Eu vim te ver

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Pov Guilherme

Estava inquieto, como se não conseguisse conter meus impulsos. Era ela. A dona de todos os meus pensamentos. Por muito tempo neguei a mim mesmo e me escondi pra não enxergar a realidade dos meus sentimentos por ela, vivia em um mundo confortável que achava ser real. Tudo ilusão.

Flávia me tirava todo o juízo que pensava ter construído nesses anos buscando ser perfeito. Ela me fazia questionar as minhas vontades e quem eu realmente era. Na verdade, a minha única vontade era ficar com ela, tentar decifrar o que tem por trás daqueles olhos negros que me alucinam.

Agora estava aqui, parado em frente a Pulp fiction, me perguntando se realmente era digno de entrar lá e tentar fazer com que ela me ouvisse, mesmo depois de tê-la magoado tanto, de ter feito pouco caso de seus sentimentos por conta do medo de finalmente ter algo real, como eu sabia que seria com Flávia. Sinto um nó na garganta.

Ameaço ir embora, mas então a vejo. Ela estava linda, com jeito único de ser, os cabelos bagunçados e a meia arrastão que eu tanto amo. Ela me olhou e senti tudo em volta desacelerar. Nunca me senti tão vivo como aqui encarando essa garota roubada, que me assaltou o juízo, a paz e principalmente o coração.

Fui tirado dos meus devaneios por uma Flávia muito séria, me encarando com certa curiosidade.

— O doutor se perdeu na Tijuca? — perguntou, abrindo um sorrisinho sarcástico.

— Eu vim te ver — respondi quase em um sussurro, estava sem ar.

Flávia, que antes parecia curiosa, agora me olhava com uma expressão que não conseguia decifrar, parecia me analisar.

— Posso saber a que devo a honra? Da última vez que nos vimos, você deixou bem claro que não me queria na sua vida. — Ela fala e posso vê uma chama de raiva se formando em seus olhos negros.

— Isso foi um erro, eu não queria ter falado aquilo. — O nó na minha garganta voltou e não consigo encará-la. Idiota, eu fui um completo idiota.

— Mas falou, e quer saber? Não vou ficar aqui parada esperando alguma explicação meia boca. Não temos nada e você deixou isso bem claro também. Se me der licença... — ela ameaça sair e em um impulso a puxo contra meu peito.

— Flávia, por favor não vá, me perdoa. Eu nunca quis magoar você. Será que não poderíamos conversar em outro lugar? Eu preciso falar com você. — Falo apressadamente, um tanto desesperado.

Estávamos tão perto que sentia seu perfume, que era inibriante e não podia evitar de olhar seus lábios rosados, que pareciam ter um ímã, mas me contive e elevei meus olhos ao encontro dos dela. Eu precisava consertar as coisas e tudo poderia ficar pior se não me controlasse.

Ela continuava com uma expressão que parecia me avaliar, mas em seus olhos vi que a raiva parecia ceder um pouco.

— Tá, você tem 1 hora. Eu preciso estar em casa cedo. — soltou seu braço de mim, mas continuou próxima. Esperava que fosse um bom sinal.

— Vem, vamos pro carro que eu vou te levar a um lugar. — falei, torcendo pra que ela não voltasse atrás.

Flávia andou calada até meu carro e dentro dele assim permaneceu. Eu lutava contra a vontade de parar o carro para observá-la, tentar entender o que estava se passando em sua cabeça. Lutava pra não tocá-la. Apertei o volante. Eu a queria tanto, como pude ser tão estúpido?

— Onde estamos indo? — ela indagou depois do que pareceu uma eternidade daquele silêncio.

— É surpresa. — olhei de relance pra ela.

Na verdade nem eu sabia direito pra onde estávamos indo. Queria mesmo é estender meu tempo com ela o máximo possível.

— Eu não gosto de surpresas. — Disse com a voz séria, mas vi um sorrisinho ameaçar nascer em seu rosto. Eu amava aquele sorriso e iria lutar por ele.

Dirigi por mais algum tempo e então parei o carro, estávamos no posto 6 e como estava quase amanhecendo, achei que seria perfeito, a vista era linda.

Descemos do carro e fomos andando lado a lado até perto do mar. O silêncio continuava, mas esse parecia confortável.

— Então, o que o doutor quer tanto me dizer? — Ela perguntou parando e parecendo me analisar novamente.

Não conseguia achar as palavras para o que eu deveria dizer. Eu simplesmente não conseguia saber como poderia me redimir de tantas burradas.

— Olha, se o doutor não tem nada a me dizer, estou indo. Tenho mais a fazer e já complicamos demais as coisas — Ela disse querendo se virar para sair, mas segurei de leve seu pulso.

— Flávia, por favor, eu preciso de você! Não suporto mais fingir que consigo viver ignorando esse sentimento que tá gritando dentro de mim. Eu nunca senti isso antes, não sei como agir e fui um completo idiota com você. Eu não quero te perder. Eu te amo. — Disse rapidamente e senti um alívio enorme.

Flávia me olhava espantada, mas vi sua expressão se suavizando e então seus olhos ficaram marejados.

— Guilherme, isso foi sério?

— Eu nunca falei tão sério na vida. Sempre me orgulhei de cuidar de tantos corações, mas na verdade não conhecia o meu e ele só me leva a você, Flávia. Você faz tudo parecer certo e eu quero ser certo por você. — Falei puxando Flávia pela cintura e colando os nossos corpos.

Então ela me beijou e pude sentir faíscas por todo o corpo, o mundo parecia não existir. Só ela e eu.

Nos separamos pra recobrar o ar e a vi sorrindo, tão linda. Ela estava iluminada pelos primeiros raios de Sol do dia, parecia um sonho.

— Você não sabe o quanto eu esperei pra ouvir tudo isso que você me disse. Eu também te amo, Guilherme. Você está marcado em mim, desde que te vi pela primeira vez naquele avião.

— Eu te amo tanto, roubada. — Confessei novamente com os olhos marejados assim como os dela.

Não resisti e a puxei pela cintura para mais um beijo. Esse tinha o gosto salgado de nossas lágrimas misturado com o doce da boca de Flávia. Poderia ficar ali para sempre, ela era meu lugar favorito no mundo.

The spark - Oneshots FlaguiOnde histórias criam vida. Descubra agora