Certezas necessárias

Prólogo

Foi uma noite difícil, o sono não deu o ar da graça. Sempre que fechava os olhos, visualizava algo que fazia meu coração doer em angústia. Não posso ficar aqui nem mais um minuto. Darei meu melhor ao meu povo, e isso terá de ser feito de perto.

Não arrumei mala alguma, fui falar com meu pai.

-Acordado a essa hora?
-Pai... Preciso ir. Toda essa dor... Preciso fazer algo a respeito, e preciso estar perto para isso.

Ele suspirou antes de responder:

-Vejo em seus olhos que realmente precisa. - ele sorriu de lado - na verdade, acho que eu sabia disso há uns tempos. Nossos corações são iguais, meu filho, e o meu também dói, mas eu não posso descer lá, embora estivesse disposta a mandar todo o meu exército para lá em ajuda... Porém, antes mesmo que eu pudesse falar com eles, meu melhor soldado se oferece. Sua missão será dura, meu filho.

-Eu sei, mas se eu tiver seu apoio, sei que consigo - solto um riso leve antes de completar -, Papai.

Ele sorri. Provavelmente também se lembrando de quando eu era criança e o chamava assim, sempre que o chamava assim, tinha muita certeza do que diria em seguida, sem dúvida alguma. Eu era uma criança muito assertiva.

-Meu apoio? Você o tem, assim como a tudo o que é meu.

Abracei meu pai, e sentamo-nos para discutir por que lugar eu começaria e outros detalhes. O tempo todo, meu pai não me olhava com dor, por saber que o filho iria numa missão sem ter data para voltar, mas me olhava com orgulho, um olhar que me dizia "você é verdadeiramente um príncipe, meu filho."

Depois de muitos tópicos já definidos, lembrei-me de um crucial: _Ela_.

Eu sempre soube que ela não estava entre as moças de onde nasci, mas saber que encontraria ela cara a cara pela primeira vez me empolgava de um jeito vívido.

-Está pensando nela?
-Sim... O que farei quando a encontrar? Conto da profecia logo de uma vez? Ou deixo isso por último? Conto das sensações e pergunto se ela sente o mesmo? - disparei a perguntar.

-Calma, calma... Vamos respirar fundo aí, meu filho. Uma coisa de cada vez. Lembra-se das frases da profecia?

Assenti em resposta, recitando em seguida a parte que até então havia sido revelada a mim:

" A pomba precisa de resgate
Sem saber, todos os dias vai para o abate
O príncipe deve descer ao reino dela e lutar com mansidão e firmeza
Por aquilo de que já tem certeza."

Eu conheceria a próxima parte quando chegasse a hora. Por enquanto, aparentemente, era disso que eu precisava saber, isso e uns poucos flashes que alguns sonhos (na verdade pesadelos) me mostravam. Mas eu estava prestes a mudar aquela paisagem.

Eu estava pronto. Despedi-me de meu pai, e fechei os olhos, não cheguei nem a contar até dois, antes de sentir o soco em meu nariz.