Capítulo 1 - Dó (C)

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Assim que terminou, o garoto recebeu uma salva de palmas, incluídas as de Min-gi. Ele sorriu e se levantou do banquinho em que estava sentado para se curvar em agradecimento e logo em seguida agradecer no microfone.

O rapaz ansiava para que continuasse tocando, mas parece que chegara na hora do intervalo do outro. Ele apoiava sua guitarra na parede e sentava na beirada do palco, pegando sua garrafa de água para hidratar-se.

Suspirou. Sabia que tocar e cantar poderia ser cansativo, então apenas esperou.

Enquanto isso, observou as pessoas do bar. Pareciam felizes, como seus colegas nas fotos das suas redes sociais. Se perguntou se poderia haver alguém ali que o conhecesse. Não que fosse importante, até porque não tinha uma amizade muito próxima para dedurá-lo à sua família.

- Posso me sentar aqui? – Desviou seu olhar para olhar a pessoa que interagia com ele. Era o garoto cantor.

Ele assentiu com a cabeça, a voz não sendo capaz de sair da garganta. Tinha tantas perguntas a fazer a ele, mas nada disse.

O garoto a sua frente fez um sinal para um dos barman, que confirmou com a cabeça e voltou seu olhar para outros clientes.

Min-gi o analisou. Parecia ter a mesma idade que a dele.

- É novo na cidade? – o outro perguntou. Apoiava seus braços na mesa e se inclinava levemente para a frente. Parecia interessado em começar uma conversa.

- Não. Só nunca vim aqui.

- Pois deveria. Eles têm a melhor batata frita e cerveja da cidade. Eles também te dão um emprego, então é só vantagens. – Comentou e logo seu pedido viera. Exatamente como ele disse, uma porção de batata frita e dois copos de cerveja foram entregues ao dois e Min-gi agradeceu, enquanto o outro batia com o punho no do rapaz barman com quem se comunicara minutos antes.

O garoto logo pescou um punhado de batatas e colocou na boca, dando um sorrisinho satisfeito.

- Não posso beber. – Min-gi informou. Ainda não tinha idade. Não queria ser grosso, mas preferiria respeitar a lei.

- Nem eu! – O outro diz e ri levemente. – Mas e daí? É boa, e eles não vão te dedurar aqui. – Ele pega o copo e vira, tomando um gole generoso.

O jovem fica sem reação. Não sabe o que fazer. Ignora o copo de cerveja a sua frente e apenas mordisca algumas batatas.

- Qual seu nome? – o outro pergunta.

- Min-gi. – Conta.

- Ryan. Prazer, Min-gi. – Ele estica a mão limpa e sem a gordura de fritura para ele. Min-gi a aperta.

- Prazer.

Eles se mantêm em silêncio por uns minutos para comerem. Min-gi, então decidido, pega o copo de cerveja e toma um gole. Tem um gosto amargo, mas nada que já não tinha imaginado que o gosto pudesse ser. Além disso, preferiu acreditar nas palavras do outro sobre ser a melhor cerveja da cidade.

- O que achou? – Ryan pergunta, com expectativa.

- É... Boa, eu acho. – Diz, arrancando uma risada do outro.

- Ah cara. Você me parece tão certinho. Me diga, fugiu da casa dos seus pais para vir pra cá? – indagou, deixando o outro sem-graça. – Eu imaginei. – E pescou mais um punhado de batatas.

- Desde quando você toca? – Min-gi desviou de assunto. Não queria falar sobre isso agora, e provavelmente nem nunca.

- Uns oito, acho. – Disse ainda mastigando.

- Toco piano há dez. Sempre achei interessante tocar guitarra, mas minha família preferia o piano. – Enunciou, tentando manter a conversa natural.

- Foda... Ei, se quiser, vou tocar de novo amanhã. Toco todas sextas e fins de semana. Aí se quiser pode vir aqui pra aprender o básico da guitarra nesses dias.

- Ah não, não. Tudo bem... – Min-gi começou.

- Não, mas sério, não tem problema. Se quiser até te ajudo a fugir nos outros dias. Afinal você vai estar fugindo pra estudar, não é? Até que não é uma fuga tão ruim.

O rapaz se perguntou se o outro estava brincando ou se era efeito do álcool.

Não parecia nenhum dos dois.

Quando percebeu que o outro entrara em um dilema, Ryan continuou:

- Aqui, meu telefone. – Ele lhe estendeu um papel escrito um número de celular.

Min-gi parecia surpreso com o fato que ele escrevera o número tão rápido. Foi quando percebera que eles já estavam anotados.

- Pras paqueras. – Ryan se justifica naturalmente, fazendo Min-gi corar.

Não era uma paquera.

Min-gi, então, vira todo seu copo com a cerveja restante. Ryan arregala os olhos ao vê-lo tomando tudo de uma só vez.

- Preciso ir. – Ele confere seu bolso e faz uma expressão assustada. – Merda, esqueci meu dinheiro. Pode pagar pra mim? Fico te devendo.

- Já é por conta da casa, não se preocupe.

- Ah, certo. Obrigado. – Ele se vira para a saída e se volta para Ryan – Até. Eu te chamo por mensagem depois. – Avisa e o outro assente com a cabeça, e assim ele dispara pela noite.

Min-gi não queria ter bebido. Não devia ter feito isso. Era contra as regras. Todavia, uma parte de si estava feliz com o que ocorrera. Ele enfim estava sendo quem ele era.

Se recolheu para dentro de casa, dando um jeito de não fazer barulho e entrar pela janela de seu quarto. Feito isso, a fechou e desabou na cama.

Observou para o teto, recapitulando tudo que acontecera. Decidira, com um sorriso, que voltaria sim para lá no dia seguinte.

Pegou o celular do bolso e o papel também. Adicionou Ryan aos seus contatos.

Feito isso, se virou e dormiu.

Seus dias enfim, agora tinham um motivo para ser empolgantes.

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