Prólogo

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O jovem lia a partitura com rapidez, os dedos deslizando e flutuando pelas teclas do piano como penas. Terminara a música com maestria, recebendo uma onda de aplausos assim que acabou.

Abriu os olhos. Tinha esse costume de fechar os olhos quando tocava, como se assim conseguisse transparecer suas emoções nas músicas melhor. Viu sua família orgulhosa e elogiando-o. Ele sorriu, sem saber o que dizer além de agradecer e forçar um sorriso natural.

Min-gi gostava de tocar piano e gostava de música, mas não lhe agradava a ideia de levar isso como se fosse obrigação. Ainda mais de acordo com o que sua família dizia: gostaria de vê-lo numa faculdade de música, com uma bolsa de estudos adquirida por seu "talento". Era um hobby, apenas. Uma forma de se divertir e ser ele mesmo.

A ideia que sua família tinha de torná-lo a próxima referência da música clássica o assustava.

Despertou de seus pensamentos quando ouviu sua mãe o chamando para jantar. Era uma das reuniões semanais de sua família e faltava apenas ele para comparecer à sala de jantar.

Tampou as teclas do piano e se dirigiu ao cômodo mais próximo, escutando burburinhos das conversas de seus parentes enquanto procurava um lugar para se sentar.

O jantar fora ótimo, apesar das vezes que seus parentes lhe perguntavam sobre seu futuro e seus pais respondiam, enquanto ele apenas sorria e concordava com a cabeça.

Sabia que talvez fosse covardia sua de não dizer a eles sobre o que sentia e o que queria para si, mas a essa altura, talvez fosse um baque grande demais. Tentava se convencer de que talvez não fosse algo tão ruim assim.

Ao terminar, ajudou a recolher a louça com sua mãe enquanto os outros parentes conversavam e riam.

- Não é maravilhoso, Min-gi? – sua mãe comentou enquanto recolhia os copos. O garoto a olhou com uma expressão confusa. – Você, na faculdade, com uma bolsa! Vai ser o orgulho da família.

Ele sorriu, sem graça. A mãe deve ter percebido sua expressão cabisbaixa e foi até ele, segurando seu rosto com ambas as mãos.

- Meu filho querido. Eu já tenho orgulho de você, sabia disso? Não precisa ficar assim! – ela sorriu e ele balançou a cabeça em um sim, sorrindo também. – Agora vá entreter os convidados, já devem estar chamando por você.

Seu resto de noite passou rápido. Conversou com seus parentes com as conversas que já tinha prontas na mente e com alguns outros podia até falar sobre outros assuntos que não envolviam faculdade nem estudos ou carreira. Se sentiu mais leve com isso.

Ao final da noite, após os familiares já terem ido embora, a casa já organizada e pronto para dormir, desejou boa noite aos pais do corredor e fechou a porta de seu quarto.

Se sentou na cama e pegou o celular. Checava o que seus colegas de classe faziam em um sábado à noite. Muitos pareciam estar festejando seja em casa ou em outros lugares. Sentiu um aperto no peito após lembrar que não tinha muitos amigos para compartilhar momentos assim. Deitou-se com um suspiro. Olhou para a janela que ainda estava aberta. A cortina balançava levemente com o vento e o céu estava limpo, com algumas estrelas a vista.

Uma ideia passou por sua mente. Se fosse outros dias, Min-gi apenas balançaria a cabeça, viraria para o lado e dormiria. Mas não era outros dias.

Escolheu uma roupa rapidamente e vestiu, se apoiando no parapeito da janela. Olhou para trás como se seus pais pudessem abrir a porta a qualquer momento, ou só mudasse de ideia.

Antes que qualquer uma das alternativas pudesse ocorrer, pulou para o telhado. Evitando o máximo de barulho, sentou-se e escorregou até a beirada, deixando o corpo cair e segurando pelas mãos. Quanto sentiu coragem suficiente, soltou e caiu. A queda não o machucara, até porque não era alta, mas o choque com o chão o fez, mais uma vez, notar o que estava fazendo.

Uma parte de si queria voltar e fingir que nada acontecera. Entretanto, a ideia de ser pelo menos um pouco "rebelde" enquanto a faculdade não chegava era mais forte. E então, correu para longe de casa.

Não queria pensar em mais nada. Deixou o vento balançar os fios do seu cabelo curto e o casaco que usava. Correu até alcançar a parte comercial e mais agitada do seu bairro, parando ao chegar e caminhando normalmente com as outras pessoas.

Varreu com os olhos as placas luminosas até encontrar aquilo que procurava. Atravessou a rua rapidamente e parou diante de um bar restaurante.

A maioria das mesas estava cheia com círculo de amigos e casais. Pessoas andavam para lá e para cá com seus copos cheios de cerveja e porções de frituras. Mas o que mais chamou sua atenção foi quem cantava no palco meio escondido em um canto do estabelecimento, com luzes vermelhas o destacando.

Usava um casaco de couro, uma camisa verde gola alta, jeans e tênis cano alto. Tocava uma guitarra vermelha e óculos da mesma cor. Conforme cantava, ele também tinha o costume de fechar os olhos.

Quando percebeu, Min-gi já havia entrado no lugar e sentado em uma mesa vazia para escutá-lo cantar e tocar.

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