Capitulo 1

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Parece que, de uns tempos pra cá, toda vez que um filme romântico acaba, naquela cena habitual do beijo ou do casamento, você sabe, com a música épica, os sinos tocando e a coisa toda... eu me pergunto: "Tá, e agora?". Eu não sei o que há de errado com o mundo, ou se é só em Hollywood mesmo, mas por qual motivo a história acaba quando começa? Quero dizer, a parte legal está só mesmo no período em que se conhecem, e quando casam é tudo tão previsível que não vale a pena ser mostrado?

Olho para a televisão, vejo os créditos subindo a tela, e imagino a continuação de Laura e Max, os protagonistas da história. Ela está em casa, passando roupa, e ele, vendo futebol. Os dois saem com os amigos. Vão dormir. Acordam todos os dias e vão trabalhar. Eles compartilham a vida, mas ninguém quer assistir a um filme sobre isso. Bom, a não ser que tenha tiroteios, zumbis, ele se torne um agente secreto ou ela arrume um amante. Coisas assim.

— É claro que eu entendo que a rotina não tem emoção, mas o que isso quer dizer? - Balanço o controle remoto. -  Que vamos nos sentir entediados com quem conhecemos há muito tempo? E que todos os casamentos estão falidos dês do dia em que começaram, por isso não vale a pena mostrar quão chato é ver o declínio de um romance extremamente excitante no início?

- MÃÃÃE, A CAMILA TÁ FALANDO SOZINHA DE NOVO! - grita Sofia, minha irmãzinha de cinco anos, pronta para tomar conta da televisão.

Suspiro. Levanto-me do sofá, mudo para o canal de desenhos e deixo Sofia se entreter com algum dos cartoons malucos de hoje em dia. Aqueles com um monte de personagens geométricos coloridos que gritam mais do que falam, bem diferente da minha "geração Rei Leão". Subo para o meu quarto, porque, afinal, Sofia está certa. Falar com Lucy é muito melhor do que falar sozinha. Tão logo chego, pego o celular e desço para o jardim, porque a gritaria dos meus pais discutindo no cômodo ao lado pela milésima vez abafa qualquer som.

- Não é como se você fosse casar com ela, Camz! - diz Lucy ao telefone. - São só seis meses, e vocês estarão morando com outra pessoa.

Estou deitada na grama, observando as nuvens. Uma delas se parece com o mapa da Europa.

- É, mas teremos nosso próprio quarto com cama de casal, ela vai ter que agir como uma mulher madura e tal, e eu vou ter que cozinhar, lavar roupa...

- Ah, amiga, não vai dar pra trás agora né? Ela precisa de você! Vai mesmo abandonar ela por seis meses e perder essa oportunidade de conhecer como é morar juntas?

- Hum. - penso nos próximos seis meses caso escolha ficar em casa. Sem faculdade, meus pais brigando, minha irmã pentelhando...

- Sem falar que vai ser bom para você descobrir o que quer fazer da vida -completa ela. - Antes trabalhar lá do que aqui, eu acho. Você só vai poder fazer vestibular no semestre que vem mesmo...

- Se eu fizer... - saliento. - Enfim, esse não é o ponto. Sei que a Itália vai me fazer bem, quero cair fora daqui mesmo. O negócio é a coisa toda do quase casamento...

- O que seus pais acham disso?

- Pretendo falar com eles hoje. Mas, cara, sou eu quem tem que decidir essas coisas, eles não podem me proibir. Vou fazer meu próprio dinheiro e já tenho uma poupancinha boa...

- Camila! - diz ela, e o fato de estar me chamando de "Camila" e não de "Camz", como sempre chama, me deixa consciente de que vem aí uma sacudida nos meus ombros, típicos de Lucy. - Eu sei que o divórcio deles está te afetando, mas, escuta, não deixe que isso te desiluda do amor, não, viu? Vocês duas são lindas, perfeitas uma para a outra, esses seis meses serão só mais uma prova de que você tinha razão quando me disse, logo depois do segundo encontro, que ela era quem você tinha procurado a vida toda. Você ainda acha isso não acha?

Amor em Roma - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora