que eu não me importava muito com os outros? Se sim, então eu era muito mal, afinal... tudo que eu podia deixar para o mundo era meus sentimentos ruins e minhas palavras melancólicas, já que diferente de todos, não tinha a mínima perspectiva de vida. Gostaria inclusive de pedir desculpa para quem estiver lendo meu diário agora, eu sei que não é um momento muito bom para falar isso, mas se você tem esse objeto em mãos, significa que eu parti. Mas deixemos isso para depois.

"Senhor Park, por favor." O médico nos chamou.

Me levantei lentamente, sentia meu corpo tremer um pouco, nos dias que íamos falar com o Dr. Choi, não podia tomar minhas vitaminas por causa dos exames, então ficava fraco como uma gelatina. Minha mãe me ajudou a andar até a sala branca e bem sofisticada, nada lá era muito chamativo, a não ser pelo lustre de cristais brilhantes, eu passava quase o tempo inteiro olhando para ele, nada mudava, nunca tive melhora, logo não prestava muita atenção nas instruções do mais velho.

"É ótimo ver vocês de novo." Óbvio, você praticamente tem todo o dinheiro da minha família em mãos. "Mas eu receio que não tenha boas notícias..." Pela primeira vez em alguns meses, parei para ouvir de verdade o que ele tinha a dizer. "Pelos exames de agora, o senhor Park tem... no máximo... um dia de vida..."

Minha mãe caiu em um choro desesperador, o médico tentava consolar ela de todas as maneiras que podia, porém ela simplesmente parecia inconsolável.

"Como pode dizer isso pra uma mãe?! Como pode?!" Ela batia nele com força, todavia, eu sabia que não era o suficiente para fazer ele solta-la depois de a prender em um abraço. "Faça algo! Ele é meu filho, por favor, faça alguma coisa!"

Fui obrigado a rir. Eu era filho dela, mas e daí? Por um momento não se passou na cabeça dela o quanto eu sofria? O quanto aquela doença literalmente estava me matando a cada segundo? Eu literalmente precisei de ajuda para andar de tão fraco e dependente que fiquei nos últimos anos. Se eu era egoísta, então minha mãe, pai e todos que desejavam que eu ficasse vivo eram tanto quanto.

Me levantei ignorando minha mãe que gritava e esperneava como uma criança birrenta que tinha quebrado o brinquedo favorito e fui lentamente em direção ao elevador, todos tentavam acalmar ela e no máximo duas pessoas falaram comigo, irônico né? Assim que apertei o botão do andar que estava, minha outra mão do direto ao meu número de emergência no celular, o único que funcionava de verdade.

"Alô! Jimin! Tá tudo bem?" A voz aveludada e preocupada do outro lado da linha me tirou um sorriso.

"Está... mais ou menos." Falei calmamente, minha cabeça não estava a plenos pensamentos. "Você... pode me buscar no consultório? Minha mãe dando piti. Provavelmente desmaiou agora, quero ir pro teatro."

Quando o elevador abriu me segurei nas paredes para pegar do meu bolso um pano que sempre levava comigo, a tosse veio logo em seguida, o sangue vermelho como as flores que cultivava brilhava como o esmalte de unhas da minha progenitora.

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⏰ Última atualização: Jan 29, 2022 ⏰

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